Aqui vai um causo especial de fim de ano!
Muita gente gosta de fazer retrospectivas nessa época. Tem
muita coisa interessante, inspiradora, legal mesmo de se ler. Mas a grande
maioria não passa de uma coletânea sem sentido, tão inspiradora como aquela
coleção de “slides” que o tio centenário adora mostrar para qualquer visita que
apareça na casa dele.
E sabem que, pelos causos que já postei, gosto de tudo,
menos de coisas entediantes, certo?
Então vou fazer uma coisa diferente. Vou focar em uma coisa
que marcou o meu ano e explorar, como sempre, o lado “perrengue” da coisa.
Afinal, este é um blog de perrengues, certo?
E o tema do causo de hoje é corrida!
Sempre tive problemas para correr, mas este ano finalmente
eu “desencantei”. E tudo graças a três, digamos assim, quesitos: a minha
infinita cara de pau, a valiosa ajuda de uma amiga de pedal e uma assessoria
esportiva cuidadosa. Hoje, quem diria, sou uma corredora!
Bom, daquele jeito, né? Mas eu consegui amealhar um número
razoável de medalhas de corrida desde outubro, olhem só:
Ouço algumas risadinhas de desdém? Sei que não há esporte
mais... hum... natural de se praticar do que a corrida. Afinal, a humanidade
está batendo perna por aí há milênios, geralmente tentando salvar o próprio
derrière das garras de algum animal selvagem. Mas corrida nunca foi algo
natural pra mim.
Quando eu era criança, a minha mãe dizia:
- Filha, corre!
E eu só conseguia andar mais rápido. Minha mãe não se
conformava. Ela, que praticava atletismo e basquete no Clube Regatas Tietê,
tinha uma filha que não conseguia correr!
Bom, pelo menos aprendi o basquete... mas isso fica para
outro causo.
Nunca tinha participado de uma corrida, ou treinado
seriamente o esporte. E aqui entra o primeiro quesito que me tirou da inércia e
me colocou pra correr: minha infinita cara de pau! Sem parar para pensar, eu me
inscrevi para uma corrida de 5 km, patrocinada pelo McDonalds.
Agora realiza a dimensão da coisa: nunca tinha corrido nem 5
minutos direto na esteira, onde eu estava com a cabeça de participar de uma
corrida de 5 km, sem qualquer treinamento?
Pensa na apuração das notas das escolas de samba: Quesito
cara de pau: nota... dez!
No dia anterior à corrida, postei no Facebook a foto da
minha camiseta da prova, com o meu número de peito, anunciando o meu primeiro
provável prodígio no mundo das corridas. E aí as coisas começaram a tomar um
rumo inesperado.
Quem comentou o meu post foi a minha colega de pedal
Luciana, dizendo que iria participar também e que me encontraria lá.
Pensei: putz, agora entrei bem!
Explico. A Lu é fera no pedal, o que chamamos de “rodão”.
Sobe qualquer parede de bike, tem uma forma física invejável e fôlego de sobra.
Eu só imaginava: como vou conseguir acompanhar tamanho pique? Vai ser um
desastre!
No dia da prova, cheguei cedo para me familiarizar com o
ambiente, totalmente novo pra mim. Era uma corrida só de mulheres, o que me
lembrou do tempo em que eu estudava em colégio de freiras só para meninas.
É... meu passado é uma caixinha de surpresas!
Enquanto aguardava o início da corrida, a Lu me mandava
mensagem pelo WhatsApp. Iria me esperar para corrermos juntas. E eu naquelas...
aiai, vou atrasar a vida da mulher, vai ser pior do que a famigerada “Subida da
casinha” de bike em São Francisco Xavier (isso também dá um causo à parte).
Como ela se dispôs a me esperar, fiquei sem graça de não dar
as caras. Fui ao encontro dela que, toda animada, me disse que estava começando
nas corridas também. Eu expliquei que era a minha primeira prova e não queria
atrapalhar o desempenho dela. Na minha cabeça, eu certamente a atrasaria, e não
queria fazer isso.
Primeira medalha conquistada na parceria! |
Mas aí ela me surpreendeu: disse que queria companhia para a
corrida, e que faria a prova toda ao meu lado!
