sexta-feira, 31 de maio de 2013

Pedalando em Versailles

O post de hoje vai contar uma experiência inesquecível: andar de bike em Versailles!

Desta vez, nada de perrengues, apenas um agradável dia na França. Nem mesmo eu mereço perrengue todo dia, ne? Bóra ler!

Depois de muitas milhas voadas, descobri que a melhor maneira de se conhecer um lugar com autonomia e liberdade é pedalando. Já escrevi sobre isso no causo "Pedalando em Nova York" e, depois dessa experiência, vou pedalar em uma viagem sempre que tiver a chance.

Antes de embarcar rumo a França, fiz uma pesquisa online e descobri a empresa "Bike about tours". Muito bem avaliada no TripAdvisor, oferece dois tours: Versailles e Paris. O de Paris, farei amanhã. O de Versailles, conto agora para vocês como foi. 

O ponto de encontro foi em frente à catedral de Notre Dame. Ou seja, já começou em grande estilo. Aproveitei o fato de ter chegado cedo e visitei a catedral. Como foi uma visita rápida, farei um repeteco amanhã. 

A princípio, éramos só eu e meu pai. Só que foi chegando gente, e mais gente, e mais gente... No total, foram 2 grupos de 12 ciclistas, cada um com a sua guia. É a lotação máxima da empresa. Ou seja: o passeio é incrivelmente requisitado. E é assim porque vale a pena!

Rumamos para a estação de trem e embarcamos rumo a Versailles. A viagem, cerca de 12 milhas, foi feita com tranqüilidade. A paisagem era maravilhosa, bucólica. Passei quase o tempo todo olhando para fora. 

Assim que chegamos ao destino, fomos pegar as bikes. Equipamento novo, dotado de um câmbio de 3 marchas (mais do que suficiente) e uma grande cesta. Precisaríamos dessa cesta mais tarde, aguardem!



Depois das explicações iniciais, começamos a pedalar. Poucos minutos depois, demos de cara com esse cenário maravilhoso!


Se por um lado o lugar é lindo, a quantidade de gente que o visita é de assustar. Como um dos destinos turísticos mais conhecidos da França, Versailles recebe gente de todo o mundo, todos os dias, faça chuva ou faça sol. Tivemos sorte, pois não choveu. Só tivemos que suportar o frio. Mas quem sai na chuva é pra se "queimar", certo? Então bóra pedalar!

A nossa guia,  Amber, nos contou um pouco da história de Versailles. Sua origem, quem morou ali, a parte política também. Para esse tour, é essencial o conhecimento de inglês, pois tudo é dito nesse idioma. Se não souber, vai perder muita coisa. 

Próxima parada: mercado local. É o mesmo que abastecia a corte de Luis XV, puro charme! Estacionamos as bikes com uma missão: comprar suprimentos para fazermos um piquenique nos jardins de Versailles! 

Chegando lá, vi que a cidade está repleta de empresas que oferecem o tour de bike. Os próprios moradores usam a bike todos os dias, como meio de transporte. 



Fomos atrás dos nossos mantimentos para o piquenique. Compramos vinho, sanduíches na baguete, croissants e salada. Enchemos a nossa cesta e rumamos para os famosos jardins.

Em algumas áreas, as bikes não são permitidas. Estacionamos e fomos à pé. 



Enquanto nos deliciávamos com a paisagem, nossa guia nos explicava a etiqueta da corte, como a área verde era utilizada pela população (é, os súditos eram livres para entrar e sair do lugar, também fiquei surpresa), e como a vida do rei e da rainha era apresentada à corte como um espetáculo. Mesmo não estando florido, o jardim é de tirar o fôlego!




Enquanto o meu pai e eu tirávamos fotos, a guia veio puxar assunto comigo. Não havíamos conversado muito, e ela quis saber de onde eu era. Respondi:

- São Paulo, Brasil!

Ela:

- Ah, Brasil! Tivemos uma guia na empresa que também era brasileira!

Enquanto dizia isso, foi caminhando para o resto do grupo. Foi quando ela disse, para todo mundo ouvir:

- Descobri, pessoal, eles são do Brasil!

E todo mundo, quase em uníssono:

- Ah, Brasil!

Olhei para a guia sem entender o porque da reação. Foi aí que ela me explicou:

- É que o pessoal estava curioso para saber de onde vocês eram!

Olhei para o grupo e falei, em inglês:

- Pessoal, podem me perguntar, eu falo inglês!

Sorrisos apareceram de imediato e, na seqüência, engatilhei uma série de conversas. 

Para a americana que era de Atlanta, Georgia, contei que já havia visitado a sua cidade. Falei do que vi, o que achei, e trocamos muitas informações. 

Também conversei bastante com um casal canadense, os únicos que estavam de capacete. Foi aí que eles me disseram que estão há semanas pedalando pela Europa. Já pensaram, que delícia? E como já visitei algumas cidades no Canadá, nos pusemos a conversar. Eles mencionaram a copa do mundo a ser realizada no Brasil. Pensam em vir para cá! E eu só pensando no caos do nosso transporte público, nos estádios inacabados... Respondi a ele:

- É, teremos a copa... Mas não sei se estará tudo pronto. Espero que esteja!

Ele me olhou com uma cara de interrogação, e continuei:

- Sabe, no Brasil as coisas são um pouco complicadas porque blá blá blá...

O sujeito me ouviu atentamente. Mas não creio que o tenha desencorajado a vir para cá. Tudo pelo futebol!

Antes do almoço, fizermos uma parada nos jardins Trianon. Trocando em miúdos, a "minifazenda" da Maria Antonieta. Era para esse lugar que ela vinha em busca de privacidade.



Mais uma vez, a guia deu um show ao contar a história da esposa do Luis XVI. Segundo ela, a rainha foi vitima de um marketing desastroso, o que contribuiu para a sua má fama que perdura até hoje. 

