domingo, 28 de abril de 2013

Caiu de novo?


A inspiração do causo de hoje partiu de uma constatação incomum: há muito tempo não sofro uma queda.

Para mim, isso é completamente fora do normal. Sou uma pessoa desastrada por nascença. Já caí no chão, correndo atrás de ônibus, em buraco, da bike, de tudo quanto é jeito. Milagrosamente, só quebrei o cóccix até agora, no aerobunda de Natal (descrevi o mico no causo http://causosdafefa.blogspot.com.br/2013/02/ai-meu-fiofo.html). Mas tenho umas cicatrizes com histórias interessantes para contar.

Quando eu era criança, eu me machucava bastante. Na minha época, os pais não embalavam os filhos no plástico-bolha, como fazem hoje. A gente brincava na rua, ralava a pele no asfalto, na terra. Tínhamos mais liberdade, eram outros tempos.

Meus pais, como todos, não gostavam de me ver machucada. Levava broncas quando voltava para casa com alguma parte do corpo danificada. E eles tinham um meio bastante pedagógico para me desencorajar a me machucar: o famigerado Merthiolate. Quem foi criança nos anos 80 sabe, aquele treco ardia feito “cabra da moléstia”. Chegava a ser educativo, eu tomava mais cuidado às vezes só para escapar do Merthiolate.

Quando era realmente um acidente, meus pais eram bonzinhos e passavam mercúrio-cromo em mim. Mas quando estavam bravos...

- Vem cá, vou fazer o curativo – dizia a minha mãe.

Eu via a cara dela e já sabia. Lá vinha o Merthiolate.

- Mãe, passa o mercúrio-cromo, Merthiolate dói muito!

- Não, vai ser o MERTHIOLATE!

Socorro! Às vezes, quando me machucava, nem contava para os meus pais. Passava o que tinha à mão: sabão, um simples abanar de vento, ou então outra coisa que era um verdadeiro tiro no pé, a água oxigenada. A bocó aqui olhava, fascinada, enquanto o ferimento borbulhava ao entrar em contato com o produto. Ardia feito uma desgraça, mas as bolhas me distraíam.

Criança se distrai com cada porcaria...

Quando estava no pré-primário (na minha época era assim, como se chama hoje?), a minha escola sempre levava os alunos em excursões. Era difícil eu voltar de um passeio inteira. Sempre que o ônibus chegava, lá estava a minha mãe me esperando. A professora descia para encontrar os pais e logo falava:

- Foi tudo bem, só uma criança se machucou...

Era eu. Outro passeio:

- Tá todo mundo bem, mas uma criança caiu na lama e perdeu um pé do tênis...

Era eu. Mais um passeio:

- Ah, foi divertido! Só uma criança caiu de queixo no chão...

Era eu. E no passeio seguinte:

- Foi ótimo! Mas uma criança rasgou as calças no escorregador e voltou sem roupa...

Era eu!

Na adolescência, a minha sina continuou. Estava no colegial (hoje é ensino médio, certo?) e, em um mês, eu caí três vezes, machucando o mesmo joelho. Não deu mais para remendar a calça, tive que comprar um uniforme novo.

Certo dia, nossa turma fez uma prova de química em um sábado, e a matéria era bem extenuante. Estávamos trabalhando com o Diagrama de Pauling e aquela distribuição de elétrons: 1s2 2s2 2p6 3s2 3p6 4s2 3d6 e por aí vai. Não lembro para que serve, só sei que dava um trabalhão responder aos exercícios. Saí da escola meio atordoada, ainda pensando nas respostas, quando dei de cara, espetacularmente, com um poste! Caí sentada, feito uma pata choca, para a alegria dos meus colegas de turma. É, eu era realmente desastrada!

Eu sempre me interessei por truques de mágica, mas fazia alguns involuntariamente. O meu mais notório aconteceu em Ubatuba. Estava andando com a minha família, calmamente, quando eu simplesmente desapareci. Performance digna de David Copperfield. O que me aconteceu? Ora, caí num buraco! Era profundo e razoavelmente visível. Mas não para a minha visão além do alcance, certo? Levei um baita susto e, assim que me recuperei, comecei a pedir por socorro.

Minha família sequer pensou que os gritos fossem meus. Eu estava ao lado deles, certo? E a voz estava vindo das entranhas da terra, coisa sinistra... mas mamãe, sabendo do meu histórico, olhou para trás e foi checar. Quando me viu no buraco, soltou a frase que eu mais ouvi na minha infância/adolescência:

- O quê? Você caiu DE NOVO?

Sem comentários...

Já estava no cursinho pré-vestibular quando, num domingo, fui assistir a uma palestra sobre João Goulart. Meus pais, naquele fim de semana, resolveram me deixar sozinha e viajaram para Porto Alegre, onde temos família. Até aí nada de mais, peguei meu famigerado ônibus e fui até o cursinho, perto do metrô Ana Rosa.

O problema foi que, a caminho do auditório, eu torci o pé e caí no chão.

Vejam bem, não foi só uma torcida. O pé virou para dentro, o dedão do pé encostou na batata da minha perna, fez um barulho “toc” e me deixou a ver galáxias, não estrelas. Aff, como doeu aquela bagaça!!

Eu joguei a mochila longe e rolei no chão, gritando de dor. Imediatamente, formou-se uma rodinha, na qual pessoas inúteis, ao invés de me ajudarem, ficavam me olhando rolar na calçada, sem ao menos oferecer ajuda. Teve uma mulher que falou para mim, no melhor estilo “apoio moral”:

- É... deve estar doendo muito, né?

NÃO, SUA BOCÓ!

Pior que eu só pensei e nada disse. Mamãe criou uma menininha educada em colégio de freiras e, naquela época, não retrucava nem falava palavrões. Se acontecesse hoje, acho que daria uma voadora naquela mulher!

Depois que passou o pico de dor, veio a triste constatação: meu pé havia dobrado de tamanho. Inchado, roxo, latejando, doído... pensa em mais adjetivos e vai acrescentando, foi bem por aí. Mas eu era uma aluna “caxias”, sempre fui. Tinha a palestra para assistir, eu não queria perder, estava incrivelmente focada no cursinho. E tomei a única decisão que uma nerd tomaria: fui me arrastando até o auditório do Etapa num pé só, apoiando nos muros. Tudo para não perder a palestra.

