quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Corra, Fêfa, corra!!

Aqui vai um causo especial de fim de ano!

Muita gente gosta de fazer retrospectivas nessa época. Tem muita coisa interessante, inspiradora, legal mesmo de se ler. Mas a grande maioria não passa de uma coletânea sem sentido, tão inspiradora como aquela coleção de “slides” que o tio centenário adora mostrar para qualquer visita que apareça na casa dele. 

E sabem que, pelos causos que já postei, gosto de tudo, menos de coisas entediantes, certo?

Então vou fazer uma coisa diferente. Vou focar em uma coisa que marcou o meu ano e explorar, como sempre, o lado “perrengue” da coisa. Afinal, este é um blog de perrengues, certo?

E o tema do causo de hoje é corrida!

Sempre tive problemas para correr, mas este ano finalmente eu “desencantei”. E tudo graças a três, digamos assim, quesitos: a minha infinita cara de pau, a valiosa ajuda de uma amiga de pedal e uma assessoria esportiva cuidadosa. Hoje, quem diria, sou uma corredora!

Bom, daquele jeito, né? Mas eu consegui amealhar um número razoável de medalhas de corrida desde outubro, olhem só:



Ouço algumas risadinhas de desdém? Sei que não há esporte mais... hum... natural de se praticar do que a corrida. Afinal, a humanidade está batendo perna por aí há milênios, geralmente tentando salvar o próprio derrière das garras de algum animal selvagem. Mas corrida nunca foi algo natural pra mim.

Quando eu era criança, a minha mãe dizia:

- Filha, corre!

E eu só conseguia andar mais rápido. Minha mãe não se conformava. Ela, que praticava atletismo e basquete no Clube Regatas Tietê, tinha uma filha que não conseguia correr!

Bom, pelo menos aprendi o basquete... mas isso fica para outro causo.

Nunca tinha participado de uma corrida, ou treinado seriamente o esporte. E aqui entra o primeiro quesito que me tirou da inércia e me colocou pra correr: minha infinita cara de pau! Sem parar para pensar, eu me inscrevi para uma corrida de 5 km, patrocinada pelo McDonalds.

Agora realiza a dimensão da coisa: nunca tinha corrido nem 5 minutos direto na esteira, onde eu estava com a cabeça de participar de uma corrida de 5 km, sem qualquer treinamento?

Pensa na apuração das notas das escolas de samba: Quesito cara de pau: nota... dez!

No dia anterior à corrida, postei no Facebook a foto da minha camiseta da prova, com o meu número de peito, anunciando o meu primeiro provável prodígio no mundo das corridas. E aí as coisas começaram a tomar um rumo inesperado.

Quem comentou o meu post foi a minha colega de pedal Luciana, dizendo que iria participar também e que me encontraria lá.

Pensei: putz, agora entrei bem!

Explico. A Lu é fera no pedal, o que chamamos de “rodão”. Sobe qualquer parede de bike, tem uma forma física invejável e fôlego de sobra. Eu só imaginava: como vou conseguir acompanhar tamanho pique? Vai ser um desastre!

No dia da prova, cheguei cedo para me familiarizar com o ambiente, totalmente novo pra mim. Era uma corrida só de mulheres, o que me lembrou do tempo em que eu estudava em colégio de freiras só para meninas.

É... meu passado é uma caixinha de surpresas! 

Enquanto aguardava o início da corrida, a Lu me mandava mensagem pelo WhatsApp. Iria me esperar para corrermos juntas. E eu naquelas... aiai, vou atrasar a vida da mulher, vai ser pior do que a famigerada “Subida da casinha” de bike em São Francisco Xavier (isso também dá um causo à parte).

Como ela se dispôs a me esperar, fiquei sem graça de não dar as caras. Fui ao encontro dela que, toda animada, me disse que estava começando nas corridas também. Eu expliquei que era a minha primeira prova e não queria atrapalhar o desempenho dela. Na minha cabeça, eu certamente a atrasaria, e não queria fazer isso.

Primeira medalha conquistada na parceria!
Mas aí ela me surpreendeu: disse que queria companhia para a corrida, e que faria a prova toda ao meu lado!

