quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Pompeia e epílogo

Último post da viagem faraônica. Ainda preciso escrever sobre Roma, aguardem!

"Olá, amigos!

 Segue um breve relato dos últimos momentos na Itália e o regresso ao Brasil, encerrando, assim, a epopeia de 27 dias de viagem e 7 países visitados.

 Mais uma vez, farei parte do relato como atualização de status, parte em comentários.

Vamos lá?

 Começando por Pompéia!

 Fui à Itália já com essa ideia na cabeça, conhecer Pompeia e o Vesúvio. Sempre sonhei em ver um dos mais espetaculares sítios arqueológicos do mundo, uma cidade congelada no tempo em meio a torrentes de fluxos piroclásticos.

 Caro leitor, sabe o que é um fluxo piroclástico? Se sabe, ótimo! Para quem não sabe, aí vai uma breve explicação: Os fluxos piroclásticos, ou nuvem piroclástica são expelidos por alguns vulcões e consistem, basicamente, de gás quente, cinza e pedras. Podem viajar com velocidade de até 160 km por hora, e numa temperatura que pode atingir até 800 graus Celsius.

Resumindo: o Vesúvio, em poucos minutos, varreu a cidade de Pompeia do mapa. A cidade, soterrada por metros de cinza e pedra, preservou muito da sua arquitetura, das obras de arte, até pichações sobreviveram! A cidade congelou no tempo, não poderia perder isso por nada!

 E não perdi! Hehe...

 Comprei as passagens no EuroStar no dia anterior. Só aí já foi uma epopeia digna dos meus relatos, sabem como é...

 Cheguei, com meu pai e minha tia, à estação Termini, procurando informações. Quase que imediatamente, chega um senhor perguntando: “Pompei”? Eu digo sim, e ele tenta, a todo custo, me vender um pacote turístico para lá, de ônibus. Pelo preço que me dá, sei que fica mais barato ir de trem, mesmo o de alta velocidade. Afinal, ônibus a gente acha em qualquer lugar, mas trens assim, não! Queria experimentar o EuroStar, já andei no Acela Express da Amtrak nos EUA e adorei a experiência. É uma delícia viajar de trem!

 O sujeito, contudo, era persistente... tive que ser bem direta, falando um misto de inglês/italiano/espanhol/”ôrra meu” paulistano: “Seguinte, eu quero ir de trem. Seu pacote tem isso? Não? Então VAZA!

 Primeiro obstáculo superado, agora tínhamos que comprar a passagem. Os guichês “fast ticket” são relativamente simples de usar, mas de cara não reparei que nem todos os guichês aceitavam dinheiro e, na primeira tentativa, acabei simulando a compra em um que só aceitava pagamento em cartão. Cancelei tudo e, antes que pudesse fazer algo, lá vem outra pessoa “prestativa” me ajudar. Indicou a máquina certa e depois pediu um “cafezinho”... vá lá, dei umas moedas e coloquei as passagens na bolsa.

 No dia seguinte, eu e meu pai fomos para o “binario”, a plataforma do “treno”. Embarcamos em um vagão super confortável e, no horário marcado, partimos em direção a Nápoles.

No caminho, uma bem vinda mudança de paisagem. Por dias, só via desertos e desolação. Agora, muito verde, plantações, animais. Que delícia!

 A viagem, que deveria levar apenas 1 hora e 10 minutos, levou quase 30 minutos a mais. O motivo: uma manifestação, sei lá aonde, bloqueava a linha, e tivemos que fazer um desvio. Bom, viagens minhas têm dessas coisas!

 Ao chegarmos a Nápoles, fomos atrás do trem para Pompeia. Eu, na minha ingenuidade, pensei: dê-me o mapa do metrô que eu chego a qualquer lugar!!

 A questão era: que mapa?

Mapa nada! O negócio por lá é bem diferente! Tínhamos 2 plataformas, o de ida e o de volta. Vários trens paravam no mesmo lugar, mas cada um ia para uma rota diferente. Como descobrir a minha? Consultando o calendário de “partidas” da estação. Abaixo de cada hora cheia, o nome das linhas e as estações que serviam. Descobri que teria que pegar o trem de nome “Salerno”, às 11:18, que me deixaria em Pompeia. Mas como saber se estou embarcando no trem certo?

