quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Enfim, Brasília!

Causo de 15/10, escrito por um "bagulho no bumba":

Amigos, o texto hoje é sobre viagem! É o relato da epopeia para fazer uma prova em Brasília. E, como toda viagem, está recheada de causos!

 Bóra rir?

Bom, a primeira piada da viagem, foi o meio de transporte: bumba de SP a Brasília! E pq? Ah, eu "gôstcho" de sofrer! Mas falando serio, houve mudança na data da prova e não conseguimos remarcar as passagens aéreas que já estavam compradas. Tivemos que pedir reembolso e comprar a passagem de ônibus. Detalhe: convencional.

A viagem seria muito, muito longa!

 E foi mesmo, cerca de 15 horas!

 Já saímos com uma hora de atraso de SP. Eu e minha companheira de aventura, Priscila, já estávamos esparramadas no chão antes mesmo do embarque. Sabem como é gente velha, não aguenta muito tempo em pé! Mas a poltrona do ônibus era surpreendentemente confortável! Aí entrou o psicólogo: encarei a viagem como se fosse um voo a San Francisco na classe executiva! Ficou muito mais fácil encarar a distância.

Levei livro para ler, mas nem cheguei a pegá-lo. A Pri levou um verdadeiro acervo de textos, livros e videoaulas. Aí decidi estudar um pouco do regimento interno da Câmara dos Deputados. Ela me emprestou um resumo que, de tão resumido, só tinha menção a siglas! Algumas eu conhecia, como LDO (lei de diretrizes orçamentárias). Mas outras... Parecia conversa de segurança de Shopping pelo walkie-talkie. Era tanto QRV positivo/operante que a leitura ficou perto do indecifrável.

Pensando na dificuldade em entender o texto eu me lembrei da história da Pedra da Roseta, do trabalho de Champollion para decifrar os hierógrafos, da visita que fiz ao Museu Britânico onde a Pedra está exposta, da minha viagem ao Egito... Enfim, viajei na batatinha e deixei o regimento pra lá.

O ônibus era pinga-pinga. Ia parando em tudo o que era aldeia. E em quase todas as paragens, um passageiro dava piti!

 Esse eu fiquei com dó, "pero no mutcho". Ele comprou a passagem para usar o assento de número X. O problema é que sempre tinha passageiro novo embarcando com o mesmo número de assento escrito na passagem! Cada vez mais ele ficava revoltado com o motorista: chamou a companhia de incompetente, desorganizada, que não iria trocar de lugar, que ele comprou a passagem na rodoviária e não deveria estar tendo esse tipo de problema... O motorista ficou tão irritado que dirigiu boa parte do trajeto espumando de raiva.

 Das paradas, a única digna de nota foi a última, na cidade de Catalão. Chegamos lá por volta das 3 da manhã, e a "rodoviária" estava fervendo! Moças de short minúsculo e salto agulha dançavam ao som de forró. Os homens conversavam, bebiam e apreciavam a "fauna" feminina.

Decidi comprar uma garrafa de água com gás bem gelada, o tempo estava abafado. Na hora de marcar o produto na comanda, a atendente pergunta:

Ela: Quer água normal ou com gás?

 Eu: com gás

 Ela: Tem certeza?

 Aí comecei a pensar que estava no Show do Milhão: tô em dúvida, Silvio!

 Mas respondi: é com gás mesmo!

 Fui para a fila do caixa, garrafa à mão e comanda preenchida.

A pergunta da caixa: você quer água com gás ou sem gás?

 Posso pular essa questão, Silvio?

 Hehe...

 Consegui comprar a água, com gás, e voltei para ônibus.

Acordei quando já estávamos quase na rodoviária. E quem estava esperando por nós?

 Quem? Quem?

 A minha amiga, colega de ginásio, sumida há mais de duas décadas, Gracyellen!

 Quando eu disse a ela que passaria o final de semana em Brasília, fez questão de ir me ver! Passou o dia inteiro me paparicando, me levando para passear, comer e fazer compras!

 Coitada, pagou todos os pecados terrenos de uma só vez! Hehe...