Aí senti o peso da “responsa”: iria correr com uma fera na bike, teria que suar para manter o ritmo. Mas como diria o Vicente Matheus, “quem está na chuva é pra se queimar”, né? Bóra correr!

Iniciamos a prova, e a Lu sempre ao meu lado. Conversamos durante o percurso, e recebia o incentivo dela todo o tempo. Fizemos as subidas, as descidas, e mal paramos para a hidratação. Pegamos nossos copos d’água em movimento e continuamos a prova.

Confesso que, no início, deu uma vontade louca de parar. As coxas começaram a queimar, o fôlego começou a faltar. Mas não fiz isso, graças ao incentivo da Lu. E assim foram passando pelas placas que marcavam a quilometragem.

Muitas coisas passavam pela minha cabeça conforme avistava as placas. No primeiro quilômetro:

- Aff, vou parar, não vai dar!

No segundo:

- É agora que eu morro!

No terceiro:

- Hum... interessante... ainda não caí dura no chão...

No quarto:

- Ah, agora vou completar essa bagaça!

Na linha de chegada, cinco quilômetros depois:

- “Véeei, num cridito!! Cheguei!!”

E que se dane a cronometragem. Era preciso registrar esse momento histórico!

Pois é, cheguei! Cansada, mas inteira! E graças a Luciana, minha parceira de corrida!

Quesito “valiosa ajuda de uma amiga de pedal”: nota... dez!

Finalmente, consegui mandar para as cucuias meu bloqueio mental para correr, e decidi investir no esporte. 

De que forma? Buscando uma assessoria especializada. No meu caso, escolhi a www.serativo.com, pois conheço a proprietária, Juliana: é outra amiga que pedala (muito) e oferece, pela empresa, treinamento de corrida e caminhada.

Comecei a correr três vezes por semana, duas no Ibirapuera e uma na esteira. Estou aprendendo a pisada correta, fazendo exercícios funcionais, treinando tiros (não com armas de fogo, como meu pai pensou quando contei a ele) e a redução no tempo foi substancial: comecei a correr 5 km em 43 minutos, hj já corro em 33. Em menos de três meses!

Quesito “assessoria esportiva cuidadosa”: nota... dez!

Agora sou uma corredora neófita no “admirável mundo novo” das corridas de rua. As pessoas que já estão nesse meio há mais tempo sequer devem notar o que vou relatar agora. Mas o mundo das corridas têm suas bizarrices. Muitas mesmo. E da mesma forma que observei as peculiaridades de um banheiro feminino de academia, observo o que acontece nos bastidores de uma prova de corrida.

Eis o que tenho observado sobre esse “admirável mundo novo”:

1.     Qualquer um pode participar de uma prova

Literalmente. Pessoas de todos os tipos, idades, propósitos e acessórios. Tem aquele gordinho que quer sair do sedentarismo: estrebucha, mas não desiste; a mulher que corre empurrando o carrinho de bebê ladeira acima (dá canseira só de olhar); o que vai com o cachorro (alguns têm até a camisa do evento!); o cadeirante que não tá nem aí para a deficiência e dá um show; o idoso que só agora decidiu correr, para desespero do cardiologista, e por aí vai. É um espaço democrático que aceita qualquer um que consiga se deslocar do ponto A para o ponto B, mesmo que isso crie um paredão que te obrigue a correr em zigue zague. Quer correr em linha reta sem impedimentos? Vá para o pelotão de elite. Ah, não tem fôlego para isso? Então vai no zigue zague mesmo, e bóra se divertir!

2.     Reparar no tênis que a galera usa é uma atração à parte

Aqui faço um paralelo com a bike. Sempre digo que o ciclista “rodão” pedala com qualquer bike, mesmo que seja uma “Barra Forte”. Para os corredores, é bem parecido. Como essas corridas-festivais de fim de semana tem muita gente da categoria “coxinha” (eu, inclusive), o povo adora investir no equipamento, muitas vezes esquecendo o básico, treinar a corrida! Então o sujeito usa o tênis super-hiper-mega-blaster-radioativo, que promete impulso suficiente para o usuário entrar em órbita, por “módicos” R$ 1000,00. Uma pechincha! Só que na primeira ladeira o suposto atleta simplesmente “arrêia”. Tem que fazer como a minha amiga Sabrina e seu estilo espartano de corrida: se não tem tênis, vai descalça mesmo. E a mulher corre muito!

