quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Vale dos Reis, Nilo e Luxor

Em 30 de abril estávamos no Egito!

O causo era longo demais, então eu o dividi. Assim não fica tão cansativo, ok? E dá pra colocar algumas fotos tbém...



"Notícias do Egito, amigos!!

 Três dias sem publicar nada, e sabem por quê?

 Eu escrevi os relatos, mas não consegui postá-los no Facebook! A última tentativa de fazer um único post para Luxor me custou muita frustração e menos 20 dólares na conta. Cruel, amigos! Então farei o seguinte desta vez: vou fazer o relato de 3 dias (Luxor, Sharm El Sheik e Canal de Suez) de uma vez, mas publicarei parte em atualização de status e o restante, em comentários. Acontece que, se tento copiar/colar o texto todo, mesmo que aos poucos, o site trava! E tenho muito o que contar a vocês!

 Vamos começar então? Primeiro, Luxor!

 Confesso, o passeio foi exaustivo. Embora não tenha sido tão exigente em termos físicos, passamos seis horas do dia dentro do ônibus. Três para chegar a Luxor, mais três para a volta. E isso desmonta qualquer um.

 Agora perguntem: valeu a pena?

 YESSSSS!!!

 Querem saber mais? Eu conto!

 Começamos o dia cedo. Às 7 da manhã, todos já estavam prontos para o embarque nos ônibus. Tivemos que levar nossos passaportes desta vez, passear por aqui é um pouco... como direi... tenso.

 Não sabia o que esperar quando entramos no ônibus escoltados por um militar armado até os dentes. Falo sério, o cara tinha uma metralhadora e mais uma arma escondida nas costas. Acho que as armas pesavam mais do que o próprio militar, chamado Mahmoud – magro de dar dó. Mas quem sou eu para mexer com um cara armado?

 O guia do passeio foi um arqueólogo chamado Chad. Juro para vocês, bastava colocar um chapeuzinho de faraó no cara e ele ficaria igualzinho à máscara mortuária do King Tut! Sem exagero, lá estavam os mesmos traços: olhos amendoados, nariz redondinho, boca carnuda. Como o próprio Chad nos contou durante o passeio, são muito poucos os descendentes do antigo povo egípcio. Aqui, agora, prevalece o sangue árabe. Mas não mencionou que ele próprio era uma exceção!

 E lá fomos nós, com quase 3 horas ininterruptas de aula de história, rumo ao Vale dos Reis. Chad mostrou grande conhecimento, mas tinha um cacoete que dava nos nervos: ao falar conosco (em espanhol), ele falava “de acordo” a cada duas palavras. Então era bla bla bla “de acordo”, bla bla “de acordo” e por aí vai. Mas vá lá, Egito é Egito, vamos aproveitar!

 Durante o caminho, fizemos uma pequena parada para banheiro e tivemos o primeiro contato com o comércio local. Digo a vocês, foi assustador! As pessoas daqui, especialmente os jovens, enfrentam uma crise econômica bem pesada, então eles estão dispostos a qualquer coisa para fazer uma venda. Eles te perseguem. Te tocam. Insistem. Barganham. E quando o turista diz não pela décima quarta vez, lá vem o próximo ambulante, e começa tudo de novo!

 Ao chegarmos ao Vale dos Reis, fomos pegos de surpresa com uma orientação ostensiva da polícia local. Nada de fotos. Nada, nadinha. Deixem a máquina fotográfica no ônibus. O pessoal se entreolhou, mas ninguém quis discutir com Mahmoud e sua patota.

 E lá fomos nós em direção ao complexo, num calor que, literalmente, rachou os meus lábios. Mas graças à minha proteção intensiva (incluindo os manguitos e guarda-chuva), a cútis foi preservada.

 Na entrada do centro de visitantes, uma rápida olhada no mapa tridimensional do Vale dos Reis. Foi curioso poder ver esse mapa ao vivo, já o tinha visto em tantos documentários...