Confesso, mal me lembro do que assisti. O pé doía que era uma desgraça. Mesmo assim, eu me senti melhor por não ter faltado (o psicológico é tudo nessa vida...). Claro que, durante a palestra, meu pé terminou de inchar e ficou uma coisa medonha. Por sorte (ou azar) eu não tirei o tênis do pé, ou jamais conseguiria colocá-lo novamente e teria que ir descalça para casa.

A coisa estava feia, e pensei: é, preciso de um ortopedista, com urgência. Mas a bocó que vos escreve não estava com a carteira do convênio na mochila. Sabem aquela adolescente que se acha o próprio “highlander”, imortal? Pois é, eu tinha aquele pensamento. Tonta, para dizer o mínimo. Agora teria que voltar para casa, pegar a carteirinha e ir a um médico.

Foi um tremendo perrengue voltar para “São Domingos City”, onde moro. Se hoje já não tem transporte público por aqui, imagina a situação vinte anos atrás, e num domingo. Levei quase 3 horas no trajeto, arrastando corrente, enquanto meus pais curtiam o fim de semana em Imbé, cidade próxima a Porto Alegre.

Quando finalmente voltei para casa, fui correndo procurar a tal carteirinha. E cadê de achar a dita cuja? Nada! É, não tinha jeito, teria que ligar para os meus pais e perguntar. Eis o diálogo:

- Oi, mãe! Tudo bem?

- Oi, filha! Aqui está uma delícia! Acabamos de chegar da praia! Tudo bem por aí?

- Então, mãe... onde está a carteirinha do convênio?

Silêncio. Então ouço:

- O quê? Você caiu DE NOVO?

- Ah, mãe... snif...

Tive que contar toda a história e todos os detalhes sórdidos. Só depois é que pude focar no cerne da questão: onde estava mesmo a carteirinha?

Pois pasmem, caros leitores. A minha carteirinha estava com a minha mãe. No Rio Grande do Sul. Gente, fala sério! Eu aqui e a minha carteirinha lá nos confins do país, e agora?

Há 20 anos, não tínhamos a facilidade de ligar para o convênio, pedir guia ou utilizar de qualquer outro artifício. Ou tinha a carteirinha em mãos ou nada feito. Assim, não tive opção a não ser ligar para uma amiga e me dirigir a um posto de saúde, no carro dela.

Sabem aqueles dias em que dá tudo errado? Então, realiza a cena: cheguei ao posto de saúde e dou de cara com uma pessoa estirada no chão, bem no saguão de entrada. Toda ensanguentada. Morta, obviamente. Baleado. Tive que conter a ânsia e contornar o dito cujo para buscar atendimento. Realmente promissor, não?

Esperei o tempo regulamentar da saúde pública para ser atendida, já calçando um chinelinho e com o pé inchadíssimo e roxo. Fui fazer um raio x. Agora sim, a sorte mudou, pois não tinha nada quebrado! Mas precisaria imobilizar o pé.

Suspirei, resignada. Já esperava por isso. O que eu não esperava foi o diálogo que se desenvolveu a partir daí. Disse ao médico:

- Doutor, poderia colocar aqueles saltinhos de bota no meu gesso? É que eu estou fazendo cursinho, e andar de muleta vai me atrapalhar no ônibus, e eu não posso perder aula.

- Não vai dar – disse o médico.

- Mas por quê?

- Porque, com o seu peso forçando o gesso, ele vai rachar... vai precisar usar muleta mesmo.

Era só o que me faltava... perder minhas aulas do cursinho? Nem pensar! Disse ao médico:

- Então não quero o gesso!

E fui embora, pisando duro (com um pé só), e sem o gesso.

Ok, foi uma atitude completamente sem nexo. Ok, precisava do gesso. E não o coloquei! Acreditem, fiquei arrastando o pé inchado por meses, sem imobilização e pegando o ônibus sabe-se lá de que forma, nem eu me lembro com fazia isso. E, por incrível que pareça, nem meus pais contestaram a minha atitude. Era uma vestibulanda feroz (focada demais, creio), mas segui com as minhas aulas do cursinho desse jeito mesmo.

Eu só tomava medicamentos para a dor e tratava de colocar o pé para cima na sala de aula. Como eu sempre sentava na “turma do gargarejo”, ajeitava o pé todo estropiado no tablado do professor e ainda tinha a cara de pau de avisar:

- Professor, cuidado aí com o meu pezinho, tá?

É, tem coisas na vida que só um vestibulando é capaz de fazer. Mas tudo acabou bem, pois depois de alguns meses, o pé desinchou e não tive qualquer sequela. Nadinha. Nem uma dorzinha, nem uma dificuldade de andar. Nem sei se tive algum problema nos ligamentos. Se tive, sumiram.

E aí veio o excesso de confiança de novo, certo? Já estava andando normalmente quando caí. De novo. E torci o outro pé, exatamente da mesma maneira! Eu chorava de raiva:

- Arrgh, eu sou muito idiota mesmo!!

Como já estava um pouco mais “ixperta”, a torção não foi tão feia, pois consegui me segurar no poste mais próximo antes que caísse de vez no chão. Mas foi do mesmo jeitinho, o dedinho quase encostou na batata da perna e fez um leve barulhinho de “toc”. Voltei para casa, arrastando corrente (mais leve, desta vez) e, quando minha mãe me viu mancando do outro pé, soltou sua frase patenteada:

- O quê? Você caiu DE NOVO?

É...

Mas as coisas começaram a se estabilizar da faculdade em diante. Levava as minhas quedas básicas, mas nada sério. O problema foi quando comecei novamente a pedalar. Conheci uma galera show e frequentava os pedais noturnos pelas ruas de São Paulo. Eu, há anos sem andar de bicicleta, tive que pegar novamente todo o traquejo da coisa. E não deu outra, as quedas espetaculares voltaram. E o pior, eram frequentes!

Às vezes eu apenas arriava da bike, o começo foi bem difícil. A maioria era causada por falta de perícia ou inexperiência. Às vezes, era o bom e velho azar em ação!

