segunda-feira, 15 de abril de 2013

Só em banheiro de academia mesmo...

Amigos leitores, o causo de hoje já está na minha cachola há um tempinho.


Sabem por quê?


Há muitos anos eu frequento a mesma academia de ginástica. No caso, a Bioritmo da Paulista. E há algumas semanas eu parei para pensar nas coisas que ocorrem num vestiário feminino de academia. Já pararam para pensar nisso?


Então, eu parei!


Comecei a observar os tipos, as ocorrências, a dinâmica do local. Coisa de gente desocupada mesmo, mas é daí que surgem os melhores causos. O despercebido (ou nem tanto) revelado de forma cômica. E essa é a proposta do blog!


Acredito que toda academia tenha tipos e/ou situações parecidas. Fala sério, se é para malhar e depois ir para o vestiário cheio de mulheres, vamos encontrar alguns padrões recorrentes, certo?


Comecei, despretensiosamente, a observar alguns padrões. E desenvolvi uma lista de fatos e tipos recorrentes. São quase dogmas. Afinal, posso estar errada. Mas acho divertidíssima a possibilidade de estar certa, e por isso resolvi dividir as minhas conclusões com vocês, em forma de causo. Com direito a um final inusitado, claro!


Eis o que eu concluí até agora:


1.      O pessoal que está em forma é frequentador assíduo da academia.

      Fato, e para lá de óbvio. De vez em quando, sou assídua, de vez em quando, sou turista. Estou longe de ser uma malhadora modelo e, às vezes, tomo chá de sumiço. Mas quando volto, encontro sempre aquele mesmo pessoal velho de guerra.  Essa gente que leva a malhação realmente a sério e não falta. Faça chuva ou sol, persistem.
       Exemplos: tem a corredora, cabelos ruivos ao vento, que faz miséria na esteira. Tem a que luta boxe com a ferocidade do Mike Tyson. Tem as que puxam ferro e mostram no abdome todos os gominhos cultivados com muitos abdominais na prancha. E uma delas é uma senhora que, embora já esteja na “flor da maturidade”, coloca muito broto no bolso. É impressionante. A mulher levanta peso, pedala, se alonga, faz pilates e mal transpira. Se eu chegar à idade dela daquele jeito, serei uma pessoa de muita sorte. Pensando bem... se eu conseguisse ficar daquele jeito hoje, seria o máximo. Se alguém vier me dizer que idade é empecilho para a boa forma, eu apresento o detrator àquela senhora. Vai morrer de vergonha. O que acontece comigo sempre que eu olho da barriga dela para a minha. Estou tentando criar vergonha na cara. Ainda chego lá!


2.      A fila do banheiro é sempre maior quando você tem pressa.
     
      Lei de Murphy em ação, pura e simplesmente. Sabe aquele dia que você tem que tomar um banho rápido, sair sem secar o cabelo e passar maquiagem porque já está pra lá de atrasada para o seu próximo compromisso? Pois é nesse dia que Cleópatra e seu séquito tomam a decisão: a hora é perfeita para aquele banho de leite terapêutico. Realiza a cena: um monte de mulher nua/semi-nua/vestida aguarda na fila, shampoo e condicionador na mão, chinelinho fulambento no pé, toalha sobre os ombros ou corpanzil, esperando que as primas-donas tomem o seu banho vapt-vupt de... 30 minutos! E por que a demora? Ah, precisa passar o sabonete, depois o esfoliante, depois o hidratante, depois a máscara de lama do Mar Morto (ops, acho que vou levar a minha também), depois pegam o espelhinho e escaneiam o rosto atrás de cravos, espinhas, pelos encravados. Depois vem a depilação: pernas, axilas, área de lazer. Aposto que algumas até fazem a barba! E se você precisar sair da fila para ir ao banheiro, já que demora tanto para conseguir uma vaga no chuveiro, nunca mais consegue voltar para o mesmo lugar (é, a mulherada é selvagem)! E depois que Cléo (para os íntimos) e corte deixam os chuveiros, a plebe tem que se deparar com a bagunça. Pois é, amigos... a realeza não faz faxina! É frasco de condicionador vazio, papel de embalagem de sabonete deixada pra trás, um nojo. E você, pobre coitada, agora só tem 4 minutos (como diria a Madonna) para salvar o seu mundinho insignificante e tomar o seu banho.