 Pegamos uma espécie de trenzinho (aqueles caminhões com bancos adaptados), subimos uma ladeira e ficamos em frente ao complexo. Já com nossos ingressos, entramos na área aberta aos turistas, e com direito a visitar três tumbas. Confesso a vocês, eu deveria ter tomado nota no celular do nome dos faraós (lembro de Ramsés IX), mas fiquei com medo da polícia implicar com o telefone, já que tenho câmera no mesmo aparelho. Mas guardei o nome desse faraó, e já já vão saber porquê.

 A primeira vez que se entra numa tumba egípcia, a gente nunca esquece! Desci as escadas, imaginando o cortejo fúnebre do faraó há muito morto, fazendo o mesmo trajeto. Para onde quer que olhasse, hieróglifos, pinturas belíssimas, representações dos rituais fúnebres, a história do falecido... cores surpreendentemente vibrantes para a idade que têm, milhares de anos!

 E é aí que se começa a perceber as consequências nefastas do turismo. Mais uma vez, eu me senti um gafanhoto depredando um ambiente extremamente delicado. Tive essa sensação em Maragogi, por exemplo. Aqueles corais todos sendo destruídos por patadas de turistas irresponsáveis me deixava doida! Por quê digo isso em relação às tumbas? Porque Chad nos contou que graças aos turistas, a coloração das pinturas das tumbas perdeu 40% de sua vivacidade em apenas 20 anos! Um estrago sem volta, terrível! Já entrei na tumba com a sensação de que não deveria estar ali. Pode ser uma ideia cruel, mas se a visitação pública causa danos ao que se é visitado, não se deve permitir a visita. Simples assim. Mas e aí, como fica a população em volta do Vale que vive em função do turismo? Situação difícil essa...

 Os egípcios vêm tentando amenizar esse estrago, sem perder sua fonte de receita. Nada de flashes, para começar. E as paredes eram cobertas por placas de vidro já que, infelizmente, sempre tem um turista bocó que pensa “ah, se não tocar eu não acredito que estive lá”! Acreditem, a maioria dos turistas são mal educados, nada civilizados e extremamente egoístas. Não pensam nas gerações futuras. Se tiveram a chance de ver, beleza, que se danem os que vierem depois. Esse tipo de atitude me tira do sério!

 Pronto, já fiz a minha micro-catarse, voltemos às tumbas. E à viúva!

Ela estava comportada hoje. Mesmo porquê o guia está em cima, cuidando para que não ocorram mais inconvenientes. Ela trajava tênis e, finalmente, uma roupa diferente! Infeliz escolha, contudo, já que estava de calça jeans, num ambiente equivalente a um forno a lenha de pizzaria.

Apesar de não termos tido problemas com ela, teve uma coisa digna de nota. E foi justamente na tumba do pobre Ramsés IX.

Lá estávamos nós dentro da tumba, em fila indiana, apreciando a arte das paredes, quando a viúva olha para uma das paredes, que tinha um fosso, e diz: “isso aqui era uma tumba, né, acho que era!”...

 Cri cri... cri cri... cri cri...

 É por isso que falam que a memória mnemônica é uma maravilha. Associei a pérola ao faraó e não esqueci o nome da tumba!

 Claro, não deixaria de visitar a tumba mais famosa: King Tut! Para ganhar alguns trocados, eles vendem o ingresso para aquela tumba separadamente, tão caro quanto o ingresso para o complexo. Mas para comprar o tal ingresso, tinha que pegar o trenzinho de volta, pegar a fila, pagar o ingresso, pegar o trenzinho na ida e, só depois, ver a tumba. Ou seja, não daria tempo. Mas cheguei até a escadaria da entrada, o mesmo lugar em que Howard Carter e Lord Carnavon, no ano de 1922, estiveram. Pensei na emoção dos dois por encontrarem uma tumba intacta. Só de estar em uma tumba vazia já era de encher o fôlego, imagina uma toda ornada com tesouros? Só para vocês terem uma ideia: a quantidade de ouro retirada naquela tumba era três vezes maior do que todo o ouro em circulação na Rússia, no início do século XX! Deu para imaginar agora o tamanho do tesouro? Vou ver boa parte dele no Cairo, daqui a alguns dias!