Certa vez, estava pedalando na região de Perdizes com o grupo, quando um companheiro de pedal nosso nos encontrou de carro. Eu olhei para o lado e comecei a fazer piadinhas por ele estar dirigindo e não pedalando conosco, e deixei de olhar para frente. Adivinha? Bati no colega da frente e voei espetacularmente até o chão! Poderia ter cantado “I believe I can fly” no processo, de tanto tempo que fiquei no ar. Após me espatifar no chão com a graça e a beleza de um saco de batatas, fui acudida pelo pessoal. Eu, morrendo de vergonha, só dizia:

- Gente, tá sussa, bóra pedalar!

O que muita gente não soube é que tive que ir ao pronto socorro no dia seguinte. Na queda, bati a cabeça, mas como estava de capacete, nada aconteceu. O problema foi o pescoço, fiquei uma semana sem poder olhar para os lados, uma tortura!

Como continuei a pedalar apesar de tudo, fui sofrendo mais quedas. Melhorei meu condicionamento físico também, mas demorei até parar de cair tanto. Ainda mais quando cismei de andar clipada. Sabem o que é isso?  A sapatilha de pedalar, que prende o seu pé no pedal e otimiza o seu esforço físico. E cair com aquilo é a coisa mais fácil do mundo. Basta esquecer de “desclipar” o pé e pronto: é só cair no chão feito jaca. Mesmo com a bike parada!

Como eu não desisti de pedalar com sapatilha, demorei mais do que o normal para controlar as quedas da bike. Hoje, pedalo sossegada quando estou clipada. Afinal, uma hora a gente aprende! Mas até os guias dos passeios de bike já estavam familiarizados com as minhas quedas mais frequentes. Em uma delas, a Elen e o David, que são guias da Gobiking Expeditions (www.gobiking.com.br) e grandes amigos, ao presenciarem mais uma queda minha, desta vez saindo do campus da USP, parafrasearam a minha mãe:

- Você caiu DE NOVO, Fê?

Ah, a minha sina...

Para arrematar o causo, vou mostrar a vocês a única queda com registro fotográfico: caí quando saía de um helicóptero! É, consegui essa proeza, e está documentado o “antes” e o “depois”. Felizmente, no “durante”, a fotógrafa Daniella Fernanda me ajudou a sair do chão!

Eu e Dani estávamos em Foz do Iguaçu, e fizemos o voo panorâmico nas cataratas. A visão é maravilhosa, quem tiver a oportunidade, não deixe de experimentar. Mas esta contadora de causos que vos fala não poderia deixar passar a chance de dar vexame em grande estilo, mergulhando de “peixinho” ao sair do helicóptero. Repara na graça e na beleza da cidadã no “antes”:



E agora repara na tentativa de disfarçar a cara de dor no “depois”:



Segundo a Daniella, eu parecia uma pata choca prestes a levantar voo. Mas acabei pousando com a habilidade de um albatroz mesmo.

E você, leitor, considera-se uma pessoa desastrada, mesmo depois de ler o presente texto? Se a resposta for afirmativa, me escreva, suas histórias podem virar um causo!

Boa noite, pessoal!

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Yes, I speak English!

Esta semana a inspiração demorou a “baixar”, mas agora vai sair um causo!

A ideia surgiu ontem, quando estava procurando algo para ler. Minha intenção era comprar o novo livro do Dan Brown, “Inferno”, a mais nova aventura do professor Robert Langdon. Descobri que o livro será lançado apenas em maio, mas eis a informação que me surpreendeu: não há previsão para o lançamento do e-book em inglês!

Mistérios de dona Milu, como diriam os fãs da novela “Tieta”. Vou ter que esperar mais um pouquinho para ler, então. Afinal, comprei um e-reader para não acumular mais papel em casa. Já não tenho mais espaço para mais livros!

Falando em livros, ultimamente só tenho comprado títulos em inglês. E por quê? Ora, deu muito trabalho para conseguir a fluência no idioma, e preciso me exercitar. Não quero perder todo o investimento que fiz (curso concluído no Cellep e viagens) e, o mais importante, eu ADORO saber inglês!

Antes que algum “nacionalista ufanista” venha defender a língua portuguesa, fica a dica: eu sei português, ok? É a minha língua-pátria, e é a minha obrigação conhecê-la e me expressar nela corretamente (bom, pelo menos eu tento!). Ainda mais no meu trabalho, já que sou formada em direito e trabalho em fórum. Mas posso garantir, eu me divirto muito por ter aprendido também o inglês. É uma delícia ir a uma livraria e me dar conta de que todos aqueles títulos em inglês, muitos dos quais sequer foram traduzidos para o português, estão ao meu alcance. Afinal, praticamente tudo o que vale a pena ser lido tem uma versão em inglês.

Não é uma questão de ego inflado, tão pouco. Saber inglês é o “feijão com arroz” hoje em dia. Realmente, não deveria ser nada de mais. O diferencial hoje é saber alguma outra língua além do inglês. Infelizmente, não domino outro idioma relevante, e acho que klingonês não conta para efeito de currículo, certo? Afinal, trekker que se preze sabe pelo menos o básico, e eu tenho em casa a rara edição do “Dicionário da Língua Klingon” português/klingon. Ah, meus tempos de alferes na Frota Estelar e de campeonatos de RPG... mas aí já é outro causo!

Voltando ao inglês. 

Não é preciso viajar para usar o idioma. Aqui na Av. Paulista, onde trabalho, não é raro encontrar um gringo em estado de necessidade. Pode ser uma canadense, que não consiga fazer a atendente do McDonald’s lhe vender um sundae sem amendoim; o alemão que não sabe como chegar ao MASP, ou os ingleses que não conseguem pedir macarrão e salada no restaurante. Não custa ajudar, certo? Mas se não aparecerem mais samaritanos que falem inglês por aqui, preparem-se: será um caos na copa do mundo.

Aprender inglês dá trabalho, mas é divertido. Mas acho que só temos a noção do quanto realmente dominamos o idioma quando viajamos para o exterior e temos que dar a “cara à tapa”, por assim dizer. E, como os leitores do blog sabem, dar a cara à tapa é a minha especialidade!

A minha primeira grande aventura solo no exterior foi a alguns anos, nos EUA. Fiquei uns 40 dias viajando pelo país. Visitei New York, Houston, Atlanta, New Orleans e Washington. Em NY tenho família, mas no resto do país fui com a cara e a coragem mesmo, viajando sozinha e de mochila às costas. Planejei tudo com antecedência, reservei meus próprios voos, hotéis e passeios. E fui armada com o meu inglês e a minha infinita cara-de pau. Ah, isso não se aprende na escola, certo?