 Deixamos a Pri no hotel. Ela estava super focada no concurso, queria passar o dia estudando. Eu, como não podia fazer mais nada àquela altura, fui curtir a minha amiga e a cidade!

 Conheci o Itamaraty, numa visita guiada de encher os olhos. Pelas obras de arte, claro, pq a Grace sabia muito mais do que a guia do tour nos falava. Mobiliário da época do império, salões nobres, quadros de Pedro Américo, Portinari, Di Cavalcanti... Esculturas, jadins de Burle Marx, tapetes persas. Tinha até biombo chinês do séc. XIV!


 Após o passeio cultural, hora da churrascaria! Convite do Marcos, marido da Grace. Simpatia em pessoa, muito falante e exímio conhecedor da política nacional pelo viés sarcástico. Bem sarcástico!

 Estávamos passeando à tarde quando recebo um telefonema. Mais um amigo estava em Brasília: Ronaldo! O sujeito mora no meu bairro e não o vejo, mas em Brasília, encontrá-lo foi moleza! Avistei o figurino "pinguim de geladeira" dele de imediato. Só mesmo um forasteiro para fazer turismo no calor de Brasília vestindo terno escuro! Desidratei só de olhar...

 Com mais uma companhia de passeio, lá fomos nós três "bater perna" na praça dos três poderes. A cereja do bolo: um tour guiado pelo Congresso Nacional!

 Foi uma visita "relax" em termos de segurança Só as bolsas no raio X e detector de metais. Quando visitei o Capitólio em Washington, abriram até a minha pasta de dente para ver o que realmente era. Na ocasião, tive que dar um sorriso "colgate" para mostrar o meu aparelho fixo e falar: eu preciso disso, pô!

 Conhecemos os principais salões do Congresso, os plenários da Câmara e do Senado, o salão verde, palco predileto do CQC na cidade, gabinete do presidente da Câmara, o "túnel do tempo" que dá acesso às inúmeras salas de comissão, gabinetes de deputados e assim por diante.

É bem interessante conhecer a capital do seu país. Sua vida é praticamente toda decidida aqui!

 A Grace também nos levou a um lugar inusitado: a sede nacional da Legião da Boa Vontade. O templo é em formato piramidal, com 7 lados! No alto e no centro da pirâmide, um cristal com a imagem de Cristo energiza o local. Fizemos a trilha da espiral, fazendo a trilha negra até o centro e, após uma breve parada, fazer o caminho de volta na trilha branca. Não conhecia isso, foi bem interessante poder participar. Aliás, sempre que viajo, gosto de ir a templos e observar os consumes locais. Fiz isso em mesquitas no Egito, igrejas católicas em New Orleans (ah, também vi um pouquinho de vodu) e templos protestantes em New York. Experiência antropológica fascinante!

 Encerramos o dia com um delicioso, maravilhoso e espetacular rodízio de culinária japonesa. Já pus foto de um dos pratos aqui no face, é só dar uma olhada. E ainda comemos à maneira tradicional, sentados no chão, em uma sala privada! Duro foi ter que levantar depois...

Findo o jantar, eu, Ronaldo e Grace nos despedimos. Deixo registrado a minha gratidão pela gentileza, disposição e paciência que a minha querida amiga Grace teve para comigo e, por tabela, com o Ronaldo também! Amiga, quando vier a SP prepare-se para fazer um "update" nas suas referências paulistanas. Eu te levo!

 Quando cheguei ao hotel, encontrei a Priscila fazendo o que? Estudando, claro! De banho tomado e pijaminha, cercada pelo material de estudo e o notebook sintonizado nas video-aulas do cursinho. Ela ia ouvir a aula com fone de ouvido para não me atrapalhar, mas eu pedi para ouvir também. Quem sabe poderia aprender alguma coisa por osmose?

 Comecei a escrever o relato, mas simplesmente desmaiei. Deixei para terminar hoje, contando a vocês toda a epopeia de uma vez só!

 A Priscila estava com todo o gás. Mal conseguia dormir. E pasmem, às 4 da manhã, ela já estava trocada e pronta para ir tomar café, que começava às 6! Levei um susto quando vi aquilo, será que havia perdido a hora? Olhei o relógio, olhei pra ela... E me lembrei daquele filme "A mão que balança o berço". Medo! Hehehe...