Pegamos o trenzinho de volta e recebi o primeiro pedido de casamento do dia. Pois é, pessoal, os mulçumanos do Egito não são como os da Petra, de Muscat e de Dubai. Nem de longe. Eles não tem o menor receio de se aproximar, tocar e flertar descaradamente. Um fez questão de tocar o meu rosto, e olha que eu nem usei ainda a lama do Mar Morto na minha cútis!

Claro, tudo é encenação para turista, mas não significa que não estejam gostando, certo? Hehe...

Fizemos uma parada rápida para fotos no templo da rainha Hatchepsut, a única mulher que chegou a governar o Egito. Fez isso usurpando o lugar de direito do futuro Thutmosis III que, ao ascender ao trono, e motivado por vingança, fez questão de destruir tudo o que a rainha havia construído. Todas as suas imagens, com exceção de uma, foram perdidas. Pena que ele não conhecia o Chaves do 8, ou Thutmosis já saberia que “a vingança nunca é plena, mata a alma e envenena”. Chaves também é filosofia, pessoal!

O ônibus nos deixou em uma loja que nos ensinou, passo a passo, como as esculturas de alabastro são feitas. Aquelas pessoas são descendentes dos trabalhadores que, há milênios, escavaram as tumbas do Vale dos Reis! O gerente do lugar, que não me disse seu nome ou eu não me lembro, disse que só me daria desconto se pudesse ver os meus olhos. E lá veio mais um pedido de casamento! Perguntou ao meu pai quantos camelos ele queria por mim. O sacana do meu pai pediu apenas um! E o sujeito disse: “ah, mas ela vale bem mais do que isso, olha só que beleza de mulher”!

Funcionou, gastei 65 dólares com um busto de Nefertiti de pedra basáltica e um quadro com a pintura de Ramsés II...

Saindo da loja, fomos visitar os colossos do faraó Amenófis III. Só 3500 anos, que tal? Pausa para fotos. Pena que estão em péssimo estado. Também, com uma porção de pombos fazendo cocô em cima das estátuas, quem se aguenta?

Após, seguimos para o Nilo. Rio Nilo, o famoso, o responsável pelo florescimento da civilização egípcia, um rio de significado inimaginável! Mal via a hora!

Para chegarmos ao restaurante reservado para o nosso almoço, tivemos que navegar pelo rio. Entramos num pequeno barco e flutuamos por aquela imensidão de água. Muitas, muita fotos! Foi nessa travessia que uma coisa interessante aconteceu.

Mahmoud, o militar armado até os dentes que escoltava o nosso grupo, desencantou!

Estava eu lá sentadinha no meu lugar quando ouço um barulho de pássaro. Virei a cabeça, procurando a fonte e, quem era? Mahmoud, no teto do barco, me chamando para subir e ter uma vista ainda mais privilegiada do Nilo.

Já sabem o que eu fiz, não?

Subi a escadinha com a ajuda de Mahmoud, e de lá tive uma visão panorâmica do rio. Outros colegas de passeio se juntaram a nós. Um deles me pediu para perguntar, em inglês, se poderíamos tirar fotos de Mahmoud com a sua metralhadora à mostra. E o cidadão topou, todo sorridente! Mostrou a arma, e muitos, inclusive eu, tiramos fotos com ele e a arma a tiracolo.

A partir daí, Mahmoud não me deixou em paz... mas não foi ruim, como vocês verão mais adiante.