Nessa viagem, percebi que dominava o idioma pelo seguinte: consegui brigar em inglês. Sério, tenho isso como parâmetro. E logo na minha primeira parada “solo” eu precisei subir nos tamancos.

Saí da casa dos meus tios em NY e fui para Houston. Meu objetivo naquela cidade era apenas um: conhecer o Johnson Space Center, da NASA. Já conhecia o Kennedy Space Center na Flórida, e estava doida para ver a rotina de treinamento dos astronautas e as salas de controle das missões Apollo e da Estação Espacial Internacional. Graças a um passe VIP comprado com meses de antecedência, pude fazer um tour exclusivo pelo complexo, com direito a entrar na sala de controle das missões Apollo, de acesso restrito por ser um dos sítios históricos mais importantes dos EUA. Ah, como é bom ser Bozó pelo menos uma vez na vida!
Na cadeira do diretor de voo: só para os vips!

Cheguei ao aeroporto de Houston, e deveria pegar um shuttle (o transfer) para o hotel que escolhi a dedo: ficava em frente à NASA. Arrastando a mochila de 65 litros, fui ao guichê da empresa de transporte e apresentei meu voucher. A atendente, que mascava chiclete feito uma ruminante, me olhou de soslaio, provavelmente pensando “aff, outra cucaracha”, e recebeu o meu papel. E começou:

- Ah, nossa empresa não atende esse endereço!

O quê?? Retruquei:

- Quando comprei o voucher, coloquei o endereço do hotel para calcular a tarifa. Vocês aceitaram o pagamento, e o hotel é em frente à NASA! Como assim, não atendem o endereço? Ninguém visita a NASA nessa cidade?

- Sinto muito, não atendemos esse endereço.

E a mulher, ainda ruminando, parecia estar se divertindo às minhas custas. Mas aí eu subi nos tamancos:

- Quero falar com o seu supervisor. Agora!

Aí caiu a ficha da mulher, eu não iria abaixar a cabeça. Não teve escolha, a não ser chamar o chefe, que chegou todo solícito:

- Posso ajudar?

- Ah, pode sim! A tua funcionária falou blá blá blá, mas eu fiz a reserva assim, assim, assim... e não vou chegar no meu hotel? Eu paguei por isso!

Eu espumava feito cachorro raivoso. Na hora, o supervisor respondeu:

- Não se preocupe, nós atendemos o endereço sim, o motorista te leva lá e blá blá blá desculpe a nossa falha, a atendente é nova...

- É uma atendente despreparada! Se eu não pudesse argumentar em inglês com você, eu ficaria a pé, mesmo com o transporte pago?

Para isso, o supervisor não tinha resposta. Mas consegui o meu traslado, e ainda fui conversando o caminho todo com o simpático motorista texano, que me contou a história da família dele. Não sei porque, os motoristas adoram me contar a vida deles, em qualquer lugar do mundo.

Curiosamente, não tive problemas para voltar ao aeroporto. Liguei para o número da empresa, dei meu código de reserva, o horário do meu voo para Atlanta e o motorista me encontrou no horário combinado, sem estresse. A ruminante era realmente uma incompetente!

E quando os gringos começam a brigar por tua causa? Ah, essa aconteceu logo que cheguei a Atlanta. Era uma parada rápida, apenas 8 horas. Então tive que fazer o dia render. Deixei a mochila pesadona no aeroporto, num armário alugado, e entrei no MARTA, o metrô da cidade. Enquanto aguardava a partida do trem, um sujeito afro-americano, um enorme armário ambulante 2X2 e na casa dos 50 anos viu, nas minhas mãos, informações turísticas da cidade e começou a puxar assunto comigo. Perguntou de onde eu era, e fez cara de espanto quando eu disse Brasil – como sempre acontece quando viajo sozinha. Também quis saber quanto tempo eu teria na cidade, o que eu gostaria de visitar. E começou a dar dicas muito úteis de paradas de metrô, linhas de ônibus, atrações interessantes. Estávamos entretidos na conversa quando outro passageiro resolveu se intrometer:

- Mas se você quiser visitar o parque olímpico, precisa parar na estação tal e blá blá blá...

Estava tentando ajudar, claro. Mas o meu primeiro interlocutor não gostou da intromissão. E começou a brigar! Disse ao outro sujeito:

- É o seguinte. Eu nasci em Atlanta, servi aqui como fuzileiro, eu conheço a minha cidade! Não venha querer me ensinar como andar por aqui!

Uau, um marine!

O outro resolveu comprar a briga:

- Mas o caminho que estou falando para ela fazer é melhor porque blá blá blá...

E eles ficaram discutindo, bravos, pelo direito de me passarem informações! Os outros passageiros começaram a prestar atenção na briga, pois já estava ficando um negócio exuberante. Olhei para os outros, dei de ombros como se falasse “não era a minha intenção causar essa confusão” e recebi olhares de solidariedade. Felizmente, não demorou muito para chegar a minha estação, ao lado da sede da CNN. Agradeci aos dois pelas informações, mas o fuzileiro não deixou de arrematar a conversa:

- Faça o que eu te disse direitinho, esse sujeito aqui não sabe de nada, ok?

E fez um gesto apontando para o outro interlocutor que, obviamente retrucou. Saí do vagão e os dois continuaram discutindo. Fiquei observando de fora o trem entrar em movimento e a discussão continuar, até que perdi a briga de vista. Mas uma coisa é certa: eu é que não gostaria de deixar irritado aquele fuzileiro gigantesco!


Segui as instruções do fuzileiro e me dei bem!

Já publiquei um causo sobre a minha próxima parada, New Orleans (http://causosdafefa.blogspot.com.br/2013/03/interrogatorio-pra-que.html), mas sempre tem mais algum perrengue para contar! E como o tema discutido no causo de hoje é o idioma inglês, vou contar mais duas histórias que aconteceram comigo naquela cidade.

