quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Petra!

Este foi postado em 26/04/2012. Já tem o estilo de causo!

Aproveito a funcionalidade do blog para fazer o que era impossível durante a viagem: ilustrar o causo com fotos!



"Olha eu aqui outra vez!

 Finalmente, Petra!

 Hoje foi um dia como nenhum outro. Não é sempre que se conhece um patrimônio da humanidade. Tive o privilégio de conhecer alguns, mas Petra, sem dúvida, é um caso à parte!

 Vou contar a vocês como foi.

 Acordamos cedo, por volta das 5:30. Às 6h, o restaurante abriu para o café, e uma horda sonolenta mas faminta, de turistas, invadiu o recinto. Afinal, praticamente todo o navio iria desembarcar, e, claro, na mesma hora.

Felizmente, o procedimento para o desembarque na Jordânia é o mais simples possível. Saia do navio, leve seu cartão de bordo e pronto. O Egito, por outro lado, concede visto por apenas 48 horas! E eu reclamando do visto dos Emirados Árabes...

 Desembarcamos em Aqaba, cidade com o único porto da Jordânia e, por isso, de grande importância econômica. A cidade também é um balneário do país, uma espécie de “Santos” dos paulistanos, mas com uma diferença: águas límpidas, com uma das formações de corais mais espetaculares do planeta. O pessoal da capital, Aman, passa o fim de semana por aqui, a cidade é cheia de apartamentos de veraneio.

 Mas, assim como Santos, tem um “quê” de cafonice: todas as boias vendidas à beira da praia eram amarelas, e com cabeça de patinho!! Realizem: um “tutu” no melhor estilo Bjork! E o comércio é similar ao de qualquer balneário: muito brinquedo para construir castelos de areia, como se os monumentos por aqui já não fossem suficientes!

 Iniciamos a nossa jornada a Petra. Nosso anfitrião foi o guia Archmad, um jordaniano extremamente charmoso e fluente em árabe, inglês, espanhol e francês.

 A jornada consistiu em duas horas de ônibus, com uma parada na famigerada lojinha de souvenirs. Aí começou a minha “ruína”: produtos de beleza do Mar Morto! Aqueles produtos que, no Brasil, pagamos até 300 reais por um potinho, sabem? Ah, eu me fartei! Comprei shampoo, creme, máscara de lama, esfoliante... se a minha cútis já era de bebê, agora eu viro a Cleópatra! Mas acho que ela preferia banhos de leite... vou checar isso quando estiver em Alexandria, daqui a alguns dias.

 A paisagem no caminho é simplesmente desoladora. Deserto sem fim, muita areia, pedra e formações rochosas que indicavam, claramente, que estávamos em um país estrangeiro. Que coisa incrível! Vimos também os acampamentos dos beduínos. Tendas rudimentares e animais espalhados ao redor, pastando o parco mato que cresce na região. Não consigo imaginar como deve ser sacrificante a vida desse povo...

 Vi também a primeira mulher de burca completa. Tudo, absolutamente tudo, coberto. O máximo que tinha visto até agora foi mulher só com os olhos de fora. Essa, nem isso. Que desespero, nesse calor!

 Teve algo ainda mais inusitado. No meio do caminho, achamos uma plantação de melancias! É isso mesmo! Todo mundo ficou com água na boca pensando na doçura da fruta. Já imaginaram a concentração no sabor? Doçura total!

 Ainda pensando na melancia, paramos para uma sessão de fotos. Ao longe, na montanha mais alta, o túmulo do irmão de Moisés (aquele mesmo, o Charlton Heston – hehe), era claramente visível no seu cume, como um ponto branco e brilhante, quase um farol. Aqui, o que se vê é, literalmente, bíblico!

 Ao chegarmos em Petra, com dois ônibus repletos de brasileiros, começamos a nos preparar para a caminhada que, no total, seria de 6 km: 3 na ida, só descida e, claro, o resto na volta, tudo subida. Felizmente, na condição de “moça fornida e saradona” (que dicotomia, heim?), fiz o percurso sem perder uma gota de suor. O segredo? Além da preparação física, proteção adequada: chapéu, óculos de sol, calça legging, blusa, manguitos (olha seu presente em Petra, Ju!) e um compacto, porém charmoso, guarda-chuva, comprado na Torre de Londres.

 Abro um parênteses aqui para falar de vestimenta. Os turistas podem se vestir como queiram, mas cobrir o corpo é uma necessidade. O sol aqui é cruel e, sem querer, as mulheres acabam se vestindo como as mulçumanas, mas com toques ocidentais: revelam as curvas do corpo, e usam mais cores. Naturalmente procura-se cobrir a cabeça, o pescoço, os braços... ou é isso, ou é flambar feito crepe no deserto. Por esse ângulo, até dá para entender o porquê dos corpos totalmente cobertos. Já a falta de opção para descobri-los, é outra longa história!