Aí senti o peso da “responsa”: iria correr com uma fera na
bike, teria que suar para manter o ritmo. Mas como diria o Vicente Matheus,
“quem está na chuva é pra se queimar”, né? Bóra correr!
Iniciamos a prova, e a Lu sempre ao meu lado. Conversamos
durante o percurso, e recebia o incentivo dela todo o tempo. Fizemos as
subidas, as descidas, e mal paramos para a hidratação. Pegamos nossos copos
d’água em movimento e continuamos a prova.
Confesso que, no início, deu uma vontade louca de parar. As
coxas começaram a queimar, o fôlego começou a faltar. Mas não fiz isso, graças
ao incentivo da Lu. E assim foram passando pelas placas que marcavam a
quilometragem.
Muitas coisas passavam pela minha cabeça conforme avistava
as placas. No primeiro quilômetro:
- Aff, vou parar, não vai dar!
No segundo:
- É agora que eu morro!
No terceiro:
- Hum... interessante... ainda não caí dura no chão...
No quarto:
- Ah, agora vou completar essa bagaça!
Na linha de chegada, cinco quilômetros depois:
- “Véeei, num cridito!! Cheguei!!”
E que se dane a cronometragem. Era preciso registrar esse momento histórico! |
Pois é, cheguei! Cansada, mas inteira! E graças a Luciana,
minha parceira de corrida!
Quesito “valiosa ajuda de uma amiga de pedal”: nota... dez!
Finalmente, consegui mandar para as cucuias meu bloqueio
mental para correr, e decidi investir no esporte.
De que forma? Buscando uma
assessoria especializada. No meu caso, escolhi a www.serativo.com, pois
conheço a proprietária, Juliana: é outra amiga que pedala (muito) e oferece,
pela empresa, treinamento de corrida e caminhada.
Comecei a correr três vezes por semana, duas no Ibirapuera e
uma na esteira. Estou aprendendo a pisada correta, fazendo exercícios
funcionais, treinando tiros (não com armas de fogo, como meu pai pensou quando
contei a ele) e a redução no tempo foi substancial: comecei a correr 5 km em 43
minutos, hj já corro em 33. Em menos de três meses!
Quesito “assessoria esportiva cuidadosa”: nota... dez!
Agora sou uma corredora neófita no “admirável mundo novo”
das corridas de rua. As pessoas que já estão nesse meio há mais tempo sequer
devem notar o que vou relatar agora. Mas o mundo das corridas têm suas
bizarrices. Muitas mesmo. E da mesma forma que observei as peculiaridades de um
banheiro feminino de academia, observo o que acontece nos bastidores de uma
prova de corrida.
Eis o que tenho observado sobre esse “admirável mundo novo”:
1. Qualquer um pode participar
de uma prova
Literalmente. Pessoas de todos os tipos, idades, propósitos
e acessórios. Tem aquele gordinho que quer sair do sedentarismo: estrebucha,
mas não desiste; a mulher que corre empurrando o carrinho de bebê ladeira acima
(dá canseira só de olhar); o que vai com o cachorro (alguns têm até a camisa do
evento!); o cadeirante que não tá nem aí para a deficiência e dá um show; o idoso
que só agora decidiu correr, para desespero do cardiologista, e por aí vai. É
um espaço democrático que aceita qualquer um que consiga se deslocar do ponto A
para o ponto B, mesmo que isso crie um paredão que te obrigue a correr em zigue
zague. Quer correr em linha reta sem impedimentos? Vá para o pelotão de elite.
Ah, não tem fôlego para isso? Então vai no zigue zague mesmo, e bóra se
divertir!
2. Reparar no tênis que a
galera usa é uma atração à parte
Aqui faço um paralelo com a bike. Sempre digo que o ciclista
“rodão” pedala com qualquer bike, mesmo que seja uma “Barra Forte”. Para os
corredores, é bem parecido. Como essas corridas-festivais de fim de semana tem
muita gente da categoria “coxinha” (eu, inclusive), o povo adora investir no equipamento,
muitas vezes esquecendo o básico, treinar a corrida! Então o sujeito usa o
tênis super-hiper-mega-blaster-radioativo, que promete impulso suficiente para
o usuário entrar em órbita, por “módicos” R$ 1000,00. Uma pechincha! Só que na
primeira ladeira o suposto atleta simplesmente “arrêia”. Tem que fazer como a
minha amiga Sabrina e seu estilo espartano de corrida: se não tem tênis, vai
descalça mesmo. E a mulher corre muito!
