terça-feira, 11 de junho de 2013

Um espetáculo de casamento!

Muita gente utiliza a expressão "casamento do século" para se referir às uniões dos famosos. Artistas, príncipes e assim por diante. Eu vejo diferente: para mim, casamento do século é aquele cujos noivos e família são queridos, a festa é espetacular e eu estava entre os convidados! 

Do que me adianta o casamento do príncipe William, por exemplo? Eu não estava lá, a realeza nem sabe que eu existo. Então o significado daquele evento, para mim, ficou resumido a algumas fotos nas revistas de celebridade. 

Mas tudo muda de figura quando se é convidada, ainda mais para uma festa tão especial. A noiva, Melissa, é filha dos queridíssimos Carmen e Raul! Por eles, eu e meu pai atravessamos um oceano, rumo a Portugal, especialmente para este evento. É, pessoal, a França foi apenas um bônus! O real motivo da nossa viagem foi comparecer ao casamento da Melissa e do João Pedro. 

Claro, como todo grande evento, tem seus causos, certo? Bóra rir!

Certa de que o tempo estaria quente em Portugal, trouxe um vestido curto para o casamento. Mas sabem como é, aquecimento global, mudança do eixo do planeta, conjunção de estrelas não sei em qual canto do universo... E nada de calor. Frio, chuva e vento. Felizmente, trouxe uma echarpe comprada em Muscat, Omã, e consegui me proteger um pouco do frio. O "conjunto da obra" ficou assim:



Ah, pelo menos estava apresentável, né? Hehe...

Devidamente paramentadas e penteadas, eu, minha tia e minhas primas, acompanhadas pelo meu pai vestido num terno impecável, rumamos para a cidade de Braga.

Chegar à igreja não foi tão difícil. O complicado mesmo era acertar as entradas nas famigeradas rotundas, o que chamamos em SP de rotatória ou balão. Olhávamos as placas com antecedência e avisávamos ao motorista, meu pai:

- Entra na próxima. 

Ele passava direto. 

- Mas pai, era aquela entrada!

- Eu só vou entrar quando tiver certeza! 

E ficava dando voltas na rotunda, como naquele filme "Férias frustradas", lendo e relendo as placas!

Após uma infinidade de rotundas, chegamos ao nosso destino.  O casamento foi na Sé de Braga, a catedral. Para os paulistanos, casar ali seria um misto da grandiosidade da catedral da Sé e do requinte da igreja Nossa Senhora do Brasil. Realizou a cena? 

Colocamos nossos sapatos de salto agulha nas ruas de paralelepípedos de Braga, rumo ao casório. Andar ali sem cair no chão "de peixinho" era acrobacia digna de artista do Cirque Du Soleil. Mas uma vez em cima do salto, eu não desço facilmente!

Chegamos a tempo da cerimônia (apesar das rotundas), e ainda pudemos ver a noiva pronta para entrar na igreja. Ela estava magnífica! O vestido, de princesa, era adornado com plumas no corpete inteiro, ela parecia um anjo! E o pai da noiva, alinhadíssimo num fraque, irradiava felicidade. Quando a noiva nos viu, fez sinal para que entrássemos correndo, o casamento já iria começar. 

A cerimônia foi realmente linda. A entrada da noiva, triunfal! Olhem só isso:



Pois é, gente farofeira sempre tem um celular à mão para eventuais fotos... Pelo menos dá para ilustrar o causo!

Na saída, chuva de pétalas de flores e arroz, proporcionada pelos convidados. Eu, no malabarismo, fotografava e jogava flores ao mesmo tempo, no melhor estilo "se vira nos 30":



Próximo passo: chegar ao buffet "Solar da Levada". E aí passamos um perrengue básico. 

No programa do casamento, havia um roteiro para se chegar ao Solar. O problema era que não se tratava de um mapa com o nome das ruas, mas indicações baseadas nas informações prestadas por um GPS. Sabem quando a gente coloca o endereço no Google Maps e o site te dá, além do mapa das ruas, a indicação do roteiro com o "vire à esquerda", "siga pela rua tal" e "faça a curva após 200 metros"? Certamente as indicações eram claras para quem é daqui. Mas para nós, do outro lado do oceano, era o mais puro aramaico. E agora, o que fazer?

Não tínhamos ninguém para seguir, todos já haviam ido embora. Nossa única  referência era o estádio de futebol da cidade. Seguimos as placas, chegamos ao estádio. E só. Não sabíamos seguir adiante. 