 Ao chegarmos ao início da trilha, a “ficha” caiu (putz, entreguei a idade!). TODO o navio estava lá! Sem falar nos turistas que não estavam a bordo. Traduzindo: 25 de março na véspera do natal. Deu pra imaginar? Pois é, também fiquei surpresa. Na minha cabeçinha ingênua, pensei que haveria algum tipo de controle de acesso, ou algo mais organizado, guiado com mais tato. Mas assim que chegamos, fomos assediados por donos de cavalos e charretes com a versão em inglês do “Vai uma carona aí, Madame? Baratinho!!”

Passado o cerco dos “guias montados”, Archmad foi nos guiando pelo labirinto que é Petra, explicando a história do lugar, nos chamando a atenção para pequenos detalhes de arquitetura, ou então para a formação rochosa que, há milhões de anos, estava no fundo do mar. Por isso a erosão tão peculiar, daquelas que só a água é capaz de produzir. A pedra é lisa, curvilínea, com tons fascinantes de marrom e vermelho, um verdadeiro mosaico. E para onde se olhava, túmulos. Os nabadeus davam mais importância ao local do sepultamento do que ao local em que viviam. Deveriam ter o seguinte raciocínio: “já que vou passar mais tempo morto do que vivo, que eu seja enterrado em um lugar digno de nota”. Faz sentido para vocês?

 E assim continuamos até termos o primeiro vislumbre do “El Tesoro”, como disse, em espanhol, Archmad. Olhei aquela cena e o que me veio à mente? Indiana Jones, claro! Aquele mesmo ângulo apareceu no filme “Indiana Jones e a Última Cruzada”. A impressão que tive é que ele sairia a qualquer momento de trás de alguma pedra, com chapéu e chicote na mão, em busca do Cálice Sagrado.

 Não é a primeira vez que visito um lugar que já foi cenário de filme ou novela. Nova York, por exemplo, é clichê. Mas o que é mais comum, visitar os EUA ou a Jordânia? Nada melhor do que sair da “rotina” e conhecer um lugar totalmente diferente, para variar!

 Corta! Passa para a próxima cena.

 O que chama a atenção do observador é o jogo de luzes do lugar. Enquanto os corredores são sombreados, “El Tesoro”, ao fundo, é totalmente iluminado pelo sol. É o sonho de consumo dos fotógrafos que adoram brincar com a luz. Fizemos isso também, mas nada muito profissional, claro.

Mais uns passos adiante e, finalmente, o grande prêmio! Aquele templo... magnífico, majestoso, simplesmente eterno! E praticamente intacto. A única restauração feita foi em uma das colunas, já que tijolos eram visíveis, apesar de terem usado o mesmo material. O templo foi todo talhado na pedra, então não existem tijolos por lá. É uma peça única, em todos os sentidos: físico, artístico e assim por diante.

 Mesmo sendo um templo milenar, o lugar está incrivelmente conservado. Os construtores, há milhares de anos, criaram um sistema que desvia a água da chuva e que protege o templo das intempéries. E porque fizeram isso? A rocha típica do local é facilmente erodida pela água e, sem isso, o templo teria virado pó há muitos anos. Genial! Archmad contou que, em dias chuvosos, tudo molha, menos a fachada do templo. Vale outra visita nos meses chuvosos, janeiro e fevereiro.

 Em volta do templo, acima e abaixo, tumbas. Inclusive sobre os nossos pés. Muitas soterradas, pois, se fossem escavadas, minariam completamente o acesso dos turistas ao templo principal. Então optaram por deixá-las enterradas, revelando apenas algumas, à beira do templo, para contemplação.

Não se entra no templo, contudo. Perdi a chance de encontrar os restos do cavaleiro templário que guardou o Santo Graal por tanto tempo! Mas deu para ver que a sala é completamente vazia, sem adornos, e que não perderíamos muita coisa por só observarmos de fora.

 Seguimos mais adiante, para o teatro. Maravilhoso, enorme, haja adjetivos! Muitas, muitas fotos. Só não dá para postar aqui, haja dólar para internet! Prefiro comprar lama do Mar Morto!

 Bom, depois da descida ininterrupta, chegou a hora da volta. Tudo o que desce tem que subir, certo? E foi aí que a viúva do capítulo anterior, novamente, “causou”!

 São 3 km de subida e, embora a temperatura fosse digna do deserto, não era nada impossível. Caminhada tranquila com poucos desafios. Mas as pessoas enfermas, deficientes ou fora de forma enfrentam grandes dificuldades para sair de Petra. A viúva encaixa-se como uma luva na última categoria.

 Peraí que o veneno está escorrendo aqui, vou limpar.

Continuando...

 Pois é, pessoal, a mulher não conseguia subir... e nem achar uma carroça que a levasse ladeira acima! Assim como ela, tem muita gente que faz passeios sem a menor noção de que não possuem as mínimas condições físicas para completar a empreitada. Então, era muita gente empacada para pouca carroça!

 Enquanto isso, já no ônibus há muito tempo, o resto do grupo esperava, faminto e sedento, que a madame desse o ar da graça, para que finalmente pudéssemos desfrutar de um merecido almoço. Mas cadê a cidadã? Necas... conta gente, reconta gente, pergunta-se “estão sentindo falta de alguém?”

