quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Sharm El Sheik e Canal de Suez

Continuação do causo anterior!


"Acham que foi o fim?

Necas, o dia seguinte ainda não estava planejado!

O passeio que havia sido acertada para o grupo fez água. Faltou quórum. Em plena madrugada, fui procurar um tour para fazer e, como não tenho receio de dar a cara a tapa, escolhi o mais radical: snorkeling no parque Ras Mohamed! O prospecto já avisa: banheiros estilo oriental (ou seja buraco no chão), sem lugar para se trocar, sem guarda-sol, sem sombra ou árvores para se refrescar. É necessário passar por um caminho cheio de corais cortantes e nadar por lugares estreitos para chegar a ver o melhor dos corais. Subidas e descidas íngremes, caminhos pedregosos e por aí vai.

Eu quase perguntei: dá pra ir de bike? Mas enquanto eu não desenvolver a minha nova invenção, o bolhito, nada feito!

Agora, o relato do próximo passeio. Próxima parada: Sharm El Sheik!

O lugar é um dos balneários mais sofisticados do planeta. E um dos pontos mais espetaculares para a prática de mergulho. Sem falar no seu passado histórico: trata-se da península do Sinai! Moisés andou por aqui, os dez mandamentos foram escritos aqui também! Sem falar no mosteiro de Santa Catarina. Mas optei por deixar a parte histórica de lado desta vez, e me concentrar na natureza. Ansiava por demais o mergulho nas praias daqui!

Peguei o ônibus do tour do navio às 8:30 da manhã, rumo ao Parque Nacional de Ras Mohamed. Na verdade, a cidade de Sharm El Sheik já está situada dentro do Parque, mas fomos para um lugar bem mais afastado, deserto e paradisíaco do que se vê nos balneários. Que são particulares, por sinal. Para desfrutar das praias, é necessário o pagamento de uma taxa. Não é caro, pouco mais de 10 dólares, com direito a cadeira de praia e toalha. Mas esse era o programa geriátrico, eu queria mais ação!

O guia da vez chamava-se Said. Egiptólogo, poliglota (8 idiomas) e com mestrado. Origem 100% egípcia e de personalidade cativante!

Fiquei imaginando como era alto o nível dos guias turísticos no Egito. Uma pessoa com essas qualificações deveria estar na universidade, pesquisando ou ensinando, não entretendo um bando de turistas farofeiros do mundo inteiro! Mas aí descobri o porquê dele fazer isso: um professor no Egito ganha, em média, 35 dólares POR MÊS! Um absurdo! País atrasado é assim, não valoriza seus professores. Alguma semelhança com um certo país tupiniquim, metido a besta, que resolveu sediar Copa do Mundo e Olimpíada, mas não garante um salário decente a seus professores? Sem comentários...

Antes de seguirmos para o passeio, uma parada para nos equiparmos: máscara de snorkeling, pé de pato e roupa de neopreme.

Já a caminho do snorkeling, passamos por uma área de mineração abandonada. O guia explicou que aquelas minas foram criadas pelos israelenses, na época da Guerra dos 6 Dias. Por um tempo, o Egito perdeu o controle do seu território situado na península do Sinai, uma guerra que, apesar de já ter sido encerrada oficialmente com um tratado de paz, ainda tem reflexos. Refiro-me aos “peacekeepers”, soltados de várias nacionalidades, principalmente americanos, que atuam como mantenedores da paz. Ou seja, as coisas ainda estão tensas por aqui.

A todo tempo, Said repetia “take nothing with you, leave nothing behind”. Ou seja, preserve a natureza! O local onde iríamos é praticamente intocado pelos homens e assim deve permanecer.

Ou deveria...

Na primeira parada, Said nos leva a uma das muitas praias paradisíacas do local para nos mostrar coisas interessantes. Como o “jellyfish” (espero que tenha escrito corretamente), peixe com 95% de água em sua composição. Said pegou um desses peixes na mão e nos deixou tocá-lo. Depois, o devolveu à água. Em seguida, nos mostrou uma planta nativa que faz mágica! Nasce na água salgada, e é capaz de armazenar água fresca em seus galhos, expelindo o sal pelas folhas! Olhamos de perto e vimos os grãos de sal espalhados, sensacional!