3.     Provas mais concorridas são como uma convenção circense, cheias de tendas

Às vezes até acho que vou dar de cara com o show do Johnny Blaze, o Motoqueiro Fantasma, saltando por aneis de fogo. As empresas de assessoria esportiva disputam no tapa um espaço para montarem seus puxadinhos e oferecerem “briscroks” para os alunos. O legal é observar o aquecimento dos corredores de cada tenda. Alguns professores dão uns exercícios tão mirabolantes que fico na dúvida: o povo vai correr ou fazer um teste para o Cirque du Soleil?

Isso sem falar nas tendas vips. Oferecidas por patrocinadores e organizadores do evento, podem disponibilizar comida à vontade e banheiros privativos. Tem até massagista de plantão! Algumas são de acesso público, basta esperar na fila. Mas quanto melhor a boca livre, mais restrito é o acesso. Em uma tenda dessas consigo entrar, pois faço parte do Clube O2, mas já fui posta pra correr de outras por seguranças que, indiretamente, me perguntavam: “você é a famosa quem?”, no melhor estilo Alberto Roberto. Como sou uma ninguém, tinha que pegar o meu banquinho e sair de fininho...

4.     Tem gente que adora expor o corpo bem torneado a qualquer custo

Mulheres com shorts “atochados no rêgo”, tops com decotes dignos da Elvira, a Rainha das Trevas, ou homens exibindo a barriga tanquinho correndo descamisados (bom, desses eu não reclamo). Tem de tudo. Mais um pouco e vai ter gente fantasiada de Globeleza correndo atrás dos seus 15 segundos de fama. Ainda mais se der para aparecer no Fantástico, né? O supra sumo da glória televisiva!

5.     Tem mulher que corre com camadas de pancake no rosto

E blush. E rímel. E batom. E tudo o que tem direito. Não dá pra entender: quem em sã consciência vai correr com maquiagem pesada? Tem mulheres que usam mais pancake pra correr do que o Michael Jackson usava para ser filmado em alta definição!

O pior é a mulher que exagera no blush. Não sei se a pobre coitada levou uma chinelada na cara, está com uma grave reação alérgica ou está fazendo uma singela homenagem ao Bozo. E depois da corrida, estão todas com as caras derretidas, como se fossem bonecas saídas de um incêndio no museu de cera. Um verdadeiro filme de terror!

6.     Alimente-se corretamente antes da prova... ou pague o preço!

Descobri isso da pior maneira possível: passando perrengue durante a prova.

Confesso que nunca tinha passado por algo parecido no ciclismo. Já comi praticamente de tudo antes de pedalar e nunca tive problemas. Mas para correr... véi, na boa: o negócio pode ficar realmente punk! E não tem como usar eufemismos aqui, falo de uma famigerada crise de diarreia.

Ah, agora riu, né? Mas realiza a cena: eu lá, serelepe e pimpolha correndo ao som de “Carruagens de Fogo” e vem aquela vontade incontrolável e fulminante de fazer o número 2. Só que não tem qualquer banheiro pelo caminho e dar aquela “agachadinha” atrás do poste não é uma opção. Sem uma moita decente por perto, e aquela sensação de que todo mundo está de olho em cada movimento seu, como resolver isso?

Resposta: suando frio. Literalmente. Ou então correndo/andando de lado, feito caranguejo, para tentar segurar a onda. Ou fazendo das tripas coração para que seu derrière não vire um gêiser digno de Yellowstone. Na última corrida que tive esse “probleminha”, diminuí o tempo em quase dois minutos apenas para chegar mais rápido a um banheiro! Tudo para não borrar as calças e pagar não o mico, mas o King Kong (versão Peter Jackson) do ano.

Bom, pelo menos eu descobri o que desencadeia essa “caganeira sem fim” no meu organismo: leite. Nunca, mas nunca mais mesmo, tomo leite antes de uma prova!