Quem, quem? Raimundo Nonato? Não, a viúva!

 Depois de quase 40 minutos de espera, o guia toma uma decisão: todo mundo iria ocupar apenas um ônibus, enquanto o outro esperaria a madame, com outro guia. Comida e água, pelo amor de Deus!!

 Rumamos para o almoço, a apenas 3 quadras de onde estávamos! Ah, fala sério, se soubesse teria ido a pé, mas enfim...

 Aguardava por nós um buffet de pratos ocidentais de um lado, árabes de outro. Delicioso mas muito, muito apimentado. O macarrão alho e óleo quase me fez chorar! Tive que pedir correndo uma coca cola diet, que custou uma pechincha: 4 dólares. Eita, país caro!

 Enquanto aproveitava a internet grátis do restaurante para dar uma sapeada no facebook e fazer o check-in em Petra, eis quem chega? A viúva! A mulher teve que ser resgatada pelo guia que, munido de uma charrete, desceu até um ponto longínquo do caminho e trouxe a cidadã para cima a reboque. Mas uma coisa eu tenho que admitir: hoje ela, pelo menos, não estava de salto. A roupa, contudo, era a mesma... e que cabelo seboso, Jesus amado!

 Enquanto deixávamos o centro de visitantes, o que eu vejo estacionado pertinho da saída? Uma carreta cheia de bikes!! Ah, que saudades da Cheetara! Tinham várias: Trek, Specialized, Giant, todas MTB. Que delícia deve ser pedalar por essas bandas! E sabem porquê? Tem-se por aqui o melhor dos dois mundos. Para os “maniacs”, é só descer qualquer pirambeira para fora da estrada. Paisagem de tirar o fôlego e trilhas extremamente técnicas. Para os speedeiros, asfalto impecável por quilômetros sem fim. Para o pessoal “club”, dá para mesclar um pouco dos dois lados, sem estresse!

 Bikers, tenham em mente que, para pedalar na Jordânia são necessárias três coisas: carro de apoio com litros e litros de água, manguitos/pernitos e, por fim, bolhitos. Sabem o que é isso? Acabei de inventar. É uma bolha que circunda o ciclista e que mantém a umidade do ar em um percentual aceitável para que um ser vivo, oriundo dos trópicos, possa sobreviver. Ideia genial. Vou patentear. Investidores, preparai-vos! Gobiking, que tal uma parceria? Com direito a logo estampado na bolha, coisa da melhor qualidade!

Estômagos forrados, voltamos para Aqaba. Estrada sinuosa que, depois do almoço, deixou o meu estômago pra lá de Marraquesh. Que, por sinal, não deve estar muito longe daqui, não?

 Largaram a gente em mais uma lojinha de souvenirs. Adivinha o que eu fiz? Comprei mais lama! Agora, tratamento para os cabelos! Ai, meu bolso... mesmo na Jordânia, os tratamentos do Mar Morto fazem jus à salinidade de 33% de suas águas. Mas, claro, nada comparado aos preços do Brasil! Aí já seria hipertensão direto!

 Saindo da loja, o que encontramos na calçada? Um dromedário! Não, camelos (com duas corcovas) não são comuns no mundo árabe. O que predomina é o dromedário, com uma corcova. E estava disponível para um passeio. Acham que eu ia perder a chance? Rá!! Montei e cavalguei no bicho! É surreal a hora da levantada, um balanço que conseguiu tirar a minha coluna no lugar, admito. Mas valeu a pena. Depois eu me endireito no SPA do navio.

Tive o cuidado de perguntar o preço do passeio antes, já que os outros pagaram 10 dólares. O sujeito disse “as you like”. Tá, pensei, vou dar os mesmos 10 dólares. Mas depois ele queria o dobro! Ai eu falei, em inglês, mais ou menos o seguinte: “Seguinte, chefia: ou pega os 10 ou fica sem nada, morô?” Pronto. Problema resolvido!

 Fizemos um rápido city tour na cidade. Não sei que diabos o guia achou que nos interessaríamos em ver uma rua onde só se vende pneus de carro, mas gosto não se discute... E a cidade revelou-se, ao final, bem cosmopolita. Até carruagem para alugar eu achei! Referência, provavelmente, às disponíveis no Central Park de Nova York. E eram charmosas!

 Mais um aspecto curioso. Até agora passei por Londres, Dubai, Muscat e Aqaba. Em todas essas cidades, achei um KFC! Lembram? Tinha no Brasil, e eu adorava as “chicken strips” de lá. Afinal, por quê essa franquia não deu certo na “terra brasilis”, alguém pode me explicar?

 Enquanto termino de redigir o texto, o capitão anuncia no sistema de som do navio: “Partiremos de Aqaba assim que eu achar as minhas chaves, ok?”

 Ok! Ele não é que ele achou? Hehe...

Partimos rumo ao nosso próximo porto: Safaga, Egito. Programa de amanhã? Luxor e Vale dos Reis! Aguardem o próximo capítulo!

 Abraços a todos!"
Só agora reparei, não escrevi causo sobre Muscat, Omã! Ah, vou retificar a situação assim que possível!

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