quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Voou m+&%@ no ventilador...

Post de 18/02:


Galera, hora do causo!

 Já faz tempo, né? Mas não consigo escrever por "obrigação", o causo tem que "baixar" na minha cabeça. E essa chuva que promete colocar a cidade mais uma vez submersa resgatou um causo que aconteceu comigo há muito tempo. Foi tão "punk" que não dá pra esquecer!

 Aposto que estão pensado: lá vai ela se estrepar mais uma vez, certo?

 É, foi bem por aí.

Eis o que aconteceu.

Era uma tarde como essa. Tanta chuva que eu pensava que, a qualquer momento, veria a Arca de Noé descer a rua Clélia num rafting bem radical. Realizou a cena? Então.

Estava vindo, não sei de onde, para casa. Pelo menos tentando. Meu bairro, até hoje, é um horror em termos de transporte público. Pra vocês terem uma ideia, chegava a esperar até 3 horas por um ônibus que servisse o meu bairro. O perrengue era tanto que um dia, quando estava de carro, vi o ônibus passar e pensei: "que desperdício"! Queria largar o carro e sair correndo atrás do ônibus!

 Mas voltando ao causo...

 O ônibus havia me deixado na Lapa. Estava caminhando em direção ao Mercado da Lapa quando a chuva caiu, ou melhor, desabou. Parece que alguém estava jogando baldes de água em cima da gente. E, como se não bastasse a água, tinha o vento. Sabem aquela chuva que te acerta em cheio na horizontal e faz do teu guarda-chuva uma peça inútil de decoração? Exatamente assim!

 Até aí, nada de mais. Afinal, quem sai na chuva é pra se "queimar", certo?

 Pois é, aí que o negócio ficou feio. A chuva era tanta, mas tanta, que transformou a 12 de Outubro num rio caudaloso. E não é figura de linguagem. Os sacos de lixo que estavam na calçada começaram a acertar os pedestres, numa versão totalmente trash do Angry Birds. E, claro, me acertavam também!

 Quando esse bombardeiro mal cheiroso começou, não tinha mais o que fazer, a não ser procurar abrigo. Mas os comerciantes, muito solidários, fecharam as portas rapidinho! E eu, bocó, fiquei sozinha, na 12 de outubro, no meio da corredeira de lixo!

 Comecei a procurar nas ruas próximas um abrigo. Em uma paralela, achei um bar que estava terminando de baixar as portas. Salvação! Eu, literalmente, fiz um "peixinho" e me joguei lá dentro. Um teto, afinal! Estava ensopada, suja e exausta, mas não ao ar livre.

Não era a única no boteco. Umas 30 pessoas se apinhavam no balcão, esperando o grosso da chuva passar. E demorou um pouco. Quase uma hora de toró incessante! E nem tinha como avisar a minha mãe, naquela época, celular era coisa de ficção científica!

 Putz, entreguei a idade! Hehe...

 Quase uma hora depois, o boteco levantou as portas. E o que vimos nos deixou de queixo caído. Parecia que a Lapa havia sido bombardeada! Lixo espalhado por toda a parte, bueiros entupidos, árvores caídas, carros batidos, telefones públicos mudos. Até hoje, não vi algo parecido. Era realmente assustador!

 Mesmo em meio a tanta destruição, tive que me resignar e encarar o meu destino. Chegar em casa, de ônibus. Aquele que leva horas pra passar no ponto, citado no começo do causo, lembram?

Fui andando em direção ao ponto, assimilando a destruição que me cercava. Outros pedestres, igualmente pasmos, caminhavam, cabisbaixos, atrás das suas "conduções". A perspectiva não era boa. Quanto tempo iríamos esperar por um ônibus? No meio desse caos todo? E já estava escurecendo, o que deixava a situação toda muito mais deprimente.

Estava perdida em pensamentos, tentando manter o pouco calor do corpo que me restava, quando começo a atravessar a última rua que me separava do ponto do meu famigerado ônibus, perto da estação de trem da Lapa. Até aí nada de mais certo?

 Hahahaha!! Realiza o que aconteceu!

Aviso: se você, leitor, é cheio de "nojinho" por qualquer coisa, pare de ler agora! E vai ter linguagem chula também!

 Eu avisei, heim? Não venham reclamar depois!

 Voltando ao causo.

Estava atravessando a rua para, como já dizia a galinha, "chegar ao outro lado", quando sinto que o chão, de repente, havia ficado muito escorregadio.

Levei um susto. Comecei a patinar no meio da rua! Mas que diabos, o que está acontecendo?