Recentemente, foi feita uma pesquisa junto a população francesa, na qual foi perguntado se, de acordo com o entrevistado, Maria Antonieta deveria receber a pena de prisão, a guilhotina ou ser libertada. Mais de 60 % da população a mandou para a guilhotina! Quando o entrevistador perguntava o motivo, a resposta era: Ah, bem, sabe como é... E nada plausível era apresentado para uma pena tão severa. E isso duzentos anos depois, heim? 

É chegada a hora do almoço! Todos sentados na grama, comendo e desfrutando da paisagem. De tirar o fôlego!



Depois de muito vinho, comida e bate papo, hora de conhecer o interior do palácio. 

E que interior!

Ostentação à máxima potência, Versailles foi construído para impressionar, e mostrar o que a França tinha de melhor em termos de arte e decoração. Praticamente uma "Casa Cor". Tudo o que estava exposto era de origem francesa. Exceto os espelhos, vindos de Veneza, que adornam o Salão dos Espelhos. Esse humilde corredor mostrado abaixo:



Uma coisa é certa: não é fácil tirar fotos no interior do palácio. Não é por causa dos guardas. O problema é a quantidade de gente lá dentro! Chega a ser assustador: a hora de turistas te leva, independentemente da sua vontade, pelos corredores. Cada parada é um flash, em dúzias de idiomas diferentes. Só não era uma visão do inferno porque era Versailles!

Interior visitado, hora de voltar a Paris. Eu, feliz da vida por ter pedalado e passado o dia inteiro sem dor nas costas. Caminhada, para mim, é um horror, dói tudo. Mas é só me colocar numa bike que eu pedalo quilômetros sem reclamar. E quem pedala, vai mais longe!

Boa noite, pessoal!


quinta-feira, 30 de maio de 2013

O primeiro causo de Paris!

Olha aí o primeiro causo de viagem!


Comecei a escrever aproveitando uma "janela": acordei às 6 da manhã do primeiro dia e comecei o causo, mas só consegui acabar hoje, no terceiro dia! Não tenho tanto tempo ocioso para escrever como tive no cruzeiro do ano passado, mas fiz um "serão" para contar o primeiro causo de Paris!

Vamos do início.

A viagem teria começado tranqüila, se não fosse por um detalhe: escolhi justo a véspera do embarque para ter aquela dor de barriga "felomenal", como diria Giovanni Improtta. Tenso mesmo, fui "pulando miudinho" até Lisboa e de lá até Paris. Chegando a Paris, eu simplesmente esqueci o fato de não estar bem. Afinal, quem vai lembrar de uma coisa dessas por aqui? Hehe...

Tirando uma ou outra turbulência, os voos foram tranqüilos. E devo dizer que fiquei agradavelmente surpresa com os serviços da TAP! Foi-se o tempo dos "Tamancos Aéreos Portugueses". O serviço foi impecável, os aviões, novinhos. E a comida estava boa, mas teria aproveitado mais se não estivesse tão prejudicada. Felizmente meu assento era perto do banheiro...

Fizemos uma parada em Lisboa, no aeroporto Portela. Essa sim, foi uma parada tensa. Isso porque o voo para Paris sairia em menos de uma hora! E ainda tínhamos que passar pela imigração.

A fila estava longa, mas não demorou muito. Perguntaram para mim onde eu iria, carimbaram o passaporte e só. Nem declaração de alfândega deram para preenchemos. Acho que, pelo fato de Portugal estar numa situação periclitante, o que o turista trouxer (e deixar no país) é lucro!

Saindo da imigração, fomos correndo em direção ao nosso portal de embarque. Tivemos, claro, que passar por mais uma verificação de segurança. E sabem o que acontece quando estamos com pressa, certo? Acontece sempre algo que te atrasa. Nesse caso, foi uma turma de vovós, bem na nossa frete. 
Não tinha jeito dela passarem no detector de metais! Era relógio, chave, moedas, placas de titânio nos quadris, sei lá mais o que. Elas iam e voltavam, a fila crescia e nosso avião estava prestes a sair!

Qualquer turista com o mínimo de prática sabe: deixe os metais na bolsa, certo? Ah, mas as vovós nem aí! E quando finalmente conseguimos passar pela segurança, saímos desembestados feito a família do "Esqueceram de Mim" rumo ao nosso portão. Felizmente, chegamos bem a tempo do embarque. 

Assim que chegamos em Orly, tivemos a primeira tentativa de nos darem um "chapéu": o caixa da lanchonete quis ficar com parte do nosso troco. Mas papis, muito esperto, percebeu. Demos uma nota de 20 e o sujeito devolveu troco como se tivéssemos dado só 10! Ele começou a falar:

- Twenty, twenty! 

O caixa, sem graça, deu o troco certo. 

Depois, era hora de responder a pergunta que eu mais adoro fazer durante uma viagem: e agora, para onde vamos?

Quem já leu outros causos, sabe. Não gosto do esquema "traslado e City Tour". Eu adoro chegar a um lugar novo e ter que descobrir, por conta própria, o que fazer. É parte da emoção da viagem, ter que interagir com os locais mesmo sem conhecer o idioma. Mas falando inglês fica mais fácil, já que as pessoas que lidam com turistas costumam falar ao menos o básico do idioma. 

Primeira parada: centro de informações turísticas. Usei a minha frase protocolar, falando todo o francês que eu conheço:

- Bom dia! Por favor, você fala inglês?

Digo a vocês, até agora tem funcionado muito bem. Os franceses ficam contentes por ouvir o turista ao menos cumprimentando no idioma deles. E se mostram bem solícitos. 

Compramos uma passagem de ônibus, saindo do aeroporto, até uma estação de metrô. Eu e a torcida do Corinthians, claro! Vi que muita gente passava longe dos taxis. Os preços são proibitivos e o trânsito aqui é digno de SP. 