Enquanto via a planta e admirava a paisagem, vi uma coisa que me deu nos nervos: um saco plástico jogado na água. Faz favor, que vandalismo! O saco estava afundado, e bem no raso. Procurei Said para avisar e me ofereci para pegar o lixo. Ele explicou que os funcionários do parque fazem rondas e recolhem esse tipo de lixo. Mas agradeceu a minha gentileza.

Passamos para a próxima parada: resquícios do terremoto de 1968! Duas rachaduras surgiram na ocasião, uma que lembra muito o formato do rio Nilo, e outra, o formato da península do Sinai. As duas cheias de água, que veio do subterrâneo, da praia mais próxima. Imaginar que aquelas rachaduras apareceram de uma hora para outra é um pouco assustador, mas fascinante!

Depois paramos em outra praia, a “Praia da Juventude”. De acordo com a crença local, se a pessoa dá 10 passos nessa praia e grita “Habib” 3 vezes, rejuvenesce! Ninguém levou a sério a história, mas já que estávamos lá, não custava experimentar, certo? Todos se deram as mãos, caminharam os 10 passos e gritaram “Habib” a plenos pulmões. Pela minha dor nas costas, acho que não gritei o suficiente...

Agora, a última parada antes do mergulho, no ponto mais ao sul da península do Sinai. Tivemos que subir até o mirante, uma pirambeira de vários degraus , quase na vertical, e com o sol inclemente sobre as nossas cabeças. mas é claro que o esforço valeu a pena! No ponto correto, eu tinha o Mar Vermelho à minha frente, o golfo de Aqaba à minha esquerda e o Golfo de Suez à minha direita. Pausa para fotos, muitas fotos.

Detalhe curioso: Said fez toda a escalada descalço! Não, ele tinha sapato. Aliás, era um tênis todo incrementado, mas tirou o calçado para a escalada. Hábito? Exibicionismo? Aguardem...

Chegamos, finalmente, ao ponto de mergulho. Ao lado de onde paramos, uma tenda de beduínos montada que, após o mergulho, nos ofereceria um chá com as ervas locais.

Coloquei todo o equipamento, e preparei a caixa estanque da minha máquina fotográfica. Eu e Said fechamos a roupa de mergulho um do outro e fomos para a água, entrando com os pés de pato de ré.

Que água deliciosa! Que transparência!

Comecei a flutuar em direção aos recifes de coral, seguindo a dica de Said. E quanto mais nadava, mais o meu queixo caía. A natureza simplesmente esplendorosa, peixes abundantes e corais magníficos! Poderia ter ficado contemplando aquilo por horas a fio. Mantive a posição correta de flutuação e não encostei em um peixe ou coral sequer. Estava ali para observar, e não para danificar!

Fiquei cerca de uma hora e meia na água. Estava enrugada como ameixa, mas nem aí pra isso. Flutuei como uma caravela, para lá e para cá, atrás dos cardumes de peixe, observando as conchas, os peixes exóticos. Tudo devidamente fotografado, a caixa estanque funcionou perfeitamente.

Agora era a hora de sair da água (snif!) e experimentar o chá dos beduínos. O que eles serviram para nós era recomendado para tratar dores de estômago e combater a diarreia. Tomei um copo, e o sabor era delicioso! Sentamos na tenda dos beduínos, e Said nos explicou sobre eles. São 4 tipos de tribos de beduínos na região. Uma muito bem de vida, dona de hotéis na região do Sinai. Outra de fazendeiros, outra de pescadores. Essas duas suprem os hotéis dos beduínos ricos com suas mercadorias. Por fim, a tribo essencialmente nômade, sem nada, que se move em busca de fontes de água e alimento. E era essa tribo que estava nos recepcionando agora.

Said também explicou (enrolado em uma toalha, mostrando o bronzeado e o tronco sarado – hábito ou exibicionismo?), que beduínos não vão aos médicos e aos hospitais. Todo o tratamento que utilizam provém das ervas locais, coletadas e preparadas em formas de chá. Tinham à venda ervas para o estômago (a que eu experimentei), para diabetes e para pressão alta. Comprei saquinhos das duas primeiras, já que tenho gastrite e meu pai é diabético. Também comprei o artesanato deles, muita coisa feita com a “pedra turquesa”, extraída da região do mosteiro de Santa Catarina. Trabalhos interessantes, e genuínos! Afinal, eu fui até a barraca deles para comprar, certo?