Já disse e repito: New Orleans é fascinante! E a primeira história aconteceu enquanto fazia o tour no Garden District, o bairro mais chique da cidade e onde a autora Anne Rice costumava morar (vejam o causo http://causosdafefa.blogspot.com.br/2013/02/bienal-do-livro-rj-aff.html e entendam porque estava lá). Comprei no meu hotel um passeio a pé pelo Garden District. Peguei informações do bondinho, desci no local combinado e fiz o tour, que incluía o Cemitério Lafayette, as casas históricas (a da Anne, inclusive) e outras atrações. O tour terminou no Lafayette e, em frente à entrada principal do cemitério, a guia nos chamou a atenção para um restaurante no mesmo quarteirão, o Commander’s Palace. Tradicionalíssimo, considerado um dos melhores dos EUA, gastronomia sofisticada e uma atração turística. Como era a hora do almoço, perguntei à guia qual era o “esquema” do restaurante: culinária, vestimenta, preço e por aí vai. Claro, é um restaurante caro, mas era um dia de semana e na hora do almoço, então o custo não era tão proibitivo. O problema é que eu estava de jeans, tênis e mochila às costas. A guia me olhou e falou, sem dó nem piedade:

- Com essa roupa, não sei se vão te deixar entrar... mas você pode tentar!

Realmente, o pessoal que entrava no restaurante estava na estica. Eu nem aí, resolvi que almoçaria no Commander’s Palace! O máximo que poderia me acontecer é ser barrada, certo?

Mas não fui! A recepcionista me recebeu muito bem e me deu o colar de boas vindas, estilo Mardi Gras, que guardo até hoje. Fui acomodada numa mesa para dois e me deram o cardápio. Eu, querendo mostrar refinamento, pedi sugestão de prato. O garçom, todo solícito, me recomendou a especialidade da casa: shrimp.

Aí me deu um branco: o que é mesmo shrimp?

Fiquei numa saia justa, mas saí à francesa: pedi um tempinho para me decidir. O garçom me deixou à vontade. Aproveitei para sacar o meu Iphone da mochila e digitar no dicionário. Aí descobri: camarão! Aff, eu não gosto de camarão! Quase que eu peço um prato de camarão, mico total!

Chamei o garçom e fiz o meu pedido: salada, estilo “ceasar”. Aliás, a salada mais espetacular que já comi, um tempero inigualável, fico babando só de lembrar. E para finalizar, uma sobremesa aerada que deixa qualquer pessoa nas nuvens. Não gastei mais do que 30 dólares, e aqui fica uma dica: quer ir naquele restaurante fino, mas caríssimo, sem deixar as calças? Almoço durante a semana. A refeição sai muito mais barata.


O "guizo" do restaurante. Ninguém se mexe sem fazer barulho!

A segunda história que aconteceu comigo foi durante o tour dos vampiros. É, o nome soa assustador e é exatamente essa a intenção do tour. Trata-se de uma caminhada, à noite, pela parte antiga da cidade (Rua Royale, Cabildo e adjacências). Durante o passeio, o guia vai mostrando lugares em que, supostamente, ocorreram crimes praticados por vampiros. É isso mesmo, leitor! Claro, os vampiros são ficção, mas os crimes são bem reais. Então a guia chamava a nossa atenção: naquela casa morreu fulano de tal jeito, daquela janela ciclana pulou e morreu na rua e por aí vai. As histórias criavam um clima de suspense que, ao final do passeio, era quase palpável. E o final do tour não poderia ter sido num lugar mais inusitado: um bar de vampiros!

Foi um pouco assustador, admito. Principalmente quando a guia nos disse que alguns freqüentadores bebiam sangue de verdade. Alguns tiram o próprio sangue para beber depois... enfim, uma coisa macabra. Mas nosso pequeno grupo ocupou uma mesa, pedimos bebidas (sem sangue) e começamos a conversar. Puxei assunto com um casal do meio oeste americano. Também não acreditaram quando eu disse que era brasileira, que estava passeando sozinha, de madrugada, nas ruas desertas de New Orleans atrás de vampiros (o que é a vida sem um pouco de emoção?). Conversa vai, conversa vem, caímos no assunto do estudo de idiomas. Eu contei minha experiência com inglês, que estava aperfeiçoando o idioma, tentando domar o sotaque (tarefa impossível). Até que uma hora o rapaz me disse o seguinte:

- Inglês é a língua mais difícil de se aprender!

Olhei para o sujeito, de queixo caído. Ah, faz-me rir, cidadão! Aí eu comecei:

- Interessante... diz aí, qual outro idioma você fala?

- Só o inglês é suficiente, né? Todo mundo tem que saber falar!

Tá, tem que falar, já que o Esperanto serve para quase nada. Mas o sujeito falou de uma forma tão prepotente que me irritou. E continuei.

- Por acaso já tentou aprender outra língua? Português, por exemplo?

Silêncio e um balanço negativo de cabeça me deram a resposta. Continuei:

- E uma língua com alfabeto diferente, como o japonês, o árabe, o russo?

Mais uma sacudida de cabeça.

- Ok, uma mais fácil, então. E o espanhol? Tem muito latino aqui na América, não é?

Necas de pitibiribas. Aí falei:

- Pois é, fica difícil avaliar a dificuldade de se aprender um idioma quando não se tenta fazer isso, não é?

Silêncio. Eu não parei:

- Sabia que a gramática da língua inglesa é muito mais simples do que a do português? Que existem línguas que se lê da direita para a esquerda? Que blá, blá, blá...?

O sujeito ficou completamente mudo. Eu, fula da vida, desfilei um rosário de dados e, com um imenso prazer (e em inglês), reduzi o sujeito a pó. Simplesmente glorioso! Saí do bar de alma lavada e, feito um pônei saltitante, encarei a Bourbon Street em direção ao meu hotel às 2 horas da manhã. Sozinha.

Próxima parada, Washington!

Passear nessa cidade é mais complicado quando não se fala o inglês. Não pelo fato de ser a língua oficial do lugar, mas por uma questão de segurança. O FBI, a polícia local e os militares, já paranóicos devido à questão do terrorismo, não aceitam muito bem a resposta “não compreendo”. E qualquer mal entendido pode acabar... mal.

Nessa cidade, encontrei um conhecido e fizemos alguns passeios juntos. O problema era que o cara se achava a última bolacha do pacote (e por isso mesmo, estragada), tinha um inglês “uga uga” e era dado a fazer gracinhas inconvenientes. E uma delas aconteceu nos arredores do Pentágono.

Fala sério. Tem que ser muito retardado para fazer gracinha no Pentágono!

