quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Estagiário Bilíngue

Causo de 01/08. Cada coisa que acontece no trabalho...


Estavam sentindo falta de uma historinha?

Aqui vai uma, fresquinha!

 Chego para trabalhar hoje de manhã, e o Marccus Vinicius do setor de gestão documental liga pra mim. Diz que uma advogada, chorando (palavras dele!) ligou para saber de um processo da minha vara. Disse que tinha informações da minha secretaria pra ligar para aquele setor.

 Para poupar você, leitor, da estrutura organizacional da Justiça Federal, basta saber que ninguém na minha vara nunca, JAMAIS, deu esse tipo de informação para alguém! A gestão documental cuida de processos a serem eliminados definitivamente ou que deverão ser guardados permanentemente. Pela vara, pedimos o processo do arquivo, e nada mais.

 Enfim, surpresa com alguém chorando em setor não relacionado à vara a respeito de processo nosso, fiz a consulta no sistema e constatei que os autos chegaram ontem em secretaria, vindos do arquivo. Ou seja, jamais passaram pela gestão documental.

 Dei a informação ao Marcão, comentei com os colegas e me pus a trabalhar.

 Agorinha mesmo, apareceu um estagiário querendo falar comigo. Pensei: “putz, lá vem bomba”, e fui atender o cidadão.

 Surpresa: ele foi a “advogada” que ligou para o Marcão!

 Contei que a mensagem que recebi do setor de gestão documental é de que uma “advogada” ligou “chorando” para lá. O estagiário ainda falou: “gente, não tenho voz tão fina assim!”

Mas não é só isso: a confusão toda se deu porque o estagiário, para poupar uns “lances de escada” (palavras dele), pediu informação em OUTRA vara. Ou seja, setor alheio ao caso prestou informações. E, obviamente, informações erradas!

 Fui enfática com o cidadão: “informações de processos desta vara deverão ser pedidas NESTA vara, e em nenhum outro lugar!”

 Aí, não sei o porquê, o sujeito começou a falar em inglês comigo. Acho que queria mostrar erudição, não sei dizer. Bom, pelo menos tentou mostrar. O que ele não esperava é que euzinha aqui fosse responder em inglês também! “If you wanna talk in English, I can keep up, dear”, e assim por diante.

O sujeito ficou sem graça: confessou, após não conseguir acompanhar a conversação, que não possuía gramática, apenas vocabulário, adquirido em jogo de tabuleiro e revistinhas “Coquetel”!

 Mesmo assim, ainda quis justificar o parco inglês. Aí os colegas intervieram: “não adianta discutir, no inglês com a Fernanda você vai perder!”

Depois dessa, disse que já iria embora, pois já havia tomado muito o meu tempo. Respondi: “estamos aqui pra isso”, afinal é meu trabalho atender ao público. Só repeti que, da próxima vez, viesse buscar as informações sobre o processo diretamente na vara.

 Aí veio o a última pérola: “eu só liguei para o outro setor porque estava seguindo ordens da advogada”.

 Tive que soltar a minha última pérola também: “os nazistas utilizaram essa mesma desculpa, sabia? Esse negócio de ‘seguir ordens?’ ”

 Depois dessa, ele usou a saída do Coelho Ricochete: à direita, e ligeirinho!

 Moral da história: estagiário não precisa acertar sempre ou saber tudo. Aliás, ele tem esse emprego justamente para aprender. Mas daí a obedecer sem pensar ou não ter sequer a iniciativa de subir os “lances de escada” em busca da informação correta, faz com que eu perca a fé no futuro da humanidade!

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