quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Semana Nacional da Conciliação 2012



Post de 10/11:
Causs da conciliação!


 Adoro ser voluntária na semana de conciliação. Não só pelo fato de sair da rotina, mas para ajudar também. Sai cada acordo “de mãe” aqui que dá até vontade de chorar!

 Como a audiência que acabou agora. A mulher tinha um grande valor depositado no FGTS, e vai acabar o ano com a casa quitada e o nome limpo, não é demais?

Muitos acordos foram fechados hoje, mas o que mais me chamou a atenção foi o caso no qual, justamente, não houve acordo.

 Não sabia se ria ou se chorava. Comecei rindo da situação, e chorando de emoção com o resultado. Olhem só o que aconteceu!

 A mulher está enrolada até o pescoço no financiamento imobiliário. Comprou a casa com o marido, há alguns anos. Prestações em atraso, imóvel na iminência de ser leiloado.

 Pergunto à mulher, que chegou para audiência sozinha:

 - Onde está o outro mutuário?

 Ela responde:

 - Fugiu há 9 anos. Virou gay, arranjou um bonitão e me deixou sozinha com filho pra criar.

 Putz!

 Não ri, mas esbugalhei os olhos do jeito mais saltado possível. Quem conta uma coisa dessas a um estranho? E não foi só. A mulher confessou que o sujeito ficou sem emprego por NOVE (!) anos. Sustentou o traste por todo esse tempo. Foi ela quem comprou a casa, deu o dinheiro da entrada, usou o FGTS e pagou as prestações até quando deu. Agora, desempregada, estava para perder o teto que possuía para morar e criar o filho.

 A Caixa fez, para os padrões da pobre coitada, uma proposta esdrúxula: prestação de mais de dois mil e quinhentos reais, a perder de vista. Ou então o pagamento à vista, num valor digno de um prêmio da loteria federal. Claro que a coitada não tinha um centavo para isso!

 Já estava fazendo o termo de impossibilidade de acordo, quando chega a Dra. Daldice. Ela é a desembargadora coordenadora da Conciliação, e dá nó em pingo d’água. Eu adoro ver essa mulher em ação!

 Ela chegou, sentou à mesa e começou a se inteirar do caso. Não segurou o riso quando soube do marido gay que está em lugar incerto e não sabido. Mas como a autora também riu, o clima ficou leve.

A desembargadora teve que deixar a mesa para atender outra audiência. A autora perguntou pra mim:

 - Quem é essa mulher?

 Respondi que era a manda-chuva do pedaço. A autora ficou de queixo caído:

 - É, quem vê cara não vê coração! Jamais iria pensar que ela era autoridade!

 Foi aí que eu me lembrei da palestra para os voluntários da conciliação dada pela Dra.: "autoridade não ajuda, só atrapalha. O mutuário não pode se sentir intimidado, ou não fecha acordo. O juiz tem que ser acessível", e isso, nas audiências, ela é!

 A autora gostou tanto disso que disse pra mim:

 - Não saio daqui sem falar com essa mulher de novo!

 E lá fui eu atrás da desembargadora, que voltou para dar continuidade aos trabalhos.

Voltando à audiência, a questão era que a autora não tinha como continuar com o financiamento. Uma alternativa, sugerida pela Dra.Daldice, foi vender o imóvel e entrar no programa Minha Casa, Minha Vida. Mas como vender o imóvel sem a assinatura do gay fugitivo?

 Felizmente, a conciliação também está sendo feita na justiça estadual, na sala ao lado. Então, a Dra. pediu ajuda para a “gangue do estado” e montou uma espécie de "concílio". Os "papas" do direito civil e de família (um desembargador federal, um juiz estadual, um defensor público federal e outro defensor público do estado) se reuniram em torno da minha mesa de audiências, discutindo o caso da mulher. Ela não acreditava no que via, um bando de gente importante cuidando do caso dela. E o melhor, oferecendo soluções!

 Ela vai ter que tomar umas providências na justiça estadual, e todo o caminho das pedras lhe foi passado. Como está desempregada, terá o apoio da defensoria. Ela ficou emocionada. Muito emocionada. Começou a chorar... E eu chorei junto, não consegui me conter!

 Esse e o "barato" da conciliação, ver a parte ali, na sua frente, recebendo atenção e tendo solução para o seu problema. Sensacional!

 A minha mesa foi bem, 4 audiências, 3 acordos e mais esse caso. Foi bem produtivo!

 Encerrados os trabalhos, assumi o meu papel de "bagulho no bumba" e fui pra casa.

Agora, um "caso subsidiário"!

Estava no ônibus, quando senti um cheiro fortíssimo de xixi. Procurei a fonte: um velhinho, "charmosamente" penteado mas "despudoradamente" vestido. A calça tinha um rasgo bem onde deveria ter um zíper, deixando à mostra uma cueca vermelha. Até aí, beleza...

Mas ele cismou com um bebê!

A criança estava no colo da mãe, deveria ter mais de um ano. O vovô olhava para o menininho e gritava a plenos pulmões:

 - Esse garoto, quando crescer, vai ser delegado de polícia! Tenho certeza!

 A cara que a mãe fazia era a de conteúdo do Estadão: "tô entendendo nada". E a mulher ainda retrucou:

 - Delegado nada, meu filho vai ser médico!

 Olhei para o garoto... E a cara dele, semblante franzido, parecia querer dizer ao vovô:

- Deixa eu crescer que eu te coloco na cadeia, mané!

 Acho que o velhinho tinha razão!

 Amanhã tem mais, pessoal!

 Boa noite a todos!

Nenhum comentário:

Postar um comentário