3. Provas mais concorridas são
como uma convenção circense, cheias de tendas
Às vezes até acho que vou dar de cara com o show do Johnny
Blaze, o Motoqueiro Fantasma, saltando por aneis de fogo. As empresas de
assessoria esportiva disputam no tapa um espaço para montarem seus puxadinhos e
oferecerem “briscroks” para os alunos. O legal é observar o aquecimento dos
corredores de cada tenda. Alguns professores dão uns exercícios tão
mirabolantes que fico na dúvida: o povo vai correr ou fazer um teste para o
Cirque du Soleil?
Isso sem falar nas tendas vips. Oferecidas por
patrocinadores e organizadores do evento, podem disponibilizar comida à vontade
e banheiros privativos. Tem até massagista de plantão! Algumas são de acesso
público, basta esperar na fila. Mas quanto melhor a boca livre, mais restrito é
o acesso. Em uma tenda dessas consigo entrar, pois faço parte do Clube O2, mas
já fui posta pra correr de outras por seguranças que, indiretamente, me perguntavam:
“você é a famosa quem?”, no melhor estilo Alberto Roberto. Como sou uma
ninguém, tinha que pegar o meu banquinho e sair de fininho...
4. Tem gente que adora expor o
corpo bem torneado a qualquer custo
Mulheres com shorts “atochados no rêgo”, tops com decotes
dignos da Elvira, a Rainha das Trevas, ou homens exibindo a barriga tanquinho
correndo descamisados (bom, desses eu não reclamo). Tem de tudo. Mais um pouco
e vai ter gente fantasiada de Globeleza correndo atrás dos seus 15 segundos de
fama. Ainda mais se der para aparecer no Fantástico, né? O supra sumo da glória
televisiva!
5. Tem mulher que corre com
camadas de pancake no rosto
E blush. E rímel. E batom. E tudo o que tem direito. Não dá
pra entender: quem em sã consciência vai correr com maquiagem pesada? Tem
mulheres que usam mais pancake pra correr do que o Michael Jackson usava para
ser filmado em alta definição!
O pior é a mulher que exagera no blush. Não sei se a pobre
coitada levou uma chinelada na cara, está com uma grave reação alérgica ou está
fazendo uma singela homenagem ao Bozo. E depois da corrida, estão todas com as
caras derretidas, como se fossem bonecas saídas de um incêndio no museu de
cera. Um verdadeiro filme de terror!
6. Alimente-se corretamente
antes da prova... ou pague o preço!
Descobri isso da pior maneira possível: passando perrengue
durante a prova.
Confesso que nunca tinha passado por algo parecido no
ciclismo. Já comi praticamente de tudo antes de pedalar e nunca tive problemas.
Mas para correr... véi, na boa: o negócio pode ficar realmente punk! E não tem como
usar eufemismos aqui, falo de uma famigerada crise de diarreia.
Ah, agora riu, né? Mas realiza a cena: eu lá, serelepe e
pimpolha correndo ao som de “Carruagens de Fogo” e vem aquela vontade
incontrolável e fulminante de fazer o número 2. Só que não tem qualquer
banheiro pelo caminho e dar aquela “agachadinha” atrás do poste não é uma
opção. Sem uma moita decente por perto, e aquela sensação de que todo mundo
está de olho em cada movimento seu, como resolver isso?
Resposta: suando frio. Literalmente. Ou então correndo/andando
de lado, feito caranguejo, para tentar segurar a onda. Ou fazendo das tripas
coração para que seu derrière não vire um gêiser digno de Yellowstone. Na última
corrida que tive esse “probleminha”, diminuí o tempo em quase dois minutos
apenas para chegar mais rápido a um banheiro! Tudo para não borrar as calças e
pagar não o mico, mas o King Kong (versão Peter Jackson) do ano.
Bom, pelo menos eu descobri o que desencadeia essa “caganeira
sem fim” no meu organismo: leite. Nunca, mas nunca mais mesmo, tomo leite antes
de uma prova!
