quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Mar Vermelho e Viúva

Este causo é de 25 de abril de 2012. Finalmente a ficha caiu e eu usei o meu laptop. Rotina do cruzeiro!


"Olá, amigos!!

 Enquanto escrevo estas mal traçadas linhas no meu laptop (ou seja, com acentuação hoje!), estou diante de uma maravilhosa vista do Mar Vermelho, sentindo a brisa do mar no rosto. Ventinho traiçoeiro, pois disfarça muito bem as queimaduras de sol que estão sendo infringidas, sem dó nem piedade, na minha delicada cútis de bebê!

 Hoje fiz a minha terceira aula de spinning. Confesso a vocês, já fiz muita aula de spinning por aí na Bioritmo e na ACM. Mas nada, nada comparado ao que o professor Barry Van Der Meer, da Holanda, tem na cabeça. Quando ele está no comando, vale aquele ditado “indoor cycling is not for sissies”! Coisas que nenhum professor havia me corrigido antes, principalmente no tocante à postura, ele simplesmente martelou na minha cabeça: cotovelos para dentro, peito aberto, e por aí vai. Resultado? Trabalho intenso nos tríceps, quem diria! Mas que estou um caco, é fato...

 Tivemos a nossa segunda noite formal ontem. Usei um vestido curto dessa vez, mas confesso que não estou acostumada a me “montar” tanto para jantar “fora”. O negócio aqui não é fraco, pessoal! A mulherada coloca os paetês, as pedrarias e o salto alto até nas noites informais! Aí você pensa “aff, quanta joia, que exagero”, até conversar com as peruas em busca de detalhes. Aí a verdade vem à tona: tudo “made in 25 de março”! Ah, como as aparências enganam...

 Há muito tempo não ficava tanto tempo sem fazer absolutamente nada. Sem preocupação com a casa, com o cão (graças à Dani e a Fá), sem pensar (muito) no trabalho. Em dois dias, consegui terminar de ler o mais novo livro da Anne Rice, “The Wolf Gift”. Agora vou à biblioteca em busca de mais histórias.

 Mas se pensar bem, um cruzeiro com pessoas de todas as partes do mundo é uma história ambulante, ou melhor, flutuante! Cada figura que cruza o nosso caminho, melhor nem comentar!

Ou melhor, comento sim! Peraí que vou limpar o veneno que está escorrendo aqui...

 Pronto. Vamos lá!

 A figura mais bizarra que encontrei até agora no navio, acreditem, é uma brasileira do meu grupo da Majestur. Trata-se de uma viúva, cheia de “senões” e com uns bons parafusos a menos na cabeça.

Pra começar, a mulher não toma banho. Isso mesmo, você leu certo. Nada de banho, e usa sempre a mesma roupa. No deserto. Com um monte de água doce nos encanamentos. Com piscinas e jacuzzis por todo o lado. Sauna. SPA. Ora, pra quê banho, afinal?

Mas não é só, ela conseguiu colocar toda a tripulação do navio em estado de alerta. Como? Tentando empurrar nos caixas 10 mil dólares de notas “enferrujadas”. Sabe aquele dinheiro guardado por décadas com clipes de metal e que fica em estado lastimável? Então. Onde quer que vá, a mulher é observada pela tripulação, que até entrou em contato com o guia do nosso grupo, perguntando: “Who the hell is she?”, mas de forma bem mais polida, claro.

Mas não é só. A mulher carrega consigo tudo o que tem de valor monetário, pois não confia no cofre do navio. Isso significa não só 10 mil dólares, mas as joias, muitas joias, dadas pelo falecido marido. Ela carrega uma bolsa preta a tiracolo, enorme, pesada, e cheia dessa tralha que vale ouro, para todos os lados. Tem gente que é pobre, mas tão pobre, que tem nada na vida a não ser dinheiro...

 E por que disse isso? Porque a fulana só anda de salto alto. Mas é aquele salto que pinça o calcanhar e desestabiliza até a sua medula espinhal, deu pra imaginar? É de doer, e a cidadã foi com esse sapato passear no paralelepípedo! O pé ficou tão inchado que ela teve que andar descalça (isso mesmo, descalça) em pleno Dubai Mall, o shopping mais espetacular que eu já vi até agora na minha curta existência.

Aposto que estão se perguntando: por que ela não comprou uma sandália, um sapato baixo ou qualquer outra coisa do gênero? Ah, era “caro demais”, ou “não gostei da cor”. E lá foi ela, descalça pelo Mall e, em seguida, no chão em brasa do deserto. Com 10 mil dólares e uma porção de joias na bolsa. Vai entender uma pessoa dessas!

 Estou vendo pelo meu relógio do micro que é hora do almoço no Brasil. Aqui, está quase na hora da janta. Mudamos de fuso horário ontem, ao entrarmos no Mar Vermelho. Aqui temos a “hora do navio”, e o calendário do navio. Hoje, por exemplo, é o sétimo dia do cruzeiro. Nem tenho ideia que dia é hoje do mês ou da semana. Quem está aqui vive um mundo à parte, completamente alienado em relação ao que acontece em terra.

 Bom, alienado, só se quiser, na verdade. Além da internet (com preço bem salgado), tem a TV do quarto. BBC, CNN, canais de fofoca como o E! e muito filmes. Ou melhor, poucos filmes, mas em muitas línguas. Já vi “Harry Potter e as Relíquias da Morte parte 2” em português, inglês, espanhol, francês, alemão e italiano. O mesmo vale para os filmes do Jack Sparrow, do Indiana Jones, dos Transformers e por aí vai. Os filmes ficam passando sem parar e, como se não bastassem, eles “entram em cartaz”, também, no cinema do navio!

 Tem muita coisa para fazer por aqui, não experimentei nem a metade. Balada e jogos eletrônicos, por exemplo, não me atraem. Mas ontem dei um passadinha no “Cassino Royale”, sem o James Bond mesmo. Em questão de minutos, perdi 15 dólares. Saí correndo, e fui direto para o Duty Free. Preços competitivos, e se for todo dia, sempre aparece uma promoção diferente.

 Já experimentaram comprar ouro por metro? Ou melhor, “inch”. Correntes de prata banhadas a ouro, com pedras, enroladas em carreteis, como as fitas de cetim que você compra nos armarinhos da esquina. Essa, pra mim, foi novidade! “Faz favor, dá meio metro de prata e ouro com pedras!”

 Tem muita joia e biju para comprar aqui. Mas nada tão espetacular como o colar de diamantes de 1 milhão e 300 mil dólares que estava exposto em uma joalheria no Dubai Mall. Mas pechinchando, dava para comprar por 835 mil dólares. Pena que deixei passar essa barganha!

 Outra coisa que não mencionei, e que me deixou de queixo caído em Dubai, foi a máquina automática que vende barras de ouro! No Burj Khalifa, o prédio mais alto do mundo, tem dessas. Recompra garantida, surreal!

 Amanhã faremos a nossa segunda parada, depois de 5 dias de navegação ininterrupta: Aqaba. Finalmente, conhecerei Petra!! Aguardem que, em breve, conto os detalhes aqui no face.

 Até a próxima!"
E assim deslanchei a escrever causos!

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