O problema começou quando tivemos que arrastar a nossa bagagem no metrô. Nem todas as estações têm escadas rolantes em todos os lances. Em alguns casos, tivemos que fazer duas viagens para mover toda a tralha. Pelo menos foi treino de bíceps!

Em uma das catracas, meu pai se atrapalhou todo e acabou preso com as malas. Não dava para ir ou para voltar. Seria cômico, se não fosse trágico. Um moço se ofereceu para ajudar, e meu pai foi empurrado para dentro da estação.

Assim que arrumou as malas, percebeu uma coisa: a carteira havia sumido!

E aqui, o mundo dá voltas! O mesmo moço que ajudou o meu pai achou a carteira dele no chão, e a devolveu intacta. Gentileza pura!

Próximo passo, aprender a andar no metrô de Paris. 

Dificuldade? Nenhuma mesmo. É só seguir o mapa. Eu já havia selecionado previamente a estação que julgava mais próxima do nosso hotel, então planejei com antecedência as baldeações necessárias.
Chegamos direitinho na estação. Mas quando colocamos os pés na rua... Socorro!

E por que?

Acho que demos de cara com a rua mais "barra pesada" de Paris!

Lugar sujo, mal freqüentado. Muita gente, claramente desocupada, perambulava pelas ruas. Olhavam para nós com desconfiança. Eu e meu pai, de olhos arregalados, só pensávamos: como pedir informações aqui sem sermos assaltados?

Confesso que o mapa que tinha comigo não foi de muita ajuda. Contava poder conversar e pedir informações, mas era um sujeito mais assustador do que o outro. E agora, o que fazer? Detalhe adicional: chovia!

Resolvi dar a cara à tapa. Já fiz isso em país muçulmano, vai dar certo em Paris também. Pensamento positivo é tudo nessa vida. Lembrem-se sempre disso!

Entrei em um mercadinho, mais capenga do que a minha coluna, e comecei a "sentir o clima". Duas mulheres cuidavam do lugar, jogado às traças. Não pareciam muito amistosas, mas eu estava "precisada", certo? 
Fiz o óbvio. Comprei alguma coisa para puxar assunto. No caso, uma garrafa d'água. Fui até ao caixa, paguei a mercadoria e comecei a falar. 

Como eu esperava, o inglês delas era praticamente inexistente. Mas como eu havia feito uma compra, a loja estava vazia e a minha cara era de de puro desalento, resolveram me ajudar. 

Depois de muito blá blá blá Whiskas Sachê arrematado com um "merci", arrastei meu pobre pai, eu mesma e nossas malas pela chuva fria, na direção indicada. 

Depois de um tempo, claro, estávamos perdidos de novo! 

Lá fui eu atrás de mais informações em uma drogaria. Novamente, encontrei boa vontade da atendente e rumamos para a direção que nos foi apontada: segue reto, passa duas ruas e entra à esquerda. 

Tudo o que conseguimos foi achar um Carrefour. Nada de hotel. Ok, lá vou eu atrás de mais indicações. 
Foi aí que um rapaz que estava na fila do mercado me deu a luz no fim do túnel: a rua era uma quadra dali, virando à esquerda. 

Peguei meu pai e fomos esperançosos para a rua, que se revelou a correta, finalmente!

Caso encerrado? 

Vai lendo...

Eis o endereço do hotel: 100, rue du Faubourg Saint-Denis, 10. Gare du Nord, 75010 Paris. Agora me diga, qual é, afinal, o número do hotel? 100 ou 10? 

Cri cri... Cri cri...

Como o moço falou para virar à direita, e naquela altura só tinha do número 90 para baixo, assumi que era o número 10, e nos pusemos a caminhar. Com as malas e na chuva. 

Agora, falando sério: parece que, quanto maior o cansaço, mais a gente demora para chegar ao destino. Andava, andava, e a numeração não descia. Aí eu percebi que a numeração não se baseava na distância, como em SP. A numeração dessa rua tinha TODOS os números, não importando o tamanho do prédio! Então foi 90, 88, 86, 84... E necas de chegar ao 10!

Continuamos resolutos. Mesmo porque não tínhamos opção, certo? Mas quando chegamos ao número 10, nada de hotel. Era apenas uma portinhola, que dava para um corredor, que dava para não sei aonde. Toca pedir informações de novo. 

Peguei um senhor numa banca de frutas e mostrei o endereço. Aí ele me disse, em francês:

- Aqui diz número 100, e você está no número 10!

E mostrava os dedinhos, tentando fazer o discurso mais claro possível. 

Ah... Então eu deveria ter virado à esquerda. E o número do hotel é o que está na frente, e não atrás. Tá, aprendi mais uma. 

Voltamos por onde viemos, pisando duro. Na chuva, arrastando as malas. Mas com final feliz, desta vez! Achamos o hotel, o gerente já me chamou pelo nome e me deu uma ótima notícia: teríamos café da manhã grátis por toda a estadia!

E o melhor: o hotel era distante da área "barra pesada". Descemos na estação de metrô errada! Largamos as malas no hotel e fomos atrás dos passeios, previamente escolhidos. 

Primeira parada, Cityirama, agência de turismo. 

Deveria ser mamão com açúcar. O lugar fica na rua Pyramides. Tem a estação de metrô Pyramides. E a estação apontava a saída para a rua Pyramides. 

Fácil, né?

Sei...

Saímos na rua da Ópera!

Como eu havia assumido que sairíamos na bendita rua Pyramides, nem me preocupei em olhar o nome da rua. Andamos até o número da agência e, quando lá chegamos, nada. Putz!

Aí, depois de ver que era a rua errada, arrastei meu pai de volta à estação do metrô. Não é possível, a Pyramides deve ser aqui perto!

