quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Quinze anos de JF!

Post de 03/10:


Hoje o causo do dia é histórico!

 Há exatos 15 anos, tomava posse como servidora na Justiça Federal!

 Putz, 15 anos...

 Em 1997, ainda estudava Direito na PUC-SP e estagiava na CEAGESP. Foi uma época interessante, deixou saudades!

 A CEAGESP lidava, principalmente, com causas trabalhistas. Na época, existiam as "juntas de conciliação e julgamento", e não as atuais varas. A justiça do trabalho ainda não tinha o "prédio do Lalau" na Barra Funda. Então as juntas eram divididas em 5 prédios espalhados pelo centro velho de SP, a área mais fascinante da cidade!

 Passava diariamente na famosa esquina das avenidas Ipiranga e São João. Garimpava lojas especialíssimas! Como a de CDs, especializada em trilhas sonoras de cinema. Foi nessa loja que comprei a minha primeira trilha, com o meu primeiro salário de estagiária: Ben Hur! Box duplo, com um maravilhoso encarte que contava a história do filme, dos bastidores e do compositor Milos Rozka. Tem, ainda, a única foto conhecida do Cristo de frente! Lembram-se que , no filme, ele só aparece de costas? Uma raridade!

 Conseguia me organizar para fazer tudo o que eu precisava no menor tempo possível. Assim tinha chance de explorar com mais vagar o centro.

Às vezes eu me enchia de coragem e frequentava os cinemas "pulguentos" da região. Assisti a filmes como "O quinto elemento" e "Hércules". Era um sufoco, literalmente, agüentar o cheiro de mofo das salas de projeção! Sem falar das pulgas... Mas o precinho era bem camarada!

 Até que, num belo sábado, recebi o telegrama da justiça, chamando para a realização dos exames médicos e psicotécnicos. Foi uma alegria tremenda! Passei, yesss!!

 Na semana seguinte, fui atrás dos exames e da papelada. Certidões e mais certidões comprovaram a minha reputação ilibada. Exames médicos, ok. Só faltava o psicotécnico!

 Tive que fazer uma redação contando as coisas que já havia feito na vida. Podem imaginar como foi o meu texto, não? Falei que tinha feito ballet (12 anos, sabiam?), natação, ginástica , basquete etc. E que havia escrito 2 livros. Premiados!

Ah, essa vocês não sabiam, né?

 Foram escritos como trabalhos da escola. No primeiro, "Uma história acidental", eu e a minha então cachorrinha poodle Teca viajamos no tempo para a época do Rei Artur. No segundo, "Operação Carmem Miranda", eu e o meu poodle Tobi também viajamos no tempo, mas paramos no meio da Segunda Guerra Mundial. Tenso!

Quando a psicóloga leu a redação, olhou pra mim e disse: "nossa, você já fez bastante coisa na vida, não?"

 Tomei isso como um elogio! Hehe...

 Passado o psicotécnico, chegou o dia da tão sonhada posse!

 Em 3 de outubro de 1997 fui para a cerimônia de posse e exercício, no fórum cível da Av. Paulista. Recebi a minha identidade funcional (a mesma até hoje), crachá, carteiras do convênio e a minha primeira lotação: vara cível!

 O começo foi meio traumático. Não havia uma ambientarão para os servidores novos. Era chegar no lugar e começar a trabalhar. Mas serviço de vara não é algo que se aprenda fora do serviço público. Só quem é de dentro sabe como se faz, conhece o sistema, as peculiaridades. Tínhamos 1 computador e 2 terminais do sistema processual para a vara toda! No almoxarifado, máquinas de escrever e papeis carbono. Só faltou o mimeógrafo!

 A adaptação foi difícil, mas muita gente legal me ajudou naquela época. Ainda mantenho amizade com o pessoal da minha primeira lotação!