Realiza a cena: o edifício é cercado por câmeras e microfones. Todos são vigiados a todo instante, de maneira extremamente ostensiva. Existem áreas claramente demarcadas onde não são permitidas fotografias. A exceção era o monumento ao atentado de 11/09, que derrubou uma das laterais do edifício. E só. A proibição vale até para a estação de metrô “Pentagon”, ao lado do complexo. Pois esse meu conhecido cismou que queria tirar uma foto na tal estação. Justo nessa. Ele me pediu:

- Tira uma foto minha aqui?

- Nem sonhando, aqui é proibido, não viu a placa?

- Ah, rapidinho!

- Não vou tirar!

O sujeito fez cara feia, sacou a câmera e começou a tirar fotos. Eu, morrendo de vergonha, fui me afastando devagar.

Assim que ele começou a bater as fotos, os próprios freqüentadores do metrô começaram a falar e apontar:

- Aqui não pode tirar fotos!

Lá é como em NY: se você vir algo, diga algo. Uma mulher falou brava comigo que o meu colega estava fazendo algo proibido. Tive que responder:

- Eu sei, e falei para ele, só que ele não entende!

Em questão de segundos, o segurança da estação nos abordou, exigindo que parássemos de fotografar. Tive que pedir desculpas pelo meu colega de viagem para evitar um transtorno maior. Não estava com a menor vontade de passar uma temporada numa prisão federal americana!

Já no Capitólio, fui revistada com esmero pelo segurança devido a um simples tubo de pasta de dente. Apareceu no raio x, e tive que esvaziar a bolsa por causa disso. O guarda tirou tudo de dentro e, quando foi analisar a pasta, abriu a tampa e examinou o conteúdo. E perguntou:

- Por que está carregando isto?

Foi aí que abri um enorme sorriso!

Por quê? Eu usava aparelho fixo na época. E quem usa aparelho, sabe: tem que ter pasta, escova de dente, fio dental e passador sempre à mão. Apontei para os meus dentes e respondi: uso aparelho, só isso. O guarda sentiu o cheiro de menta da minha pasta de dente e me deixou entrar. Quem mandou eu ter cara de meliante, né?

Mas onde em mais interagi foi na Suprema Corte dos EUA. Lá não é como aqui, que assistimos aos julgamentos do STF na TV. O acesso à sala de julgamento é restrito, não se pode tirar fotos nem quando a sala está vazia. A foto abaixo foi a mais próxima da sala que consegui tirar. Lá dentro, câmeras desligadas e total atenção ao guia, que discorreu sobre o sistema legal americano, a história da Suprema Corte e sistemática de julgamento.

E como sempre, de mochila...


Uma coisa que faço sempre antes de viajar: eu leio sobre o lugar a ser visitado. Isso me permite aproveitar mais o passeio. Parece óbvio, mas vejo muita gente que cai de paraquedas num lugar e nem sabe o que está fazendo ali. Olha para coisas de significado incrível e nem se dá conta. Para viajar assim, nem precisa sair de casa: coloca a TV num canal de viagens e já está muito bom!

Durante a explanação do guia, ele perguntou aos turistas uma coisa simples: quanto tempo é concedido ao advogado para que seja feita uma sustentação oral na Suprema Corte?

Pasmem, ninguém se manifestou. E a sala estava cheia de americanos, eles poderiam saber disso não? Ah, mas eu sabia! Levantei a mão, o guia me deu a palavra e eu respondi:

- Os advogados têm 30 minutos!

- Isso mesmo, resposta correta – disse o guia.

Meu companheiro de viagem “mala’ me olhou com cara de “putz, essa é nerd”. Tô nem aí. Nerd assumidíssima. Viagem, para mim, tem que ser no capricho, aproveitada ao máximo. E se souber inglês, então, aproveita-se mais ainda!

E você, leitor, “ispíka ingrêis”? Não? Corre para a escola, está perdendo tempo!

Bom dia a todos!

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Só em banheiro de academia mesmo...

Amigos leitores, o causo de hoje já está na minha cachola há um tempinho.


Sabem por quê?


Há muitos anos eu frequento a mesma academia de ginástica. No caso, a Bioritmo da Paulista. E há algumas semanas eu parei para pensar nas coisas que ocorrem num vestiário feminino de academia. Já pararam para pensar nisso?


Então, eu parei!


Comecei a observar os tipos, as ocorrências, a dinâmica do local. Coisa de gente desocupada mesmo, mas é daí que surgem os melhores causos. O despercebido (ou nem tanto) revelado de forma cômica. E essa é a proposta do blog!


Acredito que toda academia tenha tipos e/ou situações parecidas. Fala sério, se é para malhar e depois ir para o vestiário cheio de mulheres, vamos encontrar alguns padrões recorrentes, certo?


Comecei, despretensiosamente, a observar alguns padrões. E desenvolvi uma lista de fatos e tipos recorrentes. São quase dogmas. Afinal, posso estar errada. Mas acho divertidíssima a possibilidade de estar certa, e por isso resolvi dividir as minhas conclusões com vocês, em forma de causo. Com direito a um final inusitado, claro!


Eis o que eu concluí até agora:


1.      O pessoal que está em forma é frequentador assíduo da academia.

      Fato, e para lá de óbvio. De vez em quando, sou assídua, de vez em quando, sou turista. Estou longe de ser uma malhadora modelo e, às vezes, tomo chá de sumiço. Mas quando volto, encontro sempre aquele mesmo pessoal velho de guerra.  Essa gente que leva a malhação realmente a sério e não falta. Faça chuva ou sol, persistem.
       Exemplos: tem a corredora, cabelos ruivos ao vento, que faz miséria na esteira. Tem a que luta boxe com a ferocidade do Mike Tyson. Tem as que puxam ferro e mostram no abdome todos os gominhos cultivados com muitos abdominais na prancha. E uma delas é uma senhora que, embora já esteja na “flor da maturidade”, coloca muito broto no bolso. É impressionante. A mulher levanta peso, pedala, se alonga, faz pilates e mal transpira. Se eu chegar à idade dela daquele jeito, serei uma pessoa de muita sorte. Pensando bem... se eu conseguisse ficar daquele jeito hoje, seria o máximo. Se alguém vier me dizer que idade é empecilho para a boa forma, eu apresento o detrator àquela senhora. Vai morrer de vergonha. O que acontece comigo sempre que eu olho da barriga dela para a minha. Estou tentando criar vergonha na cara. Ainda chego lá!