E era. Mas a saída da estação não era bem nessa rua, apesar da placa dizer o contrário. A tal rua ficava de "ladinho", de soslaio. Aff! Então por que a placa não fala que a gente sai da rua da Ópera? Vai entender...
Achamos a agência e compramos os passeios. 

Agora, outra missão: achar a "Bike about tours", para comprarmos o passeio de Versailles. De bike!
O site da agência dizia. Entra no estacionamento "Vinci Car Parking", e nos achará lá. 

Sei... Vai lendo!

Entramos no tal do estacionamento, primeiro piso, e nada de bike à vista. Assim, descemos mais um piso. E nada. Mais outro, mais outro... Acabou o estacionamento e necas!

Lá fui eu perguntar sobre "bike tours". Ninguém sabia. Um guarda me levou até à porta, indicando que aluguel de bike, a Vélib, é feito na rua. Mas esse é o serviço de bikes de Paris, eu quero ir para Versailles!
Dei a minha última cartada: fui na administração do estacionamento. Cheguei lá e falei:

- Estou procurando a empresa tal que faz passeios de bike assim assim...

E o sujeito:

- Ah, eles não estão aqui hoje,  pois está chovendo!

Eu mereço... Mas aí ele falou:

- Vou te levar na locadora de veículos, o atendente tem o telefone do responsável, o Christian.
Fui atrás dele, que se dirigiu ao atendente da Avis. O sujeito da locadora fez uma ligação no celular e me passou o telefone. Finalmente, consegui falar com o tal Christian.

Para reservar o passeio, ele queria o número do meu cartão de crédito. Eu, claro, não dei! disse a ele:

- Eu vim aqui para pagar em dinheiro, não quero usar o cartão. Posso te pagar amanhã, antes do passeio?

E ele:

- Geralmente não fazemos as compras de bilhetes sem uma reserva... Mas vou confiar que você vai aparecer. 

Disse a ele:

- Apareço sim, não perco esse passeio por nada!

Deixamos tudo acertado. E depois disso, eu e meu pai só conseguimos voltar para o hotel, tomar banho e desmaiar. Tínhamos que descansar, marquei Versailles para o dia seguinte!

Mas esse vai ser outro causo. São quase 1 da manhã aqui e preciso dormir...

Boa noite, pessoal!

Ah, abaixo, alimentando os passarinhos perto da catedral de Notre Dame. Incrível!




quinta-feira, 23 de maio de 2013

As aparências enganam...

Olá, pessoal!
Aqui vai um causo pá-pum, parcialmente inédito.
Pá-pum porque é rapidinho. E parcialmente inédito porque eu postei a segunda parte do texto ontem no Facebook, enquanto sacolejava no ônibus. Até pensei em deixar o texto só por lá, mas os comentários foram tão positivos que decidi colocar no blog também. E para instigar a curiosidade dos que leram o causo original, vou acrescentar uma passagem que também aconteceu ontem, antes do “causo principal”. Bóra ler!
Estava eu, bela e faceira, no ônibus, em direção ao consultório do meu ortodontista. Check-up pré-viagem, coisa de rotina. Eu mal me apercebia das pessoas ao meu redor, pois estava lendo o último livro do Dan Brown no meu Kobo, “Inferno”, e o perrengue corre solto nessa história. Desta vez eu fiquei com pena do Robert Langdon!
Enquanto lia, notei que uma senhora idosa, muito bem vestida, cabelinho ajeitadinho e bolsa a tiracolo, subiu no ônibus e ficou de pé ao meu lado. Imediatamente, verifiquei se tinha lugar para ela sentar, pois idoso tem preferência, certo? Como vi que os lugares de idoso estavam vagos, voltei ao livro sem pensar duas vezes. Afinal, se ela queria ficar em pé, a escolha era dela.
Voltei à história quando, sem motivo aparente, ouço uma voz feminina gritar a plenos pulmões:
- MAS QUE MERDA!
Heim?
Levantei os olhos à procura da fonte. Era a tal velhinha, supostamente elegante. Estava completamente possessa! E continuou a berrar:
- AGORA É ASSIM, AS PESSOAS PASSAM POR CIMA DA GENTE! QUE MERDA!
Todos no ônibus olhavam para a vovó, de queixo caído. Ninguém esperava ouvir palavrões saindo da boca de tão distinta senhora.
Pelo que pude averiguar, alguém deve ter esbarrado nela ao passar em direção à catraca. Mas confesso, não vi se foi uma trombada brusca o suficiente para obter tamanha reação da velhinha. Ninguém abriu a boca, todos ficaram só assistindo ao show que se seguiu: ela não parava de reclamar. E se exaltava cada vez mais. Numa freada mais brusca do ônibus, voltou à carga:
- TÁ TRANSPORTANDO CARGA AGORA? VOU ACABAR VOANDO AQUI! QUE MERDA DE MOTORISTA!
E teve mais:
- A GENTE FICA SACOLEJANDO PRA LÁ E PRA CÁ FEITO SACO DE LIXO...
Os resmungos continuavam sem parar. O motorista, sabiamente, não abriu a boca. A cobradora fez o mesmo. Mas um rapaz, vendo que a vovó estava à beira de um colapso nervoso, interveio:
- A senhora não quer se sentar?
- NÃO!
- Tem cadeiras vagas aqui...
- NÃO QUERO ME SENTAR!
- A senhora pode cair...
- EU JÁ VOU DESCER!
- Não quer nem se apoiar aqui na...
- EU JÁ DISSE! VOU DESCER NO PRÓXIMO PONTO, QUE MERDA!
Aff...
Como prometido, a vovó desceu no próximo ponto. Saiu pisando duro, gritando mais palavrões enquanto se afastava. O motorista, assim que fechou a porta, falou para os passageiros, alto e claro:
- Essa daí é esclerosada!!
Todo mundo riu, claro. Acho que o “diagnóstico” era uma unanimidade. Mas o motorista não ficou só nisso, começou a contar pra quem quisesse ouvir que enfrentava passageiros sem educação todos os dias. Quando se dispôs a falar de outros casos, uma passageira, daquelas que tem fofoca nos “zóio”, levantou e foi papear com o motorista! Ficaram lá, jogando conversa fora, na maior intimidade. Eu, que já estava em cima da hora para a minha consulta, desci do ônibus e fui cuidar da vida.
Após a consulta, tinha um programa muito mais interessante: o show do Pet Sop Boys! E aqui segue a parte que eu já publiquei no Facebook ontem. Para quem não leu, eis o que aconteceu:
“Estou a caminho do Credicard Hall, para o show do Pet Shop Boys. E, como o paulistano certamente já notou, chove na cidade.
Eu, na minha incrível estupidez, esqueci o guarda-chuva. Ou seja, estava usando meu casaco impermeável como cobertura.
Enquanto aguardava, debaixo d'água, a chegada do ônibus, senti um cheiro de cigarro. Olhei e, não muito longe, vi uma moça que fumava.
Pensei: Putz, que saco, uma fumante! Dei as costas e tentei me proteger da chuva da maneira possível.
Tempos depois, ouço uma voz feminina atrás de mim:
- Você se incomoda?
Olhei para trás, e dei de cara com a moça fumante. Perplexa, imaginei que ela estava se referindo ao seu nada saudável hábito. Será que ela me ouvi resmungar?
Mas não. Ela estava me oferecendo um lugar embaixo do guarda-chuva dela! E arrematou:
- Não vim antes porque estava fumando, não é todo mundo que gosta, sabe...
Eu, morrendo de vergonha do que havia pensado da mulher, aceitei humildemente a cobertura inesperada. E ainda me engajei numa animada conversa com ela sobre fatos cotidianos.
Como é bom realizar que, mesmo numa selva de pedra como São Paulo, encontramos lugar para gentileza... E oportunidades para calçar as sandálias da humildade. As minhas, por sinal, estão encharcadas!”
Moral da história: as aparências enganam! A vovó, toda elegante, tinha uma tremenda boca suja. Ou a síndrome de Tourrette, vai saber. E a fumante, execrada de antemão devido ao seu hábito nefasto, se revelou uma pessoa de generosidade a toda prova. Vivendo e aprendendo!
Bom dia, pessoal!