Nosso barco nos deixou no Sonesta St. George Hotel, um 5 estrelas com as piscinas de frente para o Nilo. Desembarcamos e nos fartamos com a culinária local. Pela primeira vez, experimentei tâmaras, e não é que o negócio é delicioso? Lembra ameixa, mas sem o gosto melado. Recomendo!

Tinha acesso à internet no hotel, mas era paga. Pedi informações e cheguei até o business Center, na intenção de adquirir um curto acesso para fazer o check in no face e dar uma olhadinha na web. Mas quem disse que consegui? A atendente estava discutindo furiosamente no celular, em árabe, e nem me deu atenção. Esperei um pouco... até que resolvi ir embora e, aí sim, ela reparou em mim, desligou e me atendeu. A comunicação foi um martírio, a mulher tinha um péssimo inglês e, quando me fiz entender, ela começou a preparar uma papelada enorme para preencher. Disse a ela: moça, tem que ser rápido, meu grupo já está de saída... não, não dá para cobrar no meu quarto, não estou hospedada... não preciso de recibo e, na verdade, nem no troco, pode ser? Não pôde. Deixei para lá e, na saída, soltei em bom português: “que lerdeza”!

Aproveitei os 5 minutos restantes do almoço e fui tirar fotos do hotel com o meu pai. Lugar paradisíaco! Estava crente que iríamos sair de barco, do mesmo modo que chegamos, mas não foi o caso. Não achava mais o grupo!

Disse, desolada,

- E agora, quem poderá me defender?

- Eu!!

- O Mahmoud Colorado!

- Não contavam com minha astúcia!

O sujeito nos achou, nos levou pela mão até o ônibus. De lá fomos nós para uma galeria, coisa chique, cheia de arte em papiro. Tivemos uma demonstração ao vivo de como se fazia o papel, e aprendemos a reconhecer um papiro genuíno.

Comprei apenas um papiro pequeno. Sabia que, por ter sido uma loja indicada pelo guia, tudo seria mais caro (e acertei na mosca). Mas teve gente que gastou 100 dólares ou mais de papiro. Não gastei nem um décimo disso, mas admito, tinha muita coisa linda naquele lugar!

Seguimos, finalmente, para os dois últimos pontos altos da visita: templos de Luxor e Karnac!

Luxor foi uma decepção... o ônibus não parou, só pudemos ver e fotografar pela janela!

Mas fomos à forra em Karnac. Deus do céu, o que é aquilo?

IMPRESSIONANTE!

Eu não sabia para onde olhar: esfinges, colunas, estátuas, obeliscos (os maiores do Egito). Comecei a andar feito barata tonta, tentando absorver, no pouco tempo ao nosso dispor, a magnificência daquele lugar, que levou quase 2000 anos para ficar pronto!

E foi aí que Mahmoud entrou novamente em ação, com suas anteninhas de vinil detectando a presença do inimigo e seu trabuco carregado de balas! Ele nos guiou numa espécie de tour privativo por Karnac, e fomos onde boa parte do grupo sequer chegou perto. Ele até me colocou aos pés de um colosso para foto! Nem sei se podia fazer isso, mas já que ele estava armado e era do exército, quem sou eu para dizer não? Detalhe: ele quis aparecer em quase todas as fotos. Fazendo sinal de positivo e posando bem juntinho, mostrando todo o seu arsenal. Fez meu pai tirar fotos de nós dois no celular dele. Aiai...

De volta ao ônibus, tomamos o rumo de Safaga, de volta ao navio. Conforme o sol se punha, o pessoal do grupo começou a pensar no que havíamos feito. E no risco que havíamos corrido. Para terem uma ideia, para entrar no hotel onde almoçamos, haviam detectores de metal. É que alguns hotéis cheios de turistas já foram para os ares graças a atentados suicidas, então já viram...

Felizmente nada, nenhum incidente, aconteceu. Tivemos um dia incrível no Egito, cheio de imagens e histórias que ficarão registradas para sempre na minha memória."
Aguardem, tem mais Egito a caminho!

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