 Como dizem, “quem tem boca vai a Roma”, certo? Perguntava, com meu parco italiano, “treno para Pompei” ou algo assim, e o condutor do trem estacionado no momento me dizia “o próximo”. Tá. Perguntava para o trem seguinte, a resposta era a mesma: o próximo. E assim foi mais uma vez, mais duas. E eu comecei a ficar mais confusa do que já sou. Afinal, como vou saber em qual trem embarcar?

 Aí eu decidi olhar para cima... e vi, bem na minha cara, o aviso eletrônico que dava todos os dados do trem estacionado. Mico total! Descobri que meu trem estava atrasado 21 minutos, então era só esperar que aparecesse o trem com o nome “Salerno”, embarcar e esperar até a chegada a Pompeia.

Nem perguntei mais. Quando chegou o trem correto, embarcamos. Trem sujo, mal cuidado, mas andava. O problema é que eu sentei ao lado de um senhor que insistia em conversar comigo, em italiano. Nada contra, mas o cara fedia tanto, mas tanto, que estava difícil aguentar. Sabe aquele cheiro de “velho embolorado”? Então, por aí. Infelizmente, por causa da minha coluna, não podia abrir mão de ficar sentada, pois teria uma caminhada longa pela frente e qualquer oportunidade para relaxar as costas não poderia ser desperdiçada.

 Após umas 6 estações, desembarcamos em Pompeia. Clima de cidadezinha do interior. Pouca gente, poucas casas, trânsito light. Perguntamos a direção do “scavi”, a escavação, e tivemos a informação: 2 km de caminhada, em linha reta.

Decidimos ir à pé. Detalhe: meu pai carregando, no pescoço, uma pesada máquina fotográfica profissional. Coitado, acabou o dia corcunda!

 Antes de chegarmos ao sítio arqueológico, uma parada no mercado local para almoço, um Carrefour! Compramos lanches e suco, e nos sentamos no estacionamento, no melhor estilo “farofeiro”, para almoçarmos. Mas nem aí temos sossego: chegou um cidadão, copo à mão, pedindo um gole do nosso suco! Ah, vá!

 Comemos, bebemos, e fomos para as ruínas. Compramos a entrada e lá fomos nós rumo à visita, sem guia (nenhum disponível) e sem mapa, tinha acabado! Pensei: e agora, o que eu faço? Estou perdida aqui, sem saber para onde ir!

 Mas sabem como é, brasileiro consegue se virar, certo? Foi o que fizemos.

 Para conseguir o mapa, foi um golpe de sorte. Pensava em como abordar alguém para pedir, “pelamordedeus”, que compartilhasse um mapa conosco. Nem foi preciso! Uma dupla de americanas puxou conversa comigo e eu disse “estamos perdidos, o mapa acabou na bilheteria etc. etc” e uma delas, na hora, disse “pegue o meu mapa, não vou precisar mais”! Yess!

 Agora poderíamos nos localizar. Se as ruas de Pompeia fossem razoavelmente sinalizadas, claro. Fiquei perdida no início mas, contando quarteirões, já sabia com exatidão onde estávamos.

 Agora só faltava o guia. Aí entrou a boa e velha cara de pau em ação! Assim que passava um grupo por nós com um guia falando inglês, eu dizia para o meu pai: “vamos atrás”! Disfarçando, disfarçando, seguimos vários grupos. Eu ouvia os relatos e passava para o meu pai, que me seguia, diligentemente, arrastando aquela máquina pesada pelas ruas da cidade. Foi graças a um guia, por exemplo, que descobrimos a rota para o “lupanar”, ou “casa da luz vermelha”, ou, como é mais conhecido por nós, o puteiro. Ele nos chamou a atenção para a rua. Acreditem, pênis esculpidos no chão apontavam, como setas, a direção do lupanar! Eita, povo criativo!