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Perrengues aéreos


Pois é, caro leitor! Andei um pouquinho afastada do blog, pois estou me preparando para mais uma série de causos de viagem. Este mês embarco para a França, Portugal e Espanha! Mas a viagem iminente, mais a inspiração provida pelos meus colegas de trabalho, me deram a ideia para o post de hoje: causos de avião!

Duvido, e faço pouco, se quem viaja com certa freqüência não tenha pelo menos um perrengue para contar. Engraçados, tristes, trágicos, por aí vai. Mas como vocês sabem, o foco aqui é no cômico ou, no máximo, no tragicômico. E como tenho alguma milhagem acumulada na minha velha carcaça, tenho umas passagens interessantes para contar.

Não sei quanto a vocês, mas eu ADORO voar! Desde pequena era fascinada por aviões. Não os de guerra, mas os comerciais mesmo: Boeing, Airbus e assim por diante. Sou capaz de ficar meia hora assistindo na TV um documentário que mostre como se faz a troca de um pneu de Boeing. É uma delícia!

Uma vez eu e meu pai, que também adora voar, quase fizemos uma loucura: por muito pouco não compramos um simulador de voo. Mas não estou falando de Playstation, caros amigos. Queríamos comprar um simulador de verdade, usado para treinamento de pilotos! Mas como era uma fortuna e teria pouco uso, a razão caiu sobre as nossas cabeças antes que gastássemos o equivalente a um carro de luxo no equipamento. Mas que nós dois fizemos beicinho para a fria realidade, fizemos...

Ainda lembro da primeira vez que andei de avião. Eu era “de menor”, estava na sexta série e meu destino era Porto Alegre. Logo de cara, viajei sozinha! Meus pais me entregaram para aeromoça da Varig (pois é, viajei de Varig!), deram adeus e foram comemorar a minha viagem, pois fiquei um mês longe de casa sem azucrinar a vida deles. A aeromoça colocou todos os meus documentos numa sacola e a pendurou no meu pescoço. Em letras garrafais, estava escrito “menor desacompanhado” na tal sacolinha. Mais mico, impossível. Eu, entusiasmadíssima com a viagem, nem aí para a coisa. Curti cada momento: entrar no avião, apertar o cinto, e experimentar a minha primeira decolagem.

Ah, a decolagem... momento solene, sagrado, de qualquer viagem! Quando o avião dá aquele arranque no melhor estilo albatroz do filme “Bernardo e Bianca”, lá vamos nós! É o momento que, para mim, marca oficialmente o início de uma viagem. Fico feito boba alegre, curtindo os estalos do ouvido resultantes do ganho de altitude. Olho a janelinha, sinto o avião fazer as curvas e não consigo tirar o sorriso ridículo que fica estampado na minha cara quando estou no ar. Aí sim, cai a ficha. Estou viajando!

Lembro que, naquela época, os talheres de bordo eram de metal, personalizados com o emblema da Varig. Hoje, é plástico e olhe lá. Mas teve uma coisa que jogou um pouco de água fria naquele primeiro voo: a comida. Para meu azar, o almoço era o prato que eu mais detesto na face da terra: estrogonofe! E, ainda por cima, frio! Comi o arroz, uns “petisquetes” e me virei até chegar a Porto Alegre. Nem o estrogonofe conseguiu tirar o sorriso do meu rosto (pelo menos não por muito tempo).