3.      No dia que você resolver levar a roupa mais engomadinha para vestir, o banheiro vai estar mais lotado do que o Pacaembu em dia de clássico.

      Fatão. Total e absoluto. Imagina que, depois do banho a jato, você tem que disputar espaço nos bancos do vestiário para colocar sua mochila, trocar a roupa e o sapato, guardar as coisas e colocar aquela meia de seda comprada no Depósito de Meias São Jorge. Mas aí você percebe que não tem espaço para sentar. Cléo e sua gangue espalharam bolsas, malas, nécessaires, roupas e sapatos pelo banco, ocupando o espaço de quase três pessoas (cujos egos estão sob controle). E aí você vai disfarçando, disfarçando, disfarçando... e vai comprimindo os pertences da perua aos poucos, nem que seja com a própria bunda. Momentos tensos, senhoras e senhores... principalmente se a roupa da perua foi engomada pela criadagem no dia anterior. Salve-se quem puder!


4.      A mulher que vai secar o cabelo vestida só de calcinha, na frente de um monte de gente estranha, no tradicional “top less”, tenham certeza: está querendo mostrar a plástica.

       Fatão incontestável. No vestiário de academia dá para encontrar todos os tipos de plástica: a que só deu uma “empinadinha”, a que colocou a prótese na forma de “gota”, a que exagerou no silicone e ficou cheia de estrias, a que ficou tão durinha que fura até a camiseta, a que reduziu o volume, a que ficou uma verdadeira droga. Sim, estão todas lá. Eufóricas pela turbinada, não se contentam em guardar a “obra de arte” só para si e para o par amoroso. Querem mostrar, olhar no espelho gigantesco do vestiário de frente, de perfil, de soslaio. Aposto que, secretamente, pensam: consegui, posso ser a próxima mulher melancia! Realmente, um objetivo muito elevado. E não adianta falar que estou devaneando, eu reconheço as cicatrizes muito bem, já que eu fiz a minha plástica há tempos! Mas daí a me exibir para a coletividade, é outra história. Não tenho vocação para Borg (trekkers – e Sheldon Cooper, entenderão)!


5.      Tem o exibicionismo do lado oposto: aquelas que vão nuas (ou sem calcinha) secar o cabelo. Das duas uma: ou querem mostrar a depilação artística, ou querem mostrar a lipo e a barriga chapada resultante.

      Talvez até a plástica íntima, vai saber... nessa, eu só pensei agora, enquanto escrevo. Ou estão paquerando mesmo. Sei lá, cada um na sua. Mas eu já vi gente comparando depilação, inspecionando depilação no espelho, apalpando a barriga pra ver se a cânula do cirurgião plástico realmente tirou toda a gordura da área. Só entre nós, agora: eu acho estranho fazer isso num banheiro coletivo. Assumindo a premissa de que todas as mulheres têm pelo menos um banheiro em casa, não poderiam fazer esse tipo de check-up em particular? Não é todo mundo que aprecia a observação desse tipo de intimidade. Se pelo menos fosse o banheiro masculino, até poderia reconsiderar... sou pudica, não tonta!