Meu pai foi pedir informações nas redondezas. E ficou um bom tempo conversando. Isso era garantia do seguinte: ele entraria no carro e diria "o sujeito falou, falou... E entendi nada!"  Mas aí tivemos um tremendo golpe de sorte. Um dos informantes se dispôs a nos levar até lá! E por cerca de 20 minutos seguimos o carro do bom samaritano, que nos deixou na porta do Solar. Quisemos lhe dar ao menos o dinheiro do combustível, mas o sujeito não aceitou. Graças a ele, não perdemos a festa. 

Quando chegamos, o pai da noiva veio nos receber. E disse que já estava preocupado com a nossa demora. Depois que narramos o nosso perrengue, ele disse:

- Eu nem estava preocupado! Com a Fernanda, que se vira em qualquer lugar,  vocês chegariam aqui tranquilamente!

Vixe! Respondi:

- Ah, seu Guedes, eu  até que me viro bem... Mas não faço milagres!

Após a chegada dos noivos, teve início a recepção. A coisa mais linda que já vi! Comida deliciosa, variada, num lugar lindamente decorado!


Felizmente, o pai da noiva conversou bastante comigo, e me apresentou a várias pessoas. Assim não me empanturrei com aquela comida deliciosa, e pude desfrutar o jantar que viria depois!

Para cada pessoa que me apresentava, o pai da noiva falava:

- Esta é a Fernandinha... Um amor de pessoa... 

Eu, toda encabulada, fazia carinha de "cachorrinho com vergonha". 

Mais elogios desfiados, o Raul continuava:

- A Fernandinha trabalha na Polícia Federal...

E eu dizia:

- É Justiça Federal, seu Guedes! Daqui a pouco vão pensar que eu vim ao casamento armada!

Ele fez que sim com a cabeça. E me apresentou ao próximo amigo:

- A Fernandinha trabalha na Polícia Federal...

Eu:

- Mas é Justiça...

Não adiantou. Virei policial no casamento! Hehe... Se é federal, beleza!

E o Raul arrematou:

- Conta a história da "Carrrminha"!

Para quem ainda não leu, a tal história, cujo título é justamente "Carrrminha", já está no blog. Eu a contei algumas vezes, o Raul, outras. E a Carmen, a mãe da noiva, e protagonista do outro causo, ainda perguntava:

- E aí, já temos um causo? Eu vou querer ler!

Uau, a mãe da noiva pedindo um causo, que "responsa"! 

Já pensando no que escreveria, caminhei em direção ao salão de jantar. Os lugares já estavam previamente demarcados. As listas das mesas foram colocadas em pequenos quadros, pendurados no jardim. Muito original! Eis a nossa mesa:




Quando entrei, meu queixo caiu. Sério, não é exagero. Entrei no salão mais lindamente decorado que já vi! Pensei que estava no salão de eventos da Ópera Garnier em Paris. Vejam só o detalhe da decoração de uma das mesas. Nossa mesa, por sinal:



Agora, uma panorâmica do salão:



Devidamente acomodados, começamos a interagir com os outros convidados. E tive a sorte de dividir a mesa com um casal impagável: Mário Reis e a sua esposa Olga. Eu nunca ri tanto numa festa como nessa! Tudo era motivo de piada. Diante do trio de garfos e facas que ladeavam cada prato, ele perguntava:

- Mas pra que tudo isso? Qual eu uso primeiro?

Eu arrematava:

- Faz como no Titanic, começa de fora para dentro que dá certo!

Para cada prato que chegava, ele perguntava:

- Tô fazendo certo?

Quando terminamos o primeiro prato, eu lhe mostrei como pousar os talheres. Ele dizia:

- Vou tirar foto, assim eu não me esqueço!

Como sentou perto do meu pai, os dois começaram a confundir os talheres. Seu Mário bradava:

- Olha aí, ele está pegando o meu garfo! Como vou comer o próximo prato? Devolve minha faca!

A parte brasileira da mesa chorava de rir descontroladamente. A ala portuguesa, no meio de tanta exuberância, ria também, só que de forma mais discreta. Não tinha como se manter impassível, nossa risada era contagiante! E contagiou até o nosso garçom, o Mendes. 

O pobre do Mendes foi pego para Cristo pelo Mário, que se apresentou e ainda falou:

- Vem cá, vou te apresentar o pai da noiva! 