O que quase me deixou realmente de “bode” foi que, pelo fato de eu estar desacompanhada, tive que ficar na “creche” do avião, junto com outras crianças igualmente largadas pelos céus, a ala dos “menores desacompanhados”. Era mês de férias, então tinha muita criança sendo despachada para longe de casa. A aeromoça nos deixou a deus-dará e eu, como a “criança mais velha”, tive que assumir a tarefa que seria dela: alimentar aquele bando de pirralhos. Dar comida na boca, passar manteiga no pão, dar leitinho e limpar a caquinha do nariz com guardanapo... enfim, uma coisa! Tinha criança chorando porque queria a mamãe, outra porque queria mais comida, outra porque queria ir ao banheiro. Eu chamava a aeromoça e a criatura me ignorava solenemente.

Não teve jeito, tive que ser pajem. Mas não deixei barato. Afinal, eu sou uma chata de galocha desde os tempos do berçário, certo?

Naquela época, a Varig disponibilizava, na sacolinha de documentos do “menor desacompanhado”, um formulário para que o passageiro fizesse sugestões e críticas. Eu peguei o meu e, no meio daquela choradeira toda, escrevi uma carta indignada, reclamando do descaso para com os órfãos do ar (haja melodrama). Não me lembro do texto, mas asseguro que era inteligível e gramaticalmente viável. Mas nunca recebi uma resposta, mesmo tendo colocado meu endereço na carta. Afinal, naquela época ninguém falava de direitos do consumidor. Paciência, ficou “barato” mesmo.

Outro perrengue aéreo digno de nota aconteceu no retorno da minha primeira viagem internacional: Nova York! O ano era 1988 e, naquela época, não havia voo direto de lá para São Paulo. Assim, eu e meu pai tivemos que fazer escala no Galeão para, depois, pegar um voo para casa.


Foi nessa viagem que eu tive o primeiro contato com a famigerada, e onipresente no meu orçamento, classe econômica. O passageiro se sente como num poleiro, ou numa chocadeira. Aquele mar de gente pobre que não pode viajar de primeira classe (nem sei como eu me agüento, tenho horror a pobre) espremida na cadeira com a desenvoltura de uma sardinha em lata. Realmente glorioso. Mas, convenhamos: dá para chegar ao destino, certo? Então é melhor viajar no poleiro ao invés de passar a eternidade juntando milhas para a primeira classe. Viajar é preciso!


Voltando de NY na classe econômica da JAL, em 2006. Conforto à toda prova!

Eu e meu pai chegamos pela manhã acabados. Destruídos. E famintos. O café no poleiro não era grande coisa. Mas tudo bem, pegaríamos a conexão às 11 da manhã para SP, então esperávamos almoçar já na terra da garoa.

Só que, na chegada, tivemos uma surpresa desagradável: uma mala desaparecida. Tá, teria sido pior se a mala perdida fosse a de bugigangas. Felizmente era só a mala de roupa suja. Mas é roupa que, lavada, tá nova, né? Tínhamos que recuperá-la.


Aí, caro leitor... começou a peregrinação. Eu, meu pai e mais uns 15 passageiros com a mesma “sorte” (incluindo um cadeirante), tivemos que preencher toda a papelada necessária pertinente ao extravio de bagagem. Só que isso levou tempo, muito tempo. Tentaram procurar a mala, ninguém sabia onde estava o tal formulário, tudo muito confuso. Resultado: perdemos o voo para SP.

Exaustos, tivemos que remarcar o voo para o próximo horário disponível, duas da tarde. Mas e a fome? Eu nem sei se meu pai tinha cartão de crédito naquela época, ou se ele funcionava, ou se a lanchonete não aceitava. O fato é que estávamos sem um tostão brasileiro no bolso. Para ser franca, nem lembro qual era a moeda da vez naquele ano, mas tudo o que eu tinha na bolsa, e meu pai no bolso, eram dólares. E ninguém no Galeão aceitava pagamento em dólar. Onde estavam com a cabeça? Hehe...

Para piorar, a companhia aérea (a belezura da Aerolineas Argentinas) não deu nem um Biscrock para os cães famintos. Ficamos apenas com a água do bebedouro, aguardando, esfomeados, o voo das 2 da tarde. Que, na véspera do embarque, foi cancelado! E sem perspectiva de remarcação.

Ah, pqp...


Foi a gota d’água. Papai subiu nos tamancos!

Uma dica para quem lida com o público: não irrite um português diabético. Não tem como ganhar uma discussão nesse caso. Ou o português ganha, ou entra em coma. O coma é pior para a imagem da sua empresa. E a situação ainda piora quando o português está coberto de razão!

Imediatamente, meu pai assumiu a liderança do grupo dos sem mala. E decretou: vamos invadir o próximo voo para SP!

Gangue devidamente inflamada pelo entusiasmo do meu pai, todos o seguiram pelos corredores do aeroporto, tentando descobrir um voo que nos levasse para casa. E descobrimos um, que faria escala em SP para depois seguir até Buenos Aires. E havia assentos disponíveis para todos nós. Assim, nos postamos na porta de embarque e bradamos: daqui a gente não sai, só para entrar no avião!

Foi uma confusão daquelas! Chegou segurança do aeroporto, chefe de comissários e executivo da companhia para acalmarem os nossos ânimos. Meu pai, o “cabeça do movimento”, bradava aos 7 ventos o desrespeito para com o grupo, para com o passageiro cadeirante, que estávamos naquela situação porque a companhia aérea perdeu as malas de todos nós, que era inadmissível e blá blá blá...


Como estávamos enfurecidos, a companhia achou melhor ceder. Afinal, nosso exuberante grupo já chamava a atenção dos outros passageiros. Enfim, era um verdadeiro circo. Mas ainda tentaram dificultar a nossa vida. Uma comissária chegou para o meu pai e iniciou um diálogo:

- Então, como os senhores estão com o bilhete de embarque rosa do outro voo, é necessário ir ao guichê e trocar pelos bilhetes de cor azul...