2.      A fila do banheiro é sempre maior quando você tem pressa.
     
      Lei de Murphy em ação, pura e simplesmente. Sabe aquele dia que você tem que tomar um banho rápido, sair sem secar o cabelo e passar maquiagem porque já está pra lá de atrasada para o seu próximo compromisso? Pois é nesse dia que Cleópatra e seu séquito tomam a decisão: a hora é perfeita para aquele banho de leite terapêutico. Realiza a cena: um monte de mulher nua/semi-nua/vestida aguarda na fila, shampoo e condicionador na mão, chinelinho fulambento no pé, toalha sobre os ombros ou corpanzil, esperando que as primas-donas tomem o seu banho vapt-vupt de... 30 minutos! E por que a demora? Ah, precisa passar o sabonete, depois o esfoliante, depois o hidratante, depois a máscara de lama do Mar Morto (ops, acho que vou levar a minha também), depois pegam o espelhinho e escaneiam o rosto atrás de cravos, espinhas, pelos encravados. Depois vem a depilação: pernas, axilas, área de lazer. Aposto que algumas até fazem a barba! E se você precisar sair da fila para ir ao banheiro, já que demora tanto para conseguir uma vaga no chuveiro, nunca mais consegue voltar para o mesmo lugar (é, a mulherada é selvagem)! E depois que Cléo (para os íntimos) e corte deixam os chuveiros, a plebe tem que se deparar com a bagunça. Pois é, amigos... a realeza não faz faxina! É frasco de condicionador vazio, papel de embalagem de sabonete deixada pra trás, um nojo. E você, pobre coitada, agora só tem 4 minutos (como diria a Madonna) para salvar o seu mundinho insignificante e tomar o seu banho.


3.      No dia que você resolver levar a roupa mais engomadinha para vestir, o banheiro vai estar mais lotado do que o Pacaembu em dia de clássico.

      Fatão. Total e absoluto. Imagina que, depois do banho a jato, você tem que disputar espaço nos bancos do vestiário para colocar sua mochila, trocar a roupa e o sapato, guardar as coisas e colocar aquela meia de seda comprada no Depósito de Meias São Jorge. Mas aí você percebe que não tem espaço para sentar. Cléo e sua gangue espalharam bolsas, malas, nécessaires, roupas e sapatos pelo banco, ocupando o espaço de quase três pessoas (cujos egos estão sob controle). E aí você vai disfarçando, disfarçando, disfarçando... e vai comprimindo os pertences da perua aos poucos, nem que seja com a própria bunda. Momentos tensos, senhoras e senhores... principalmente se a roupa da perua foi engomada pela criadagem no dia anterior. Salve-se quem puder!


4.      A mulher que vai secar o cabelo vestida só de calcinha, na frente de um monte de gente estranha, no tradicional “top less”, tenham certeza: está querendo mostrar a plástica.

       Fatão incontestável. No vestiário de academia dá para encontrar todos os tipos de plástica: a que só deu uma “empinadinha”, a que colocou a prótese na forma de “gota”, a que exagerou no silicone e ficou cheia de estrias, a que ficou tão durinha que fura até a camiseta, a que reduziu o volume, a que ficou uma verdadeira droga. Sim, estão todas lá. Eufóricas pela turbinada, não se contentam em guardar a “obra de arte” só para si e para o par amoroso. Querem mostrar, olhar no espelho gigantesco do vestiário de frente, de perfil, de soslaio. Aposto que, secretamente, pensam: consegui, posso ser a próxima mulher melancia! Realmente, um objetivo muito elevado. E não adianta falar que estou devaneando, eu reconheço as cicatrizes muito bem, já que eu fiz a minha plástica há tempos! Mas daí a me exibir para a coletividade, é outra história. Não tenho vocação para Borg (trekkers – e Sheldon Cooper, entenderão)!


5.      Tem o exibicionismo do lado oposto: aquelas que vão nuas (ou sem calcinha) secar o cabelo. Das duas uma: ou querem mostrar a depilação artística, ou querem mostrar a lipo e a barriga chapada resultante.

      Talvez até a plástica íntima, vai saber... nessa, eu só pensei agora, enquanto escrevo. Ou estão paquerando mesmo. Sei lá, cada um na sua. Mas eu já vi gente comparando depilação, inspecionando depilação no espelho, apalpando a barriga pra ver se a cânula do cirurgião plástico realmente tirou toda a gordura da área. Só entre nós, agora: eu acho estranho fazer isso num banheiro coletivo. Assumindo a premissa de que todas as mulheres têm pelo menos um banheiro em casa, não poderiam fazer esse tipo de check-up em particular? Não é todo mundo que aprecia a observação desse tipo de intimidade. Se pelo menos fosse o banheiro masculino, até poderia reconsiderar... sou pudica, não tonta!


6.      Tem mulher que ainda não descobriu os prazeres da escova progressiva.

       Criatura digna de pena. A infeliz, além de usar um dos secadores de cabelo comunitários da academia, leva a chapinha. Aquelas portáteis, da Polishop, que vêm de brinde com as facas Guinsu e as meias Vivarina. E presilhas, muitas presilhas. Divide a cabeleira em hemisférios e trópicos e, de baixo para cima, vão eliminando os cachinhos das raízes. Começam pela Antártida, passam pela Patagônia, chegam ao trópico de Capricórnio e assim por diante. Quando elas finalmente alcançam o trópico de Câncer e você pensa que já vai chegar a tua vez, elas dão aquela caprichada na Groelândia: a famigerada franja. É chapinha, é secador, é óleo de silicone. Em casos extremos, vale até laquê, no melhor estilo “Cassandra Cascacu”. Desesperador. Hello, darlings! Eu seco meu cabelo em 5 minutos e raramente uso a escova. A lei Áurea dos cabelos crespos já está em vigor há tempos. Aproveitem!


7.      A verdade mais libertadora: todas as mulheres tem celulite. TODAS. E estrias também.

       No vestiário dá para ver que mesmo a mulher mais retocada, siliconada, botocada e plastificada tem essas imperfeições. O mundo é injusto? Talvez... mas se você acha que aquelas modelos espetaculares de revista são reais, espera só até ver as fotos sem o famigerado Photoshop. Não salva uma. Não mesmo. Nem as mais saradas, as mais magras (magreza saudável, ok?) estão imunes. Então, cara leitora, nada de fazer loucuras pelo corpo perfeito. Ele não existe. Deixe o seu corpo saudável, e estará fazendo um ótimo negócio. Se algum homem reclamar, diga a ele que procure uma boneca inflável como companhia. É o que ele merece!