6.      Tem mulher que ainda não descobriu os prazeres da escova progressiva.

       Criatura digna de pena. A infeliz, além de usar um dos secadores de cabelo comunitários da academia, leva a chapinha. Aquelas portáteis, da Polishop, que vêm de brinde com as facas Guinsu e as meias Vivarina. E presilhas, muitas presilhas. Divide a cabeleira em hemisférios e trópicos e, de baixo para cima, vão eliminando os cachinhos das raízes. Começam pela Antártida, passam pela Patagônia, chegam ao trópico de Capricórnio e assim por diante. Quando elas finalmente alcançam o trópico de Câncer e você pensa que já vai chegar a tua vez, elas dão aquela caprichada na Groelândia: a famigerada franja. É chapinha, é secador, é óleo de silicone. Em casos extremos, vale até laquê, no melhor estilo “Cassandra Cascacu”. Desesperador. Hello, darlings! Eu seco meu cabelo em 5 minutos e raramente uso a escova. A lei Áurea dos cabelos crespos já está em vigor há tempos. Aproveitem!


7.      A verdade mais libertadora: todas as mulheres tem celulite. TODAS. E estrias também.

       No vestiário dá para ver que mesmo a mulher mais retocada, siliconada, botocada e plastificada tem essas imperfeições. O mundo é injusto? Talvez... mas se você acha que aquelas modelos espetaculares de revista são reais, espera só até ver as fotos sem o famigerado Photoshop. Não salva uma. Não mesmo. Nem as mais saradas, as mais magras (magreza saudável, ok?) estão imunes. Então, cara leitora, nada de fazer loucuras pelo corpo perfeito. Ele não existe. Deixe o seu corpo saudável, e estará fazendo um ótimo negócio. Se algum homem reclamar, diga a ele que procure uma boneca inflável como companhia. É o que ele merece!


8.      Banheiro é o melhor lugar para se fofocar.

      Ah, esse fato ninguém discute. Watergate poderia ter sido articulado em um vestiário feminino. Sigilo total, teorias da conspiração brotam aos quatro ventos. Acho que é aquela máxima em ação: “o que se ouve no vestiário, fica no vestiário”. Ou deveria, pelo menos. Geralmente tais colóquios são conduzidos pelas mulheres que, já providas do seu sustento para o resto da vida, não precisam sair correndo para o trabalho. Observo esses tipos quando faço academia nas férias, (fora isso, corro atrás do meu sustento). Elas sentam, cruzam as perninhas e papeiam. Papeiam sem parar. Falam mal da cunhada, do genro, da sogra, da neta... a lista é infinita. Às vezes nem o cachorro escapa, coitado. Em conversas mais longas, rola até um lanchinho. Umas barrinhas de proteína, às vezes um sanduba natureba. O cardápio, como diria Didi Mocó, “varêia”. Mantenha distância, ou vai acabar virando assunto da fofoca!


9.      Tem mulher que, em pleno século XXI, ainda não aprendeu a usar o banheiro.

      Cruel, mas verdade. O uso é simples, certo? Você senta, faz o que precisa, e vai embora. Mas se a criatura não tem pontaria... ah, Jesus amado, socorro! Já vi banheiro masculino em melhor estado. E, no nosso banheiro, temos álcool à disposição para a limpeza do troninho, não tem desculpa para tanta porcaria. Eu, da minha parte, levo um protetor descartável para forrar o assento. Até entendo que algumas pessoas não ficam à vontade em sentar no troninho público, mas daí a acertar o chão é muita barbeiragem, né? Só que o perrengue não acaba por aí. Tem gente que, ao terminar de usar o vaso, abaixa a tampa. Entendo fazer isso em casa, por causa daquelas coisas de energia que fluem, que vão e que vem... mas quando vejo isso na academia, ou mesmo no trabalho, meu sangue gela. Sempre acho que, ao levantar a tampa, vou encontrar uma bomba prestes a explodir na minha cara, e a do pior tipo. É como se eu abrisse um Kinder Ovo e não soubesse qual a surpresa que me espera. Desagradável é pouco! Fica a dica: o banheiro é coletivo, deixa a tampa levantada, pô!


