quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Causo Pré-Recesso!

Post de 20/12:



 Pois é, amigos! O ano já acabou pra mim. Bom, em termos de trabalho, pelo menos. Porque o mundo só acaba amanhã, certo?

 Mas uma coisa é certa: todos os anos, na véspera do recesso, parece que o mundo acaba para os advogados. É tudo urgente, pra ontem e assim por diante.

Como se não bastasse a tensão já previsível do último dia de trabalho, o pessoal do TI do TRF teve uma ideia genial: atualizar os sistemas. Justo nesse dia.

Ah, que se dane nosso cronograma de trabalho. E daí se o backup não funciona direito? E pra ligar o micro, então? Entre chegar ao trabalho e conseguir efetivamente fazer alguma coisa, foram quase 2 horas perdidas. Minha ira era direcionada ao hardware (aquilo que a gente chuta), ao software (aquilo que a gente xinga) e ao cérebro brilhante que resolve nos causar esse perrengue todo no último dia de trabalho do ano (aquele que a gente quer matar)!

 Superado o "empecilho", era hora de fazer o "rapa" nos processos. Traduzindo: separar os casos que seriam encaminhados para o plantão. Porque acreditem, existe plantão na Justiça Federal. E adivinhem quem vai trabalhar no Natal e no ano novo? Euzinha aqui! Mas tudo bem, vai ter ciclofaixa nesses dias e eu vou de bike para o fórum!

 Estava tentando limpar a minha mesa quando uma colega, a Adriana, me veio fazer uma pergunta sobre um processo de justificação.

Para quem não tem ideia do que seja isso, vou dar um exemplo prático: imagina que você quer se aposentar, mas tem um período trabalhado que você não consegue comprovar. Aí você entra com a justificação, para fazer isso. Tendo sucesso, você pega o processo para fundamentar seu pedido de aposentadoria. Enfim, coisa simples.

 A Adriana me deu o número do processo e disse que tinha alguém que gostaria de saber o andamento da justificação. Olhei, e vi que o caso tinha sido encerrado em 1997.

 Expliquei para a Adriana:

 - Ah, já levaram esse processo em 1997, não tem o que explicar.

Ela me olhou meio atônita e disse:

 - Ah, meu Deus, coitada da senhorinha!!

 Heim?

 Olhei para o balcão e vi quem estava atrás do processo: uma senhora idosa, muito simples, com lencinho na cabeça. Ela olhava para nós com expectativa.

Olhei para a minha mesa cheia de serviço, olhei para o balcão... E fui atender a senhorinha. Quem sabe dá pra ajudar?

 Chego para ela e explico que o processo não está mais conosco. Ela diz:

 - Meu advogado falou que só falta o desembargador assinar para eu receber a minha pensão!

 Bom, claro que deve ser outro processo, mas não sei bem qual. Resolvi fazer algo incomum para o atendimento no balcão: investigar.

Por que incomum? Ora, essa pesquisa é feita pela internet com facilidade, e não podemos dar essa "assessoria" em detrimento ao atendimento das outras pessoas. Mas o balcão estava vazio, e a vovó nem deveria saber o que é um computador. Bóra pesquisar!

 Procuro pelo nome: sem chance, trocentos homônimos. Peço a ela o cpf: só aparece a justificação no sistema.

Pedi a ela que falasse mais sobre o processo, para eu ter ideia de onde procurar.

Ela relata a história:

 - Há 15 anos espero para receber a pensão do meu marido! Tem um homem recebendo no meu lugar, não sei porque. Espero o resultado do processo desde que o meu marido morreu. Será que eu vou morrer sem receber a minha pensão? Não posso esperar, moça!

 Putz...

 Como não achei nada na JF no no cpf dela, resolvo me aventurar no site da Justiça Estadual.

Ah, a Estadual, o inferno na Terra! Quem leu o "causo" das certidões sabe do que eu estou falando!