7.     Atleta de fim de semana precisa ganhar medalha

Basquete, natação, ciclismo, futebol, corrida, estudo.
Ano que vem tem mais!

É a “Lei de Mutley”: medalha, medalha, medalha! Eu obedeço cegamente a essa lei. E se for do tamanho de uma pizza brotinho, melhor ainda. Quanto maior, mais impressionante fica no meu quadro de medalhas.

É gostoso ganhar uma recompensa pelo seu esforço durante a corrida. É como um “atestado de sucesso”: completei a prova, não importa se for caminhando ou correndo. Cruzei a linha de chegada e a medalha prova isso, fechei um ciclo. Pode até soar poético, mas no fundo é pura viadagem. Corredor de verdade vai na pipoca, sem medalha, ou corre em qualquer lugar, pelo prazer da corrida. Mas eu adoro esse incentivo e até arranjei um penduricalho para colocar as minhas medalhas. Estão todas lá, na parede do escritório, pra quem quiser ver.

8.     Atleta de fim de semana precisa de um kit

Eu me refiro ao kit pré-prova, geralmente composto por camiseta e número de peito. Nos kits básicos mais generosos, pode vir um boné, um squeeze ou uma toalhinha de alta absorção pós-prova. E a medalha, claro!

Mas aí não basta o kit básico. Tem o kit vip, o plus, o blaster, e assim por diante. Dá para incluir mochilas de ginástica, de hidratação, jaquetas e qualquer tralha com o logo da corrida.

E como se não bastasse pagar um absurdo por esses kits vips, tem a criatura que usa toda a parafernália de uma vez durante a corrida. Devem pensar que mostrar que compraram o kit vip “agrega valor ao camarote”, né? Mas realiza: uma prova de pífios 5 km e o sujeito corre de mochila de hidratação. Gente, são só 5 km, tem postos de hidratação durante o percurso, precisa mesmo correr com um penduricalho às costas? Ah, mas se estiver escrito “Circuito das Estações” é fashion! Sinceramente, é algo além da minha compreensão.

9.     As corridas são muito caras para a estrutura que oferecem

Isso vale para a maioria das provas. Cobram uma fortuna por um kit furreca e uma alimentação de legionário. E percebo que o problema é mais grave nas provas de maior prestígio. Afinal, quem não quer correr a São Silvestre, por exemplo? Mas o que me contam (pois ainda não tenho fôlego para 15 km) é que o kit dessa prova é pífio, com uma camiseta de algodão e uma medalha chinfrim. Mas é São Silvestre, então o corredor se submete aos preços abusivos para se enquadrar à “Lei de Mutley”. Ou aparecer na Globo!

Tem as exceções, claro. Corri o Caminho da Paz e, por módicos 20 reais ganhei um belo kit, uma medalha do tamanho de uma esfiha aberta do Habib’s e desfrutei de uma bela infraestrutura. Mas nem tudo é perfeito, claro! Olhem só o tamanho da maçã que deram para nós. Achei que fosse uma cereja!


10.     Temos mais amigos corredores do que imaginamos           

Nossa última corrida do ano. Percurso completado e quilos eliminados!
Depois que comecei a correr, descobri que tenho muitos amigos que praticam o esporte. Eu nem desconfiava que alguns corressem (como a Luciana, por exemplo). Parece que me foi desvelada uma sociedade secreta que, no entanto, é pública e notória: estava na minha frente o tempo todo, só que não percebia. Com isso, em quase todas as corridas acabo encontrando gente conhecida, quer seja do pedal, do bairro, do trabalho ou da academia. Experimente começar algo diferente, vai acabar recebendo muitas mensagens de amigos com a frase “ei, eu também faço isso”!


Essa acaba sendo a melhor parte de se começar algo diferente. Compartilhar momentos de alegria (e perrengues) com os amigos, experimentando coisas novas ao invés de vegetar no sofá. E se puder fazer algo que te ajude a entrar em forma e melhore a saúde, melhor ainda!

Desejo aos amigos e leitores do blog um maravilhoso natal e um ano novo repleto de novas realizações... e calorias queimadas!

Bom dia, pessoal!


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