E foi procurar o meu amigo Raul. Apresentações feitas, diz o Mário:

- Se quiser um aumento, esse é o homem do dinheiro! Fala aqui com ele!

Na foto abaixo, Mário, Raul e meu pai:




O Mendes demonstrou jogo de cintura, e entrou no clima da nossa mesa, contando até piadas. A certa altura, ele veio falar comigo:

- És muito parecida com uma atriz brasileira! 

Heim? Ele continuou:

- Sabes a namorada do Tufão?

E agora, como explicar que sou uma brasileira que não vê novelas? Perguntei o nome da atriz, ele não sabia. Só repetia que eu parecia a namorada do Tufão. Depois de mais um pouco de pesquisa, descobri de quem se tratava: Heloísa Pérrissé! 

Como diria o Pica-Pau: "em todos esses anos nessa indústria vital, esta é a primeira vez que alguém me confunde com uma artista"...

Logo depois, chegam os pais do noivo à nossa mesa. Imediatamente brada o Mário:

- Espera aí que eu vou te apresentar um cara legal. Mendes!!!

O pobre do Mendes, trabalhando. E o Mário:

- Vem conhecer o pai do noivo!

As risadas continuavam e a comida, deliciosa, nos deixava enfastiados. Os talheres diminuíam também. O Mário olhava para mim e dizia:

- Tá certo isso? Estou sem talher e ainda falta a sobremesa!

- Tem talher logo acima do prato, seu Mário!

- Ah bom, porque senão eu ia pedir para o Mendes! Cadê o meu amigo? Mendes!!!!

Chegou a hora de partir o bolo. Eu, pensando que seria dentro do salão, como sempre é, certo?  Foi quando a noiva me disse:

- Cortaremos o bolo lá fora, com fogos de artifício!

Como é que é?

É assim, ó:


Isso foi só o começo! Cortado o bolo, veio o brinde!


Eu, ao lado da Carmen, não me aguentei e chorei de emoção! Foi a parte mais incrível da festa, pura magia!

Após o bolo, a música ao vivo tomou conta da festa. Os músicos, dos Açores, eram espetaculares. Mas essa parte da festa não pude desfrutar, minha priminha não estava se sentindo bem e a levamos para casa. Considerando que eu tive cólica renal no dia anterior, sei bem como é não se sentir bem em uma festa. Solidariedade sempre!

Despedidas feitas, veio o derradeiro perrengue da noite: voltar a Esposende. A Carmen deu o caminho de volta, mas é claro que nos perdemos. Tarde da noite, começamos a buscar informações na rua. Eu parei um grupo de caminhantes e perguntei a direção para Braga, pois de lá seguiríamos para Esposende sem problemas. A líder do grupo respondeu:

- Ora, pois, qualquer caminho aqui leva a Braga!

Hum... Ok, mas qual o melhor caminho? Um garoto respondeu: 

- Ora, não sabes chegar a Braga?

Pacientemente, respondi:

- É que somos do Brasil e não conhecemos o lugar...

O garoto:

- Mas o que estás a fazer aqui, então?

A líder do grupo:

- E isso lá é da tua conta, ó pá! Ela faz o que quiser! Não te metes na vida alheia!

Comecei a rir! O garoto, coitado, tentou se endireitar. Perguntou:

- Tens que ir para a ponte "tal", sabes qual é?

E a líder, mais uma vez:

- Ela já disse que não é daqui, como ela vai saber da ponte, ó pá?

O pobre garoto desistiu. Fiquei até com dó dele...

Recebemos as indicações, complementadas por mais algumas dicas da dona do restaurante local. E chegamos a Esposende sem problemas.

Foi só no hotel que desci do salto. Com um sorriso de orelha a orelha, tirei o laquê do cabelo, a maquiagem do rosto e fui dormir, com a sensação de que cada milha voada para comparecer ao casamento foi lindamente recompensada com muito carinho por parte dos noivos e dos pais da noiva. Carmem e Raul, adoramos vocês! E felicidades aos noivos que, a esta altura, já estão na Tailândia!

Boa noite, pessoal!





segunda-feira, 3 de junho de 2013

Perrengue médico em Paris

Hoje a coisa foi tensa. Nervosa mesmo. O que eu chamo de perrengue classe A. Mas como teve um final feliz, aproveito a ideia da Solange Oliveira, amiga e parceira de pedaladas, e conto a vocês o que aconteceu, para servir de alerta.  