 Foi só aí que resolvi olhar pra baixo.

 E vi o que era...

 Socorro!!!!!

 Estava andando num mar de merda!!!!

 Isso mesmo, caro leitor. Alguma fossa deve ter estourado por perto, espalhando cocô pra todos os lados!!

 Eu congelei! E agora? Estou quase caindo aqui, não quero mergulhar de cabeça nesse monte fecal!!

 Não conseguia ir pra frente ou pra trás. Qualquer movimento em falso, era queda na certa. E descobriria o verdadeiro significado da expressão "cair na merda". Ou qualquer chavão parecido.

Comecei a olhar para os lados, buscando ajuda. As pessoas me olhavam, boquiabertas. Iam atravessar também, mas pararam ao verem a minha cara de terror. Olharam para o chão... E foram procurar outro lugar para pegar o ônibus.

Só que a madame aqui ainda estava empacada no meio da rua, né? E como sempre, nessas situações críticas, aparece o sujeito "espírito de porco". Um cara me olhou e disse, a plenos pulmões:

 - Aí, dona, num vai caí na merda, heim? Hahahaha!!!

 E foi embora, sem pensar em me ajudar!

 Ora, seu fdp...

Grrrrr!!!

 Felizmente, um motoqueiro, equipado com botas, se apiedou de mim. Foi andando, com cuidado, até onde eu estava e me ofereceu apoio para atravessar a rua. Graças a ele, alcancei a relativa segurança da calçada. Imunda, meu vestido um trapo, e as minhas sandálias... Pois é, leitor, estava de sandálias. De salto anabela!

 Tá, podem parar de rir, porque ainda tem mais...

 Tentando limpar os sapatos fazendo o arrastapé na calcada, percebo que a movimentação de veículos aumenta. A cidade começava a sair da inércia. E o primeiro veículo que passou na rua cheia de cocô foi uma moto.

Pobre coitado... Com a pista escorregadia, ele deu uma derrapada espetacular no asfalto, jogando a "merda no ventilador", para todos os lados!

Eu, que já imaginava que isso iria acontecer, me escondi atrás de uma pilastra. A maioria não teve a mesma sorte: foram salpicados de cocô!

 O pobre motoqueiro, todo lambuzado, se levanta, pega a moto e vai andando, na corda bamba, até a calcada. E enquanto ele se limpava, outro pobre motoqueiro tem o mesmo destino. Mais uma queda espetacular, mais cocô voando pelos ares!

 O primeiro motoqueiro foi ajudar o segundo. Não tiveram tempo de chegar na calçada. Caiu o terceiro e, depois, o quarto!! Já o quinto conseguiu se equilibrar. Afinal, quatro pessoas já haviam feito a "limpeza da pista"!

 Vendo todo esse espetáculo, é claro que comecei a passar mal. Mas dei risada também. Era tão surreal aquele "surfe na merda" que, pensando bem, não tinha como não rir!

Brincadeiras à parte, o que eu queria mesmo era sair dali, o quanto antes, e injetar um pouco de desinfetante na minha veia.

Não esperei pelo meu ônibus. Peguei o primeiro que passou. Não me deixaria perto de casa, mas seria melhor andar do que ficar assistindo aquele monte de merda voando pra lá e pra cá.

Claro, não fui a única com essa ideia, então o ônibus estava lotado. Mas estava tão cansada, tão suja e tão humilhada que, sem a menor cerimônia, sentei no chão do ônibus para descansar. Que se dane a finesse. Estava no fundo do poço!

 Desci do ônibus 2 horas depois. Claro que o trânsito estava caótico, certo? Fui me arrastando por alguns quilômetros até a minha casa. Quando cheguei, minha mãe me olhou e perguntou assustada:

 - Filha, o que aconteceu?

 Eu não me agüentei e desabei a chorar:

 - Babãe, tô tota schuja di totô!!

 Na garagem mesmo, tiro toda a roupa que foi, obviamente, para o lixo. Tomei o banho mais demorado da minha existência e, mesmo assim, não conseguia me sentir limpa. Nada tirava da minha cabeça aquele monte de cocô voando pra lá e pra cá...

 Assim que o trânsito amansou, minha mãe me levou ao médico. Fiz exames e, felizmente, não peguei nenhuma bereba indesejada.

Moral da história: paulistano tem que estar preparado para enfrentar qualquer perrengue na cidade. E se não tem estômago pra isso, melhor procurar outro lugar pra morar. Afinal, parafraseando o Rei Leônidas de Esparta, "Isto! É! São Paulo!"

 Boa noite a todos!

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