- Não vou arredar o pé daqui para trocar porcaria de bilhete algum. Vocês vão ter que se virar! – bradou meu pai

- Mas é preciso trocar...

- Vai lá e troca você! Se sairmos daqui, é capaz da segurança não nos deixar voltar! Tá pensando que somos um bando de trouxas? Vocês são uns incompetentes, malandros e blá blá bla...

Os outros passageiros bateram palmas! A comissária teve que enfiar a viola no saco e trocar os bilhetes ela mesma. Ou então acabaria linchada pela nossa trupe.


Quando conseguimos, finalmente, entrar no avião, já era quase cinco da tarde. Somado ao tempo que montamos vigília na porta, ficamos praticamente o dia inteiro sem comer. Estávamos famintos! Assim, embarquei esperançosa de receber, finalmente, um Biscrock para forrar o estômago e disfarçar o buraco negro que se formava na minha barriga.

Pasmem. Tudo que nos deram foi um copo de suco. E do pequeno! Como se não bastasse, ficamos sentados dentro do avião, por quase uma hora, aguardando a decolagem. Ninguém merece...

Eu e meu pai bebemos o suquinho em um único gole, e passamos a “secar” o dos outros passageiros. Gente esfomeada faz esse tipo de coisa, é fato. E, como sempre, tem um passageiro que faz biquinho para beber o suco, enrolando, fazendo charme, como se quisesse esfregar na nossa cara, de propósito, o fato de ter ainda suco para beber. Isso é enervante, sabiam?


Só que a passageira, no caso, não conseguiu degustar todo o suco. Enquanto fazia firulas com o copo, o avião deu um tranco. Começou a ser rebocado de ré para a decolagem e o suquinho da criatura, tão cuidadosamente preservado, virou todinho em cima da roupa branca imaculada da pessoa. Nunca vi tanta indignação por um copo de suco derramado! Imediatamente a mulher se colocou de pé e começou a bradar:

- Mas que absurdo! Olha só o que aconteceu, suco na minha roupa branca!

Meu pai, que havia secado o suco da mulher até não poder mais, ria em silêncio. Bem feito, perua! A aeromoça, já sentada no seu banquinho, interrompeu a ladainha:

- Senhora, sente-se agora e aperte o cinto, o avião está em movimento!

- Mas a minha roupa está toda suja de suco...

- Senhora, SENTA E APERTA O CINTO. AGORA!


Ui, deu até medo! A mulher, suja e indignada, teve que sentar e ficar de boquinha fechada. Só depois, em altitude de cruzeiro, conseguiu ir ao banheiro para tentar limpar a roupa. Não adiantou muito, ela seguiu para Buenos Aires com uma enorme mancha laranja na roupa branca. Quem mandou ficar enrolando para tomar o suco?

Quando chegamos a SP, eram quase 8 da noite. Minha mãe, no aeroporto desde cedo, já estava mais do que atordoada. Lembrem-se, o ano era 1988, ou seja, sem celular, sem internet, sem whatsapp. Não tínhamos como avisá-la do atraso. Felizmente, como mamãe era esperta, foi se informar com a companhia aérea e ficou sabendo da perda da nossa mala. Ficou sabendo, também, que um grupo de passageiros, liderado por um “homem esquentadinho”, estava aprontando todas no Galeão. Quando finalmente conseguimos desembarcar, ela foi ao nosso encontro. E começou a falar:

- Jô (meu pai é Joaquim), o que aconteceu?

- Aqueles miseráveis incompetentes não estavam deixando a gente voltar para casa! Tivemos que invadir um avião!

- Ah, então era você o “homem esquentadinho”? Bem que eu desconfiei que você era o líder do movimento...


Eu, nada dizia. Só balbuciava a palavra “comida”. Só que precisei esperar até chegarmos em casa para comer, pois meu pai saiu do aeroporto pisando duro. É, foi punk, mas chegamos, finalmente!

Em outro perrengue digno de nota, estava viajando com os meus pais, de Madrid, rumo à cidade do Porto. Eu, animadíssima para conhecer as dúzias de primos que tenho em Portugal, não via a hora de chegar.

Embarcamos normalmente, tomamos os nossos assentos e o avião decolou. Na altitude de cruzeiro, começou o serviço de bordo. Deram o Biscrock padrão da companhia (Iberia), mas o que chamou a nossa atenção foi o sorvete. Era um potinho de Häagen-Dazs!

Por que o meu entusiasmo? Oras, o ano era 1999, não existia Häagen-Dazs no Brasil naquela época. Já havia ouvido falar naquele sorvete, e estava doida para provar. Mas alegria de pobre dura pouco: o sorvete foi servido completamente congelado!



Veja bem, não é que o sorvete estava durinho. Estava petrificado. Não entrava colher, mal dava para segurar de tão frio. Olhei frustrada para o meu potinho. Ah, não é possível, não vou conseguir provar esse negócio? Será que o de todo mundo está congelado também? Olhei para trás e vi, nos rostos dos outros passageiros, a mesma cara desolada. O sorvete estava simplesmente “incomível”.

Não me dei por vencida. Peguei o meu potinho e comecei a esfregar na mão, como se estivesse girando o graveto para acender uma fogueira. Os outros passageiros viram a minha manobra e começaram a me imitar. Aos poucos, o sorvete foi derretendo, então pude rasgar o potinho e ir chupando aos poucos. É, o sorvete era bom demais!


Mas nem todos são pacientes. Papai, por exemplo. Ele rasgou o potinho e começou a roer o sorvete, no melhor estilo Pernalonga comendo uma cenoura. O problema é que ele foi com muita sede ao pote. Mordeu o sorvete congelado com força... e quebrou um dente! Pois é, caro leitor. Saiba que é possível quebrar um dente chupando sorvete, meu pai conseguiu essa façanha. E o pior, quebrou o dente no início da viagem! Ficou com o sorriso torto, tentando esconder a janelinha, pelo resto das nossas férias. Claro, ficou ensandecido de raiva e começou a resmungar:

- Mas é um absurdo servirem uma porcaria dessas, olha só o que aconteceu e blá blá blá...