Meu alerta é: não saia do seu país, ou mesmo da sua cidade, sem um seguro médico. 

Pode parecer brincadeira, coisa desnecessária, precaução em excesso. Mas digo a vocês: não é. 

Quando se está num país estrangeiro, sem acesso ao seu médico de confiança (e, prinipalmente, ao seu receituário), é que a gente dá valor ao seguro. 

Vejam só o que me aconteceu.

Desde ontem, comecei a sentir um certo desconforto. Sabem quando as circunstâncias te levam a fazer um "pinga-pinga" pelos banheiros da cidade? Pois é, amigos, o número 2 estava fora de controle!

Agora realiza a cena: euzinha, visitando as praias do desembarque do Dia D na Normandia, tendo que usar todo o meu treinamento ninja para não "causar" na excursão. Quem disse que tem banheiro disponível na praia? E fazer um estardalhaço no banheiro do ônibus arruinaria a reputação conquistada perante o grupo de turistas às custas do meu inglês. Enfim, foi tenso, mas completei o passeio sem maiores incidentes. 

Na minha ingenuidade, pensei: ah, amanhã estarei melhor, deve ter sido alguma coisa que eu comi e me fez mal. Ah, se fosse tão simples...

Pensei nisso pelo seguinte: aqui em Paris, não há muito cuidado, por parte das pessoas que te servem comida, com a higiene. A mulher que faz o troco no caixa embala seu pão sem lavar as mãos; o sujeito para quem você pede o sanduíche não se limita apenas a apontar para a sua escolha, tem que enfiar o dedo fura-bolo na comida. E sabe-se lá onde ele andou enfiando aquele dedo, certo? Se fosse em SP, a vigilância sanitária já teria interditado todos os lugares nos quais comi. E se os franceses têm anticorpos suficientes para não adoecerem nessas circunstâncias, eu não os tenho. Descobri que sou frágil feito um cristal barato. 

Assim, quando acordei hoje, não me senti melhor. Ao contrário, não queria sair da minha cama que, por sinal, é bem perto do banheiro, lugar estratégico e absolutamente necessário naquela conjuntura. Olhei para o meu pai, já pronto para tomar o café da manhã, para o dia lindo que fazia lá fora e pensei: pô, estou em Paris! Vou levantar da cama e seja o que Deus quiser!

A primeira parada foi em Montmartre. Bairro repleto de artistas, cuja joia da coroa é a basílica de Sacré Coeur. Eu, já sabendo que a bendita igreja fica no topo de um morro, entrei em pânico. Afinal, qualquer esforço complicaria o meu já estropiado equilíbrio intestinal. Tive que "invadir" uma lanchonete atrás de banheiro antes de iniciar a subida. 

Feito isso, fizemos a visita, conforme planejado. Eu, passada de tanto ir ao banheiro, já estava desidratada. Mas como tomar água à vontade sem a garantia de achar um banheiro por perto? E o pior, era beber água e a dor de barriga aparecer em toda a sua glória! Eu estava no dilema "Tostines": não beber água  e passar mal ou beber água e fica ainda pior? Belezura de passeio...

Depois do almoço (e mais uma fila de banheiro enfrentada), rumamos para o Quartier Latin, o bairro latino. A Sorbonne fica lá, bem como os resquícios do império romano em Paris. 

Estávamos no metrô, eu e papis, quando decidi que não dava mais para continuar. Disse ao meu pai: vamos para o hotel, vou precisar de um médico. 

Papai entrou em pânico. Ele não fala inglês, muito menos francês. Não sabia o que fazer, como poderia me ajudar. Foi aí que eu tranquilizei:

- Calma, pai, eu tenho um bom seguro médico. Vou acionar e vai ficar tudo bem!

Aí ele relaxou. E se lembrou do que é público e notório: tenho todo o tipo de seguro. Vida, médico, internação e por aí vai. Valho mais morta do que viva! Se o avião cair comigo dentro, então... Meu pai tá feito na vida!

Cheguei ao hotel em frangalhos. Localizei o telefone de atendimento do meu seguro e fiz a ligação da recepção do hotel. O gerente, por sinal, fez a ligação para mim na hora. E não cobrou um tostão por isso. Gente finíssima!

Abri a ocorrência, dei todos os dados. Perguntaram se eu precisaria de intérprete, e eu disse: bom, falo inglês, estou conseguindo me virar bem por aqui até agora!