8.      Banheiro é o melhor lugar para se fofocar.

      Ah, esse fato ninguém discute. Watergate poderia ter sido articulado em um vestiário feminino. Sigilo total, teorias da conspiração brotam aos quatro ventos. Acho que é aquela máxima em ação: “o que se ouve no vestiário, fica no vestiário”. Ou deveria, pelo menos. Geralmente tais colóquios são conduzidos pelas mulheres que, já providas do seu sustento para o resto da vida, não precisam sair correndo para o trabalho. Observo esses tipos quando faço academia nas férias, (fora isso, corro atrás do meu sustento). Elas sentam, cruzam as perninhas e papeiam. Papeiam sem parar. Falam mal da cunhada, do genro, da sogra, da neta... a lista é infinita. Às vezes nem o cachorro escapa, coitado. Em conversas mais longas, rola até um lanchinho. Umas barrinhas de proteína, às vezes um sanduba natureba. O cardápio, como diria Didi Mocó, “varêia”. Mantenha distância, ou vai acabar virando assunto da fofoca!


9.      Tem mulher que, em pleno século XXI, ainda não aprendeu a usar o banheiro.

      Cruel, mas verdade. O uso é simples, certo? Você senta, faz o que precisa, e vai embora. Mas se a criatura não tem pontaria... ah, Jesus amado, socorro! Já vi banheiro masculino em melhor estado. E, no nosso banheiro, temos álcool à disposição para a limpeza do troninho, não tem desculpa para tanta porcaria. Eu, da minha parte, levo um protetor descartável para forrar o assento. Até entendo que algumas pessoas não ficam à vontade em sentar no troninho público, mas daí a acertar o chão é muita barbeiragem, né? Só que o perrengue não acaba por aí. Tem gente que, ao terminar de usar o vaso, abaixa a tampa. Entendo fazer isso em casa, por causa daquelas coisas de energia que fluem, que vão e que vem... mas quando vejo isso na academia, ou mesmo no trabalho, meu sangue gela. Sempre acho que, ao levantar a tampa, vou encontrar uma bomba prestes a explodir na minha cara, e a do pior tipo. É como se eu abrisse um Kinder Ovo e não soubesse qual a surpresa que me espera. Desagradável é pouco! Fica a dica: o banheiro é coletivo, deixa a tampa levantada, pô!


10.   A funcionária da academia que guarda a tua sacola conhece todo mundo, sabe tudo, ouve tudo, vê tudo.

       Comanda o lugar e nada escapa aos seus olhos aguçados, treinados para detectar eventuais “batedoras de carteira”. E, na minha academia, essa pessoa é a Elenita. Lê ou Nita para os íntimos, a mulher é a alma daquele vestiário. Ela está sempre rindo, de excelente humor, puxando conversa com todo mundo. Sabe de cor a quem pertence cada mala, cada bolsa. Chama a maioria pelo nome, e essa mulher é uma fonte inesgotável de causos! Toda manhã, quando caio da cama e vou malhar, lá está a Lê atrás do balcão para o tradicional bom dia. Eu chego, sem a menor cerimônia, e bato forte com a mão no seu balcão imaculado. É como se fosse pedir a bebida mais forte do boteco. Ela olha pra mim e já ri! E pergunta:
        - Cadê o príncipe?

       Qual príncipe? O William, de Gales, claro! Fizemos piada por dias com o casório do sujeito, já que ele, ao invés de procurar a sua princesa no Brasil (eu, claro), casou com aquela “baranga”  da Kate. Audácia do sujeito! Aí eu respondo:

       - Casou com a outra, problema dele! – e rimos juntas da nossa palermice.

       Outro dia mostrei a ela a foto de um ator lindo de morrer, o Matt Bomer. O sujeito estava sem camisa, espetacular. A Lê olhou e ficou babando, até eu contar a ela que o sujeito joga no “outro time”. Mas o que é bonito deve ser admirado, certo? Guardei o celular e fui malhar. Quando voltei para me trocar, ela me olha e diz:

      - Ainda tô pensando no cara sem camisa...

      Certa vez, era aniversário da Lê, e ela não queria fazer propaganda. Criatura tímida quando se toca no assunto idade. Ah, mas eu não me fiz de rogada. Cada uma que passava perto e puxava assunto com ela, eu chegava e emendava:

      - Sabia que hoje é o aniversário da Lê?

      E como a maioria não havia levado um presentinho, davam gorjeta mesmo. Uma senhora puxou um notão de 50 reais, estalando de nova, e deu a ela. Quase que eu emendo:

     - É meu aniversário também...

       Mas a Elenita foi uma das poucas pessoas que apostou comigo e venceu!

      Foi há uns dois anos, ela estava de malas prontas para passar as férias em Alagoas, sua terra natal. Ia rever a família, e começou a falar um pouco da vida que levava no interior. Caiu na besteira de me contar que andava muito de jegue, o “veículo” mais comum da região. Eu não deixei passar:

      - Lê, vai andar de jegue?

      - Hahaha!! Claro que “vô”!

      - Duvido que você tire uma foto montada no jegue pra eu ver!

      - “Ôche”, vou trazer, heim?

      - Mas não esquece da peixeira, heim?

      Fui tomar meu banho, crente de que ela jamais posaria para uma foto dessas. Ou se o fizesse, jamais me mostraria.

      Caí do cavalo. Semanas depois, ela volta de férias, e me chama.

      - “Ôche”, venha cá, quero lhe mostrar uma coisa!

      Cheguei perto e foi aí que me lembrei:

      - E aí, cadê a foto do jegue?

      - Tá aqui, ó!!
 
       Eis a foto. Elenita armada até os dentes!






E não é que ela se lembrou de mim durante as férias? E ainda me fez perder a aposta...
            Felizmente, fui esperta o suficiente para não apostar qualquer prêmio. Com gente arretada como a Elenita, é bom não duvidar. Se a mulher diz que faz, ela faz, sô!


Boa noite a todos!