Causo pá-pum!
Hoje li no jornal que o palhaço Bozo está de volta à TV!
Bom, não vou ficar aqui tecendo comentários sobre a qualidade do programa. O novo, sequer vi. O velho, eu adorava!
Naquela época, a TV lá de casa tinha aquele seletor de 13 canais, que a gente virava “na raça” para trocar de programa. Nada de controle remoto. Internet e TV a cabo? Coisa de ficção científica!
Então não tínhamos muita opção. Era o Bozo, a Turma do Balão Mágico, Daniel Azulay, Bambalalão, os Trapalhões e por aí vai. Mas, pensando bem, eram opções mais atraentes do que as disponíveis hoje na TV aberta, não?
Mas voltemos ao Bozo.
Eu sempre ligava para o programa, no telefone 236-0873. Pois é, ainda me lembro do número. Meu sonho era conseguir apostar no cavalinho malhado. Ele quase sempre ganhava as corridas. Mas o máximo que consegui foi ouvir uma mensagem automática dizendo que não tinha sido daquela vez, e que eu havia ganhado um “beijo carinhoso do Bozo”.
Mas o causo não é bem sobre o palhaço. A “figura da vez” é uma palhaça! Involuntária, com certeza, mas plenamente caracterizada.
Na minha infância e adolescência, meu pai tinha um sócio de origem húngara, o João Kui. A esposa do João, Bete, contou essa história para a minha saudosa mãe, que me repassou há muitos anos. Eis o verdadeiro “causo”:
A família congregava na Igreja Batista Húngara. Parentes próximos e distantes enchiam o recinto, gente de todas as idades. Uma prima da Bete foi à igreja com a filha, uma criança de cerca de 4 anos, se me lembro bem. Estavam aguardando o início do culto, quando uma senhora se aproximou das duas.
A descrição da criatura: cabelos vermelhos. MUITO vermelhos. Armados com laquê no melhor estilo “Cassandra Cascacú”, naquela cor que te faria ajustar o contraste da TV. A maquiagem, pior ainda. Sabe aquela pessoa que, ao passar blush, fica com a aparência de quem levou uma chinelada na cara? Então. Os olhos, azuis, carregadíssimos de sombra, rímel e lápis de olho. E o batom? Lóooogico que era vermelhão! A cereja do bolo: a mulher usava um vestido azul!
A ruiva dá um “bom dia” para a prima da Bete e as duas começam a conversar. A criança, distraída, percebe o movimento e se vira para ver quem está conversando com a sua mãe.
O queixo da criança caiu. A menininha disse, a plenos pulmões:
- MÃE, OLHA O BOZO!!
A mãe, claro, quer que o chão se abra para poder enterrar a cabeça, de tanta vergonha. Fala sussurrando para a filha:
- Menina, fica quieta!
A ruiva, agora taxada de Bozo, fica alarmada e diz:
- Ah, meu Deus, será que eu exagerei muito na maquiagem?
A prima da Bete dá a resposta mais polida possível:
- Magiiiina!!! Tá ótima, fofa!!
E começa a puxar a filha para longe do “Bozo”, que está paralisada de horror. Mas a menina não se conteve:
- Não, mãe, o Bozo tá indo pra lá! BOZOOOO!!!
A ruiva, agora oficialmente nominada “Bozo”, murchou como se fosse uma bexiga de aniversário. A mãe, envergonhadíssima, vai arrastando a filha para a fora da igreja.
A menina insistiu:
- Mãe, eu quero brincar como Bozo!! Volta aqui, Bozo!! BOZOOO!!
E começa a chorar!
Não adiantou. A “Bozo” saiu de cena. E o pior: como explicar a uma criança que não se pode chamar alguém que tenha cabelo vermelho armado, maquiagem carregada e roupa azul de Bozo?
Isso me faz lembrar daquela música do Gonzaguinha: “Eu fico com a pureza da resposta das crianças, é a vida! É bonita, e é bonita!”
Porque tenham certeza: uma criança vai te dizer exatamente o que vê. Sem eufemismos. Resposta mais honesta, impossível!
Boa tarde a todos!
Nenhum comentário:
Postar um comentário