Prometeram que, em até uma hora, entrariam em contato comigo para me informar o hospital onde seria atendida. 

Subi para o quarto e aguardei a ligação. Qual foi a minha surpresa quando, alguns minutos depois, recebo uma ligação no quarto. Eis o diálogo:

- (mulher, falando francês) Aqui é da seguradora, estamos com um pedido de atendimento médico para a segurada Fernanda. Devo continuar a falar em francês ou inglês?

Sorte que, como o francês é uma língua latina, dá para entender alguma coisa. Respondi:

- Em inglês, por favor!

- Estamos em contato com o médico, que está se dirigindo ao seu hotel para atendimento. Por favor, permaneça no quarto. 

Uau, atendimento domiciliar! 

Disse que aguardaria. Cerca de uma hora depois, bate o médico na minha porta. Senhor de meia idade, que falava inglês. Começou a fazer uma série de perguntas e a me examinar. Ele prescreveu 3 remédios, e disse que, se não melhorasse, que eu deveria entrar em contato novamente com a seguradora. Eis o receituário do médico: 



Próxima parada, comprar os remédios. 

Pedi ao gerente do hotel indicação de farmácia. E ele me contou que o médico, antes de se dirigir ao meu quarto, perguntou coisas sobre mim! Ele disse:

- O médico quis saber de quem se tratava. Se era senhor, senhora... Eu disse que era uma moça cheia de encantos!

Caí na gargalhada! Tô podendo, heim?

Fui até a farmácia. No caminho, tive que atravessar um trecho de ciclofaixa. E, surpresa das surpresas, quando já estava praticamente fora da área das bikes, fui atropelada por um ciclista!

Ah, pqp... Justo eu, que também sou ciclista? Aff!

Comecei a falar "desculpe, desculpe!" em inglês, mas aí parei pra pensar: o culpado era ele, que estava praticamente  fora da faixa, não freiou e não buzinou! Aí fechei a cara e comecei a bradar, em inglês:

- Por acaso não sabe usar os freios? E a buzina, não tem?

O cara, emburrado, nada disse. E eu:

- Tá pensando que a rua é só sua?

Continuei reclamando, e o sujeito foi se afastando, de soslaio. Ainda gritei:

- Se não sabe pedalar, deixa a bike em casa e vai à pé!

Continuei rumo a farmácia, agora com parte do corpo dolorida. A trombada foi consideráve

Cheguei na farmácia e entreguei o receituário para a atendente, dizendo "boa noite" e "por favor", esgotando, assim, todo o meu francês. Ela me fez uma pergunta em francês e eu respondi em inglês: desculpe? E ela respondeu:

- Ah, turista!

Eu:

- Oui...

Ela pegou os três remédios, preencheu a papelada (muita burocracia) e me explicou o que estava escrito na receita. Só que o inglês dela era bem ruim. Então se valeu da internacional mímica para me explicar. 

Para o antibiótico:

- Este, tome um de dia e de noite. Serve para...

E fez uma cara de desconforto.

Para o remédio de enjôo:

- Este, tome 3 vezes ao dia. É para...

E simulou um vômito. 

Para o remédio da dor:

- Este, só se tiver...

E fez uma cara de dor!

Não agüentei, caí na gargalhada! E falei:

- Entendi perfeitamente!

Nós duas ficamos rindo da situação! Saí da farmácia com lágrimas nos olhos, de tanto rir, sacolinha cheia de remédios, e voltei para o hotel. Tomei a medicação conforme a instrução da mímica, e agora espero melhorar desse perrengue, finalmente. Porque amanhã, bem cedinho, vou pegar o TGV para Provence!

Já estava redigindo o causo quando recebo uma ligação do Brasil. Era a seguradora, perguntando se eu havia sido atendida, qual era o diagnóstico (gastroenterite), e informando, ainda, que eu seria reembolsada pela compra dos medicamentos. Tudo acertado, agradeci o atendimento e arrematei:

- Ainda bem que deu tudo certo. Porque ninguém merece ter uma diarréia em Paris, né?

E assim desliguei, não sem antes deixar a atendente da seguradora gargalhando aí no Brasil. É, só rindo mesmo!

Moral da história: seguro morreu de velho. Já pensou o que seria de mim sem essa assistência? Poderia ter arruinado a minha viagem. Do jeito que foi, só perdi uma tarde. E fica a dica: só saiam do país com o seguro médico em dia!

Boa noite, pessoal!