10.   A funcionária da academia que guarda a tua sacola conhece todo mundo, sabe tudo, ouve tudo, vê tudo.

       Comanda o lugar e nada escapa aos seus olhos aguçados, treinados para detectar eventuais “batedoras de carteira”. E, na minha academia, essa pessoa é a Elenita. Lê ou Nita para os íntimos, a mulher é a alma daquele vestiário. Ela está sempre rindo, de excelente humor, puxando conversa com todo mundo. Sabe de cor a quem pertence cada mala, cada bolsa. Chama a maioria pelo nome, e essa mulher é uma fonte inesgotável de causos! Toda manhã, quando caio da cama e vou malhar, lá está a Lê atrás do balcão para o tradicional bom dia. Eu chego, sem a menor cerimônia, e bato forte com a mão no seu balcão imaculado. É como se fosse pedir a bebida mais forte do boteco. Ela olha pra mim e já ri! E pergunta:
        - Cadê o príncipe?

       Qual príncipe? O William, de Gales, claro! Fizemos piada por dias com o casório do sujeito, já que ele, ao invés de procurar a sua princesa no Brasil (eu, claro), casou com aquela “baranga”  da Kate. Audácia do sujeito! Aí eu respondo:

       - Casou com a outra, problema dele! – e rimos juntas da nossa palermice.

       Outro dia mostrei a ela a foto de um ator lindo de morrer, o Matt Bomer. O sujeito estava sem camisa, espetacular. A Lê olhou e ficou babando, até eu contar a ela que o sujeito joga no “outro time”. Mas o que é bonito deve ser admirado, certo? Guardei o celular e fui malhar. Quando voltei para me trocar, ela me olha e diz:

      - Ainda tô pensando no cara sem camisa...

      Certa vez, era aniversário da Lê, e ela não queria fazer propaganda. Criatura tímida quando se toca no assunto idade. Ah, mas eu não me fiz de rogada. Cada uma que passava perto e puxava assunto com ela, eu chegava e emendava:

      - Sabia que hoje é o aniversário da Lê?

      E como a maioria não havia levado um presentinho, davam gorjeta mesmo. Uma senhora puxou um notão de 50 reais, estalando de nova, e deu a ela. Quase que eu emendo:

     - É meu aniversário também...

       Mas a Elenita foi uma das poucas pessoas que apostou comigo e venceu!

      Foi há uns dois anos, ela estava de malas prontas para passar as férias em Alagoas, sua terra natal. Ia rever a família, e começou a falar um pouco da vida que levava no interior. Caiu na besteira de me contar que andava muito de jegue, o “veículo” mais comum da região. Eu não deixei passar:

      - Lê, vai andar de jegue?

      - Hahaha!! Claro que “vô”!

      - Duvido que você tire uma foto montada no jegue pra eu ver!

      - “Ôche”, vou trazer, heim?

      - Mas não esquece da peixeira, heim?

      Fui tomar meu banho, crente de que ela jamais posaria para uma foto dessas. Ou se o fizesse, jamais me mostraria.

      Caí do cavalo. Semanas depois, ela volta de férias, e me chama.

      - “Ôche”, venha cá, quero lhe mostrar uma coisa!

      Cheguei perto e foi aí que me lembrei:

      - E aí, cadê a foto do jegue?

      - Tá aqui, ó!!
 
       Eis a foto. Elenita armada até os dentes!






E não é que ela se lembrou de mim durante as férias? E ainda me fez perder a aposta...
            Felizmente, fui esperta o suficiente para não apostar qualquer prêmio. Com gente arretada como a Elenita, é bom não duvidar. Se a mulher diz que faz, ela faz, sô!


Boa noite a todos!



Um comentário:

  1. Parabéns, Fernanda! Gostei muito do seu texto, escreve muito bem! Eu me lembro muito bem da ocasião em que Elenita foi a Alagoas e voltou com a foto. Elenita é uma pessoa especial, muito querida.
    Grata por este presente, lido numa segunda pela manhã. Bela maneira de começar a semana.

    ResponderExcluir