segunda-feira, 18 de março de 2013

Construir e reformar, uma aventura!


A ideia para o causo desta semana surgiu porque, ao tentar arrumar um vazamento na pia da cozinha do salão, descobri um furo na cuba. Isso mesmo, um furo! Já tremo só de imaginar o que vou ter que fazer para consertar: desmontar a pia, trocar a cuba, cimentar tudo. Acho que vou me valer da boa e velha gambiarra e consertar com durepox!

Atire a primeira pedra quem nunca passou um perrengue construindo ou reformando sua humilde residência. Todo mundo tem um causo pra contar, certo? Meus amigos já me contaram vários. E, claro, tenho meus próprios causos!

Aqui em casa, tenho a sorte de contar com a ajuda do meu pai. Ele é um faz-tudo: lava, passa, cozinha, costura e, claro, constrói. Faz tudo direitinho, no capricho. Mas nem sempre as coisas saem como esperado, não é?

Os causos mais engraçados aconteceram nos anos 90, quando nossa família tinha uma chácara em Cotia, perto de SP. Compramos o terreno vazio, minha saudosa mãe desenhou a planta e, após conseguirmos a aprovação da papelada, contratamos os pedreiros, que ergueram a estrutura principal.

Até aí nada de anormal. Meu pai supervisionava a obra, e a casa logo ganhou paredes e telhado. Os causos, na verdade, começaram quando partimos para o acabamento, que foi feito praticamente todo por nós: papai e mamãe e eu. Claro, nós três éramos amadores. E amador passa por cada uma...

Tivemos a ideia de colocar, em todos os cômodos da casa, forro de madeira no teto. Ipê, para ser mais exata. E para quem já teve o (des)prazer de martelar algum prego nessa madeira, sabe muito bem que é bem difícil: o ipê é muito duro. Acertar na primeira martelada, quase impossível. Pregar o ipê num caibro, uma missão hercúlea. Mas éramos esforçados, queríamos a chácara no capricho e nos pusemos a trabalhar.

Agora realizem a cena. A minha casa tinha um pé direito enorme. A sala dava para o segundo nível da casa, e o teto, em “água”, era alto e bem inclinado. Como todo serviço de amador que se preze, não havia andaime para a montagem do forro. Muito menos uma furadeira, o que tornaria o trabalho “mamão com açúcar”. Só tínhamos uma escada, que não tinha onde ser apoiada quanto precisávamos martelar a o forro bem no meio do cômodo. A solução: eu e minha mãe segurávamos a escada, no melhor estilo “balança, mas não cai”, e o meu pai ia martelando os pregos!

Imaginem: a escada balançava e, nesse apoio completamente instável, meu pai tentava martelar o ipê. E ainda manter o alinhamento dos pregos. Não só para ficar “bonitinho”, mas para grudar a madeira no caibro. Ninguém queria pedaços de madeira caindo sob as nossas cabeças depois!

 Meu pai falava:

- Segura a escada reta, tô balançando aqui em cima!

Mamãe respondia:

- Estamos segurando, martela aí!

Meu pai martelava:

- PQP, acertei meu dedo!

E jogava o martelo longe!

Pausa para o grito de dor. Minha mãe segurava a escada enquanto eu ia atrás do martelo. Meu pai, babando de raiva lá em cima. Trazia o martelo, dava a ele, que recomeçava.

Após algumas marteladas corretas, começava tudo outra vez:

- PQP, meu dedo! De novo!

A escada oscilava feito pêndulo a cada nova interjeição. E o martelo voava mais uma vez...

Só o forro da sala deveria ter uns trinta metros quadrados. Foram muitas marteladas e muitos dedos ensangüentados. E ainda tínhamos que colocar o forro  nos quartos, no sótão, na sala de jantar, na cozinha... Nem sei como meu pai ainda tem todos os dedos!

Mas não foi só colocando o forro que meu pai ficou em apuros. Para terminar o serviço e colocar as bordas no forro, ele apoiava a escada na parede, e seguia martelando. O problema foi quando ele resolveu fazer isso sozinho, sem ter alguém que segurasse a escada. O piso liso não ofereceu qualquer atrito. Já adivinharam o desfecho, certo?

Eu estava no andar de cima da casa, e tudo o que vi foi meu pai, em câmera lenta, escorregar chão abaixo com a escada! Ele tinha aquela cara das “vítimas do Pica-pau” quando caem em alguma pegadinha. E se estatelou grandiosamente no chão!

Meu pai sempre andava de botas, para proteger os pés da fauna local. Tinha muito mato fechado ao redor, vai saber o que poderia estar rastejando por lá? Mas um dia, as botas, ao invés de ajudarem, colocaram meu pai em uma situação de risco.