 Com o tempo, recebi proposta para trabalhar no setor de informática da justiça. Decidi experimentar. Por 1 ano eu me dediquei aos computadores. Fiz cursos de manutenção de micros, impressoras, monitores. Auxiliava os usuários, rodava diagnósticos e fazia backups. Cheguei até a pensar em fazer faculdade de computação, mas acabei desistindo da ideia e voltei a trabalhar em vara. Desta vez, previdenciária.

Foram anos muito produtivos! Não que eu trabalhasse mais, mas nesse tipo de vara a gente vê o jurisdicionado no balcão, o autor da ação. Aquele velhinho que pede revisão da aposentadoria, ou a senhora inválida que precisa do auxilio doença, ou a criança que não consegue receber a pensão por morte da mãe. Então, quando eu pegava o processo da dona Lusitânia, por exemplo, sabia que era o da velhinha de cabelo roxo que vinha perguntar no balcão, toda semana, "cadê meu dinheiro?". Ou do seu "Armando". O nome dele não era esse, mas quando viu o seu nome no meio de outros autores, no que se chama no direito de "litisconsórcio ativo facultativo" (vários autores com pedidos idênticos podem pedir, juntos, em um único processo), começou a gritar a plenos pulmões: "Tão armando pra mim! Quem é essa gente no meu processo que nem conheço?"

 Posso dizer que o meu momento de maior realização como servidora foi em vara previdenciária.

Eis o caso.

 Apareceu no balcão um velhinho, muito humilde, perguntando sobre um processo. Disse que a informação dada pelo seu advogado foi que ele não tinha valores a receber. Mas que ele precisava tanto de um dinheirinho... A laje da casa estava cedendo, e ele precisava comprar um terno para ir ao casamento do filho!

 Peguei o processo dele. Constatei o seguinte: o advogado, salafrário, havia recebido o dinheiro do cidadão há 2 anos! E era o valor de um carro zero km!

 Comecei a espumar feito cachorro raivoso, não acreditava no que via! Imediatamente, tirei uma cópia do alvará de levantamento, com os valores pagos e a assinatura do advogado pilantra no recibo. Dei para o velhinho e disse: vá cobrar seu advogado, ele já está com o seu dinheiro!

 Passaram-se algumas semanas e o velhinho voltou ao balcão da vara. Ele estava acompanhado da esposa e carregava uma sacola de supermercado. Pediu para falar comigo e lá fui eu ver do que se tratava.

Ele estava lá para agradecer! Disse que havia dado uma "prensa" no advogado, do jeitinho que eu instruí, e que ele havia recuperado boa parte do dinheiro. A reforma da laje estava em andamento. O terno para o casamento do filho, comprado. E ele tirou da sacola do mercado dois presentes pra mim: uma lata de marrom glacê e uma caixa de bombons!

 Tive que segurar as lágrimas, não sabia o que fazer! Não tive coragem de recusar o presente, ele tinha ido lá só pra isso. Agradeci, disse que eu não havia feito mais do que a minha obrigação. Mesmo assim, recebi muito confete dos dois, fiquei realmente emocionada... Levei os presentes para a nossa copa e compartilhei com os colegas.

Ver que o seu trabalho faz a diferença na vida de alguém: não tem preço!

 Claro que, depois, recebi ameaças do advogado salafrário. Quem era eu para explicar o processo para o cliente dele? Foram momentos tensos... Nada aconteceu, felizmente. Tive apoio da chefia e da juíza, e pude seguir com o meu trabalho normalmente.

Pouco tempo depois, nossa equipe voltou a atuar em vara cível. Ano que vem, a "velha guarda" fará 10 anos trabalhando juntos na mesma lotação. É muito tempo de convivência! Passamos por bons e maus momentos. Muita tensão. Muita gargalhada também! Viagens entre amigos, algumas "lutas no gel"... Mas tudo acaba bem no final!

 O importante é: gosto do que faço. Sei que o meu trabalho faz a diferença na vida de muita gente. E quero continuar assim por muito tempo!

 Boa noite, pessoal!

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