7. Atleta de fim de semana
precisa ganhar medalha
Basquete, natação, ciclismo, futebol, corrida, estudo. Ano que vem tem mais! |
É a “Lei de Mutley”: medalha, medalha, medalha! Eu obedeço cegamente a essa lei. E se for do tamanho de uma pizza brotinho, melhor ainda. Quanto maior, mais impressionante fica no meu quadro de medalhas.
É gostoso ganhar uma recompensa pelo seu esforço durante a
corrida. É como um “atestado de sucesso”: completei a prova, não importa se for
caminhando ou correndo. Cruzei a linha de chegada e a medalha prova isso, fechei
um ciclo. Pode até soar poético, mas no fundo é pura viadagem. Corredor de
verdade vai na pipoca, sem medalha, ou corre em qualquer lugar, pelo prazer da
corrida. Mas eu adoro esse incentivo e até arranjei um penduricalho para
colocar as minhas medalhas. Estão todas lá, na parede do escritório, pra quem
quiser ver.
8. Atleta de fim
de semana precisa de um kit
Eu me refiro ao kit pré-prova, geralmente composto por
camiseta e número de peito. Nos kits básicos mais generosos, pode vir um boné,
um squeeze ou uma toalhinha de alta absorção pós-prova. E a medalha, claro!
Mas aí não basta o kit básico. Tem o kit vip, o plus, o
blaster, e assim por diante. Dá para incluir mochilas de ginástica, de hidratação,
jaquetas e qualquer tralha com o logo da corrida.
E como se não bastasse pagar um absurdo por esses kits vips,
tem a criatura que usa toda a parafernália de uma vez durante a corrida. Devem
pensar que mostrar que compraram o kit vip “agrega valor ao camarote”, né? Mas realiza:
uma prova de pífios 5 km e o sujeito corre de mochila de hidratação. Gente, são
só 5 km, tem postos de hidratação durante o percurso, precisa mesmo correr com um
penduricalho às costas? Ah, mas se estiver escrito “Circuito das Estações” é
fashion! Sinceramente, é algo além da minha compreensão.
9. As corridas são muito caras
para a estrutura que oferecem
Isso vale para a maioria das provas. Cobram uma fortuna por
um kit furreca e uma alimentação de legionário. E percebo que o problema é mais
grave nas provas de maior prestígio. Afinal, quem não quer correr a São
Silvestre, por exemplo? Mas o que me contam (pois ainda não tenho fôlego para
15 km) é que o kit dessa prova é pífio, com uma camiseta de algodão e uma
medalha chinfrim. Mas é São Silvestre, então o corredor se submete aos preços
abusivos para se enquadrar à “Lei de Mutley”. Ou aparecer na Globo!
Tem as exceções, claro. Corri o Caminho da Paz e, por
módicos 20 reais ganhei um belo kit, uma medalha do tamanho de uma esfiha
aberta do Habib’s e desfrutei de uma bela infraestrutura. Mas nem tudo é
perfeito, claro! Olhem só o tamanho da maçã que deram para nós. Achei que fosse
uma cereja!
10. Temos mais
amigos corredores do que imaginamos
Nossa última corrida do ano. Percurso completado e quilos eliminados! |
Depois que comecei a correr, descobri que tenho muitos
amigos que praticam o esporte. Eu nem desconfiava que alguns corressem (como a
Luciana, por exemplo). Parece que me foi desvelada uma sociedade secreta que,
no entanto, é pública e notória: estava na minha frente o tempo todo, só que não
percebia. Com isso, em quase todas as corridas acabo encontrando gente
conhecida, quer seja do pedal, do bairro, do trabalho ou da academia. Experimente
começar algo diferente, vai acabar recebendo muitas mensagens de amigos com a
frase “ei, eu também faço isso”!
Essa acaba sendo a melhor parte de se começar algo
diferente. Compartilhar momentos de alegria (e perrengues) com os amigos,
experimentando coisas novas ao invés de vegetar no sofá. E se puder fazer algo
que te ajude a entrar em forma e melhore a saúde, melhor ainda!
Desejo aos amigos e leitores do blog um maravilhoso natal e
um ano novo repleto de novas realizações... e calorias queimadas!
Bom dia, pessoal!
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