quinta-feira, 23 de maio de 2013

As aparências enganam...

Olá, pessoal!
Aqui vai um causo pá-pum, parcialmente inédito.
Pá-pum porque é rapidinho. E parcialmente inédito porque eu postei a segunda parte do texto ontem no Facebook, enquanto sacolejava no ônibus. Até pensei em deixar o texto só por lá, mas os comentários foram tão positivos que decidi colocar no blog também. E para instigar a curiosidade dos que leram o causo original, vou acrescentar uma passagem que também aconteceu ontem, antes do “causo principal”. Bóra ler!
Estava eu, bela e faceira, no ônibus, em direção ao consultório do meu ortodontista. Check-up pré-viagem, coisa de rotina. Eu mal me apercebia das pessoas ao meu redor, pois estava lendo o último livro do Dan Brown no meu Kobo, “Inferno”, e o perrengue corre solto nessa história. Desta vez eu fiquei com pena do Robert Langdon!
Enquanto lia, notei que uma senhora idosa, muito bem vestida, cabelinho ajeitadinho e bolsa a tiracolo, subiu no ônibus e ficou de pé ao meu lado. Imediatamente, verifiquei se tinha lugar para ela sentar, pois idoso tem preferência, certo? Como vi que os lugares de idoso estavam vagos, voltei ao livro sem pensar duas vezes. Afinal, se ela queria ficar em pé, a escolha era dela.
Voltei à história quando, sem motivo aparente, ouço uma voz feminina gritar a plenos pulmões:
- MAS QUE MERDA!
Heim?
Levantei os olhos à procura da fonte. Era a tal velhinha, supostamente elegante. Estava completamente possessa! E continuou a berrar:
- AGORA É ASSIM, AS PESSOAS PASSAM POR CIMA DA GENTE! QUE MERDA!
Todos no ônibus olhavam para a vovó, de queixo caído. Ninguém esperava ouvir palavrões saindo da boca de tão distinta senhora.
Pelo que pude averiguar, alguém deve ter esbarrado nela ao passar em direção à catraca. Mas confesso, não vi se foi uma trombada brusca o suficiente para obter tamanha reação da velhinha. Ninguém abriu a boca, todos ficaram só assistindo ao show que se seguiu: ela não parava de reclamar. E se exaltava cada vez mais. Numa freada mais brusca do ônibus, voltou à carga:
- TÁ TRANSPORTANDO CARGA AGORA? VOU ACABAR VOANDO AQUI! QUE MERDA DE MOTORISTA!
E teve mais:
- A GENTE FICA SACOLEJANDO PRA LÁ E PRA CÁ FEITO SACO DE LIXO...
Os resmungos continuavam sem parar. O motorista, sabiamente, não abriu a boca. A cobradora fez o mesmo. Mas um rapaz, vendo que a vovó estava à beira de um colapso nervoso, interveio:
- A senhora não quer se sentar?
- NÃO!
- Tem cadeiras vagas aqui...
- NÃO QUERO ME SENTAR!
- A senhora pode cair...
- EU JÁ VOU DESCER!
- Não quer nem se apoiar aqui na...
- EU JÁ DISSE! VOU DESCER NO PRÓXIMO PONTO, QUE MERDA!
Aff...
Como prometido, a vovó desceu no próximo ponto. Saiu pisando duro, gritando mais palavrões enquanto se afastava. O motorista, assim que fechou a porta, falou para os passageiros, alto e claro:
- Essa daí é esclerosada!!
Todo mundo riu, claro. Acho que o “diagnóstico” era uma unanimidade. Mas o motorista não ficou só nisso, começou a contar pra quem quisesse ouvir que enfrentava passageiros sem educação todos os dias. Quando se dispôs a falar de outros casos, uma passageira, daquelas que tem fofoca nos “zóio”, levantou e foi papear com o motorista! Ficaram lá, jogando conversa fora, na maior intimidade. Eu, que já estava em cima da hora para a minha consulta, desci do ônibus e fui cuidar da vida.
Após a consulta, tinha um programa muito mais interessante: o show do Pet Sop Boys! E aqui segue a parte que eu já publiquei no Facebook ontem. Para quem não leu, eis o que aconteceu:
“Estou a caminho do Credicard Hall, para o show do Pet Shop Boys. E, como o paulistano certamente já notou, chove na cidade.
Eu, na minha incrível estupidez, esqueci o guarda-chuva. Ou seja, estava usando meu casaco impermeável como cobertura.
Enquanto aguardava, debaixo d'água, a chegada do ônibus, senti um cheiro de cigarro. Olhei e, não muito longe, vi uma moça que fumava.
Pensei: Putz, que saco, uma fumante! Dei as costas e tentei me proteger da chuva da maneira possível.
Tempos depois, ouço uma voz feminina atrás de mim:
- Você se incomoda?
Olhei para trás, e dei de cara com a moça fumante. Perplexa, imaginei que ela estava se referindo ao seu nada saudável hábito. Será que ela me ouvi resmungar?
Mas não. Ela estava me oferecendo um lugar embaixo do guarda-chuva dela! E arrematou:
- Não vim antes porque estava fumando, não é todo mundo que gosta, sabe...
Eu, morrendo de vergonha do que havia pensado da mulher, aceitei humildemente a cobertura inesperada. E ainda me engajei numa animada conversa com ela sobre fatos cotidianos.
Como é bom realizar que, mesmo numa selva de pedra como São Paulo, encontramos lugar para gentileza... E oportunidades para calçar as sandálias da humildade. As minhas, por sinal, estão encharcadas!”
Moral da história: as aparências enganam! A vovó, toda elegante, tinha uma tremenda boca suja. Ou a síndrome de Tourrette, vai saber. E a fumante, execrada de antemão devido ao seu hábito nefasto, se revelou uma pessoa de generosidade a toda prova. Vivendo e aprendendo!
Bom dia, pessoal!

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