No começo da construção, ainda não havíamos perfurado o poço. Então, a casa não tinha água. Para misturar o cimento, meu pai tinha que buscar água no lago em frente à nossa casa, com um balde. Ele fazia várias viagens em busca da água, e tinha todo o trabalho pesado para si. Minha mãe, com a saúde frágil, não ajudava. Eu, com a minha coluna podre desde a tenra idade, era um zero à esquerda.

Ele estava sozinho na chácara, e precisava de água. Então ele descia da casa, que estava sendo construído em cima de um morro, até o lago. Enchia o balde, voltava com a água e fazia o que precisava. Fazia várias viagens. Mas em uma, ao descer do barranco, corria tanto que não conseguiu parar: caiu com tudo na água!

Até aí nada de mais certo? O problema é que as botas se encheram de água, e meu pai começou a afundar! Estava sozinho e, por pouco, não se afoga. Nunca mais quis usar a bota, e nós estranhamos isso. Minha mãe perguntou:

- Por que não usa mais a bota? Esse par de chinelos não vai te proteger!

Ao que meu pai respondeu:

- É que usar botas pode ser muito perigoso...

Mas a situação não melhorou muito com a construção do poço. Mais uma vez, meu pai estava sozinho. E, por causa de um problema na bomba, precisou entrar no poço.

Já imaginaram o desfecho, certo? Pois é... ele foi descendo pelas anilhas, fixas nas laterais do poço, que estavam escorregadias de limo.

Não deu outra: tchibum na água!

Felizmente, após recuperar o fôlego, conseguiu se agarrar novamente às anilhas e sair do sufoco, encharcado até os dentes.

Noutro dia, meu pai acabou mexendo com a parte elétrica. De forma completamente involuntária, por sinal.

Em mais uma das suas “aventuras reformísticas solo”, meu pai resolveu cortar uma árvore que estava atrapalhando a nossa construção. O problema é que não conseguiu guiar a queda da árvore para onde deveria. E o tronco acertou em cheio a caixa do transformador da rua!

Faíscas se soltaram para todos os lados, um pequeno incêndio teve início e todo o condomínio ficou sem energia!

Aposto que isso aconteceu porque ele não gritou “madeira!” ao cortar a árvore...

Para finalizar, vou contar como uma pedra no meio do caminho pode salvar o dia de alguém. Em especial, o da minha família.

Nas margens do lago que ficava em frente à nossa casa, tínhamos um enorme pinheiro e uma pedra, de tamanho considerável. Era refugo da nossa terraplanagem. No melhor estilo “burro falante “ do Shrek, minha mãe falou:

- Gostei da pedra... pedra muito bonita!

E pintou a pedra de branco, criando um detalhe na frente da nossa casa. Ficou charmoso!

Em mais um fim de semana de obras, estávamos na chácara. Na época, nosso carro era uma perua branca, estilo ambulância, com um enorme porta-malas. Usávamos muito o bagageiro para o transporte de materiais de construção.

Tínhamos uma garagem coberta na chácara, que era acessível mediante uma pequena rampa. Do outro lado da rua, o lago.

Minha mãe não tinha muita força no braço, por causa de uma cirurgia. E dirigir aquela banheira era um esforço físico enorme. Às vezes, minha mãe não conseguia puxar o freio de mão do carro. Na nossa casa de SP, não haveria problema, já que a garagem é plana. Mas a da chácara estava numa rampa...

Eis o que aconteceu: mamãe não puxou o freio de mão e, minutos depois, o carro começou a descer a ladeira, de ré. Começou devagarinho e foi ganhando velocidade. Minha mãe, perto do carro, não conseguiu alcançá-lo. Meu pai, em cima do telhado, olhava seu possante indo em direção ao lago, perplexo. Eu, com o meu cachorro à época, o Tobi, olhava como se estivesse presenciando um show de horrores. O carro ia cair no lago!

Eis quem salva o dia?

A pedra!! O carro acertou a pedra, e com uma sonora batida, foi impedido de continuar a descida até o lago e submergir.

Não obstante o prejuízo da batida, pelo menos não ficamos a pé, e a pedra virou uma espécie de “xodó” da família. Afinal, o único carro que vi funcionar normalmente depois de ter afundado na água foi o do Jason Statham em “Carga Explosiva 3”. E a nossa perua estava muito longe de ser um Audi!

Ah, e para arrematar o causo, meu pai consertou a cuba da pia com durepox mesmo. Vazamento completamente vedado!

Bom dia, pessoal!

Um comentário:

  1. Fernanda, esse causo foi hilariante! Vou compartilhar pra minha mãe rir um pouco e ver com bom humor todas as confusões da reforma do apartamento dela! Valeu!!!!

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