Rodamos toda a cidade. Visitamos cada ruela, cada casa aberta à visitação. Vimos os moldes das pessoas mortas, paralisadas no tempo, em agonia, no momento da erupção. Inúmeras ânforas preservadas, mosaicos belíssimos, afrescos nas paredes. E o anfiteatro? Enorme, e demos sorte de visitá-lo sozinhos! Testamos o eco, tiramos fotos sensacionais!

Creio que passamos quase 6 horas andando por lá. Pausas estratégicas para banheiro e um lanchinho básico no próprio sítio arqueológico, próximo ao forum. O dia estava ensolarado, belíssimo, céu azul... e ao fundo, aquele vulcão adormecido, o Vesúvio. Não tínhamos tempo de visitá-lo mais de perto, mas olhei aquela montanha com um respeito enorme. Até onde sei, e corrijam-me se estiver errada, o vulcão ainda está ativo. Sua grande câmara de magma subterrânea está se enchendo aos poucos. Um dia, num futuro talvez não tão distante, a história poderá se repetir. Escavarão Pompeia de novo? A área original ou mais além? Difícil de dizer, e de entender, as pessoas que moram perto de um vulcão ativo. Quando estava no navio, rumo a Roma, passamos por vários vulcões assim, inclusive o Etna. De um dos vulcões, via-se uma fumacinha saindo da cratera lá no topo, e uma porção de gente (doida) morando em casinhas no nível do mar. Haja sangue frio!!

 Exaustos ao fim do dia, voltamos para a estação de trem de Pompeia e esperamos o que nos levaria à estação Piazza Garibaldi, que fica junto à estação Napoli Centrale, dos trens expressos. Chá de cadeira desta vez, quase 40 minutos de espera. Sem problemas para achar a linha, contudo. Depois do baile da ida, a volta foi moleza. E acreditem, acabei prestando informações para duas italianas que estavam perdidas, querendo chegar à Napoli Centrale!

Já na Piazza Garibaldi, corremos para antecipar a nossa volta. Chegamos uns 50 minutos mais cedo, e conseguimos pegar o anterior, pagando uma diferença de preço. Só que acabamos em vagões diferentes. Sabem aqueles do Expresso de Hogwarts, com três bancos de frente para outros três, com porta independente? Fomos num desses, na primeira parte da viagem. Muita gente em pé em volta, nos corredores. Desconfio que aquela era a classe “pau de arara”, mas o que importava era que estávamos a caminho de Roma, e da nossa cama!

Sentamos em lugares aleatórios. Contudo, numa das paradas, a dona do meu lugar apareceu e, claro, quis sentar junto da sua amiga. E lá fui eu perambular pelo trem, em busca de um lugar para sentar, enquanto o meu pai ficava por lá, testemunhando a garota recém chegada devorar um gigantesco sanduíche de presunto sem o menor pudor, o que deixaria o Chaves nas alturas!

Sem maiores incidentes, chegamos a Roma e ao hotel. Tirado o tênis, descobri a maior bolha da viagem. Pompeia deixou uma marca indelével no meu pezinho, que ainda não se recuperou totalmente. Mas que valeu a pena, valeu!

Dia seguinte, hora de arrumar as malas, fazer o check out e seguir para o último giro na cidade. Meu pai foi às compras, comprou até camisa de seda! Eu emprestei dinheiro a ele, não queria comprar mais nada. Chega. Estou com aversão à gastança. Fiquei tão chocada com a miséria que vi no Egito que cheguei à seguinte conclusão: sou uma pessoa fútil, que gasta demais e reclama sem ter motivo. Isso me fez repensar muita coisa. Decidi, por exemplo, não ir mais trabalhar de carro. Menos stress, mais qualidade de vida, mais livros lidos durante o mês. No lugar de pagar estacionamento, vou viajar. Quer seja com a galera da bike, ou para outros lugares, quero curtir mais a vida, fazendo o que realmente vale a pena. Deixe que o motorista de ônibus se preocupe com o trânsito!"
E realmente, depois dessa viagem, eu aposentei o meu carro. Agora eu só dirijo para passear, ou levar a minha bike para algum pedal. Que sossego não ter mais que dirigir nesse caos!
A partir de agora, vêm os causos do dia-a-dia. Poucas ou nenhuma foto, mas a diversão sempre estará presente!
Abraços a todos!

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