Lembrem-se: português diabético e com razão, certo? Mas como mamãe estava conosco desta vez, conseguiu colocar panos quentes na situação, ou a viagem estaria perdida sem ao menos ter começado. Como se não bastasse, pegamos uma tremenda turbulência ao nos aproximarmos do Porto. O avião tinha quedas repentinas, tremia, e algumas bagagens de mão chegaram a despencar dos maleiros. Eu, adolescente sem noção, estava adorando o voo com “emoção”. Meus pais, mais sábios, estavam brancos de medo. Felizmente, o piloto era um ninja e fez um pouso sem qualquer incidente. E lá se foi a família buscapé encontrar os conterrâneos, com meu pai sem o seu habitual “sorriso Colgate”.

Depois de produzirmos muitos causos em Portugal (vejam o post http://causosdafefa.blogspot.com.br/2013/04/causos-brasileiros-made-in-portugal_4.html), pegamos um voo do Porto para Madrid, onde faríamos a conexão para SP. E mais uma situação inusitada aconteceu.


Mamãe sempre ia muito ao banheiro, por questões de saúde. Ela sempre me dizia: “nunca perca a oportunidade de usar um banheiro disponível, ainda mais se estiver limpinho, mesmo que não esteja com vontade”. Ou seja, banheiro, para ela, tinha que estar sempre à mão.

Pois nesse voo, ela foi surpreendida. Ao se levantar da cadeira para ir ao banheiro, foi bruscamente interrompida pela aeromoça, que falou:

- Não pode usar o banheiro!

Mamãe empalideceu. COMO ASSIM, não pode usar o banheiro? A aeromoça esclareceu.


- Não pode usar o banheiro, está estropiado!

Aff! Não tinha banheiro funcionando! Para ninguém! Nenhum passageiro poderia usar o banheiro, o troninho estava ESTROPIADO!

Agora, realiza a cara da mamãe. Não é só o meu pai que tem a habilidade de se enfurecer. Mamãe também tinha. Mas o estilo dela era mais letal: muita educação, fala mansa e um olhar mais penetrante do que a visão de raio X do Superman. A combinação era realmente assustadora. Ela começou a falar com a aeromoça:

- Como assim, está estropiado? Eu preciso usar o banheiro, tenho problemas médicos, não posso deixar de ir ao banheiro!

- O banheiro está estropiado! – repetia a aeromoça.

Mamãe respirou fundo e disse, numa fala bem suave:


- Muito bem, vou tentar segurar até Madrid. Mas se não conseguir, vou fazer xixi no meio do corredor deste avião, bem na sua frente. E ainda processo essa companhia vagabunda pelo meu vexame. Estou me fazendo entender, moça?


Ah, a “moça” entendeu perfeitamente o português da mamãe. Empalideceu, olhou para baixo, envergonhada, e nada disse. Minha mãe viajou o tempo todo de pernas cruzadas, segurando o xixi, até chegarmos a Madrid. Felizmente, não precisou fazer a cena do corredor, mas foi por pouco. Pois aí não seria mais um causo do blog, mas um causo de polícia!

Claro, não é só voo internacional que rende causo. E não é só voo internacional que tem banheiro interditado.


Desta vez, estava em Natal, com destino a Fernando de Noronha. Viajava com a minha prima, e aquela era a primeira vez que ela andava de avião. O primeiro voo de SP para Natal transcorreu sem incidentes. Perguntei a ela, antes da decolagem:

- E aí, com frio na barriga?

- Não, tá tudo normal, tranqüilo!


Até que ela foi bem, estava empolgada e curtiu o voo. Claro, estava nervosa, mas não admitiu, queria ficar bem na fita, claro. Curtimos a viagem (veja o causo http://causosdafefa.blogspot.com.br/2013/02/ai-meu-fiofo.html) e pegamos mais um voo rumo a Noronha.


Ao embarcarmos, já percebi que o avião (Nordeste) era um tremendo teco-teco. Olhei para a minha prima, e ela não demonstrava a segurança do voo anterior. Aliás, perfeitamente compreensível, dado o estado da aeronave. Fiz novamente a pergunta:

- E aí, com frio na barriga?


Fiz a pergunta, pois ao examinar mais de perto nosso avião, até eu fiquei com receio. Realiza a cena: bancos remendados com fita crepe! Fala sério, o que passa pela cabeça do passageiro quando vê isso? Que os motores estão remendados da mesma forma, certo? Eu nem comentei nada com ela, para evitar pânico. Ela, para mostrar coragem e desprendimento, respondeu:

- Não, tá tudo normal, tranqüilo...

E eu só reparando nas mãos dela cravadas no encosto da poltrona, nervosismo em pessoa. Mas admitir o medo? Jamais!

Decolamos rumo a Noronha sem incidentes. E desta vez, quem precisou usar o banheiro fui eu. Só que não pude. O banheiro não estava estropiado, caro leitor. Estava repleto de carga!


Pois é, era o “contrabando da tripulação”. Até onde consegui apurar, o pessoal enchia o banheiro de produtos para revenda no arquipélago. Afinal, qualquer coisa só chega a Noronha via ar ou via mar. O frete é caro, a companhia aérea paga pouco, sabe como é, nada como ter uma fonte de renda extra, certo? E que se dane a bexiga cheia dos passageiros!

Digo uma coisa a vocês. Mesmo com tantos perrengues no ar, não dá para deixar de viajar. Como já disse Martha Medeiros, “Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo”. Agora, com licença, vou ler o novo livro do Dan Brown e matar as saudades da fase áurea do Guns N’ Roses.

Bom dia, pessoal!