 Pois bem, o site da Estadual é uma... coisa. Tem campo especifico para pesquisar processo cível, criminal, capital, interior, primeira instância, segunda instância, fazenda pública etc. Um caos!

 Grrr...

 Começo pela segunda instância, já que, segundo a senhorinha, faltava só a assinatura do desembargador.

Nada.

Mas acho um processo no cpf dela na primeira instância. Era um inventário.

Bom, alguma questão da pensão deve estar pendente por lá, não dá pra saber pelo site. Tudo o que pude fazer foi imprimir o andamento do inventário e dar para ela, que me pergunta:

 - Será que devo ir lá ver?

 Respondo:

 - Claro! E vá hoje, é o último dia de trabalho do ano, ou só vai conseguir fazer isso o ano que vem!

 Ela se anima, sem ter ideia do perrengue que certamente vai enfrentar por lá. Pega a papelada que eu lhe dei e me deseja boas festas de maneira esfuziante!

 Espero ter ajudado...

 Volto à minha mesa, já sabendo que não darei conta de tudo. Paciência. Pobre da minha colega Tati. Ela vai ter um treco quando voltar de férias!

 Eis que, à tarde, somos surpreendidos por uma festa de confraternização. Organizada pelos juízes, no capricho! Com direito a bolo, docinho, salgadinho (minha perdição), e bebidas. Ah, e presentes! Pantone e chocolate!

Como a nossa juíza titular está convocada no TRF, aproveitamos para "matar as saudades" dela. Cada um conta um "causo" e, no meio da conversa, surge o assunto da brigada de incêndio, pois alguns fóruns andaram pegando fogo por aí este ano. Sinistro...

 Eu sou brigadista há mais de 10 anos. Já fiz inúmeros cursos, e estou sempre me reciclando. Afinal, esse conhecimento eu não uso só no trabalho, mas em casa e passeando também. Muito útil!

 Aí eu contei a todos o "causo" que vivi a bordo do navio Brilliance of the Seas este ano. O incêndio na lavanderia, quem lembra?

 A história está toda no causo que escrevi em maio. Mas o engraçado foi a reação dos juízes quando contei do casal "Tremendão e Ternurinha". Pois, segundo esse casal, o lugar mais seguro para se estar durante um incêndio em um navio é... na piscina!

 Aí começaram as piadas: guisado de turista, sopão de turista e assim por diante.

E eu pensando que, lugar seguro, é no bote salva vidas! Quanta ignorância a minha...

 Depois da festa, bate aquela "leseira". Este foi um ano de trabalho com correição, o que me fez trabalhar um tempo de 13 ou 14 horas por dia. Mal via a hora de enfiar a viola no saco e ir pra casa, mesmo enfrentando o dilúvio de ontem.

Mas alegria de pobre dura pouco. Cerca de uma hora antes do fim do expediente, aparece um processo novo!!

 Aaarrrgghhh!!

 Não sei o que esperar. Pode ser algo sério que demande um trabalhão danado. E eu, que só queria ir pra casa, tenho que, obrigatoriamente, ficar até que tudo esteja resolvido.

Começo a ler o processo: o perrengue começou em 2004 e só agora vem dar piti por causa de prescrição? Na véspera do recesso?

 Ah, vá!

 Advogado acha que, fazendo isso, está "botando pressão" no juiz. Digno de pena. Teve a tutela indeferida e nem pôde tomar ciência. Não tinha procuração nos autos!

 Com as portas da vara já fechadas, arrumamos tudo para irmos embora de vez este ano. A euforia se instala: recesso!!

Pego os meus presentes e, debaixo de chuva considerável, viro um "bagulho no bumba" a caminho da minha humilde residência.

A não ser que aconteça algo fora do comum, o próximo causo deve ser o do plantão de recesso. Aguardem!

 Boa noite a todos!

Nenhum comentário:

Postar um comentário