Pegamos o ônibus de volta ao navio. No caminho, Said responde às perguntas dos turistas. Uma italiana pergunta sobre os casamentos arranjados, e o guia conta que o dele foi feito dessa forma. Ele casou com uma prima que, segundo ele, é muito bonita e muito apaixonada pelo marido (fato ou exibicionismo?), e que tem 2 filhas. A família mora em Luxor. Ele nos fez uma revelação que nos surpreendeu pelo seu caráter particular: ele não vive sem a esposa, mas não a ama. E se apaixonou recentemente por uma italiana, que trabalha em um dos navios da Costa Cruzeiros. Mas a italiana mentiu ao dizer que não tinha namorado (que, por sinal, também trabalha na Costa). Contou que está sendo difícil tirar a italiana na cabeça, pois quando a conheceu, a impressão que teve é de que os dois se conheciam há milênios. E foi falando, completamente à vontade, com a certeza que todos no ônibus dificilmente voltariam ao Egito e, muito menos, encontrariam a sua mulher para fazer alguma fofoca!

E aí, desabafo ou exibicionismo? Vocês decidem!

 Chegamos ao porto, e o navio zarpou pontualmente às 15:30 rumo ao Canal de Suez. Deixei de fazer a aula de spinning, estava realmente exausta de caminhar no sol e escalar. E alguma coisa não estava bem, mas deixei passar.

O navio estava se preparando para a travessia do Canal. O capitão Henrik, em um dos canais do navio, nos contou como seria o procedimento, e vou passar isso para vocês aqui.

Tem toda uma burocracia para fazer essa travessia. Às 2:30 da manhã, o navio lançou âncora e foi abordado por oficiais do canal, que verificaram a papelada, os certificados, as condições sanitárias, os vistos e as taxas. Um navio com a tonelagem do nosso, o Brilliance of the Seas, paga cerca de 150 mil dólares para fazer a travessia, que é feita em comboio. Tem tráfego oriundo do golfo de Suez e do Mediterrâneo, mas a via não é de mão dupla. O canal é estreito em boa parte do seu trajeto, com exceção de dois lagos e algumas bifurcações, que podem acomodar pequenos comboios e dar a vez para comboios maiores atravessarem primeiro. O tráfego é todo controlado para que os navios não fiquem em posição de não poderem avançar ou recuar.

Nosso comboio foi de cerca de 20 navios, e o Brilliance foi o número 1, o “abre alas”. Deu de 10 em qualquer carro alegórico de escola de samba! Os demais navios vinham atrás de nós, em fila indiana, em velocidade reduzida. Fomos escoltados por práticos no caminho, embora não fosse algo realmente necessário. O capitão explicou que o nosso navio é o que tem maior capacidade de manobra dentre todos os que estão certificados a fazerem a travessia no canal (é, tem esse papel também), mas que, por motivo de orgulho, os oficiais do canal não abrem mão da escolta pelos práticos. Tá bom, o canal é deles, temos que seguir as regras!

O ponto alto foi quando o navio atravessou uma ponte estaiada, com o vão livre que me pareceu mais alto que o da ponte Rio-Niterói, mas não tenho certeza desse fato. Aliás, muita coisa fica faltando nomear nos relatos, pois não consigo fazer uma pesquisa na internet para complementar as informações. E não é sempre que consigo anotar o que me dizem. Perdão, amigos, por essas lacunas, mas surfar no Google não é uma coisa viável de se fazer aqui!

Não cheguei a acompanhar a travessia toda, mas acordei às 2:30 da manhã com o barulho da âncora descendo. E com uma dor de barriga daquelas que mal te permitem chegar ao banheiro a tempo. Não sei se aquele chá beduíno está fazendo uma “faxina” no meu organismo, ou se a água do chá estava “batizada”, mas que fiquei completamente oca por dentro, fiquei! Passei o dia comendo purê de batata e tive que dispensar a sobremesa, o estômago ainda dói! O pior de tudo foi ter perdido a aula de spinning, mas realmente não tinha condições de pedalar, estava um caco!

Agora estou fazendo uma pequena mala de mão para amanhã. O desembarque será em Alexandria, no Egito! Iremos pernoitar em um hotel no Cairo, para não perdermos tanto tempo nos deslocamentos ida e volta para o navio. O passeio promete: pirâmides, museu do Cairo e por aí vai. Aguardem mais notícias!

Até a próxima!"

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