 Eu voltei a dormir e só acordei às 6, hora do café. Depois de uma lauta refeição, fizemos o checkout e fomos caçar um taxi. Por que isso? Ora... Todo mundo no hotel era concursando, tinha gente do país inteiro por lá. Ou seja, taxi disputado no tapa!

 Como fizemos tudo muito cedo graças à Priscila/assombração, conseguimos um relativamente fácil.

Fizemos as provas em locais diferentes. Na parte da manhá, 3 horas de prova (conhecimentos gerais) e, ã tarde, 6 (conhecimentos específicos e dissertações). Prova puxada, mas relativamente fácil. Até eu, sem estudar, consegui responder uma parte considerável das questões.

A figura digna de nota foi o fiscal da nossa sala. Fez questão de nos dizer que exercia a "função" há 10 anos. Falou das provas, das colas, dos candidatos desclassificados por estarem de posse de uma borracha. Falou uma, duas, 30 vezes... Parecia um mantra! Achei aquilo um exagero, mas depois vi que não. Um sujeito foi desclassificado por estar portando um pendrive na hora que foi usar o banheiro. Tinha detector de metais! O sujeito tinha esquecido o negócio no bolso, mas não teve jeito, foi desclassificado.

No intervalo, a única coisa que tinha pra comer era hot dog. Daqueles "Jesus Chama", mas encarei, não tinha opção!

Na prova da tarde, respondi todas as questões em uma hora e meia. Para levar o caderno de provas, teria que esperar sentada, sem poder fazer nada, mais quatro horas e meia. Sem chance! Saí da escola, peguei um ônibus e fui para o Shopping, em busca de ar condicionado e algo para fazer. Comi bola, deveria ter ido ao Memorial JK, mas essa ideia não me ocorreu!

Já estava na fila do cinema para comprar ingresso para o filme Ted quando desisti. O filme era dublado!

 Como o Shopping era perto do hotel onde havíamos deixado as malas, voltei andando. Na saída do Shopping, fui perseguida por um mendigo muito persistente. Ele queria 50 centavos de mim de qualquer jeito. E eu, claro, não queria dar, muito menos abrir a bolsa perto do sujeito. Apertei o passo, e ele também. Comecei a ziguezaguear, ele também. Até que eu torci o pé... E ele não. O cara é mendigo, não tapado!

Fiquei "arrastando corrente" por um tempo nas ruas de Brasília, a torcida do pé foi considerável. Tudo o que eu queria era chegar ao hotel, sentar numa poltrona confortável, carregar o celular (olha o vício!) e relaxar. Só que a minha bússola interior me levou a caminhar para o lado errado! Bom, não foi só culpa minha, o taxista que me levou até ao Shopping havia me apontado a direção errada... Ou entendi errado mesmo, fazer o quê! Tinha que perguntar pra alguém a direção certa, mas me deu um branco total: esqueci o nome do meu hotel! Felizmente, tinha um resquício de bateria no celular e consegui visualizar o checkout feito pela manhã no facebook. Salvou minha pele!

 Logo depois que cheguei ao hotel, a Priscila também deu o ar da graça. Ela foi atrás de comida, eu fiquei curtindo meu pé torcido e carregando o celular. Que praga, IPhone é celular com fio!

 Enquanto aguardávamos o horário do retorno do nosso ônibus, eu e Pri jogamos conversa fora. E eu acabei me jogando fora também! Não sei como, mas levei um tombo espetacularmente silencioso no hall de entrada do hotel! Sabe como é cadeira de designer, bonitinha mas ordinária. Juntou a cadeira instável com a usuária atrapalhada e pronto, tombo à vista! Felizmente tinha carpete, então a queda foi silenciosa, nem chegou a chamar a atenção das outras pessoas. Claro que a Pri se esborrachou de rir, né?

Fomos atrás de um taxi para a rodoviária. Encontramos um motorista bufando de raiva! E por que? O sujeito havia sido abordado por uma mulher querendo uma corrida para atravessar a rua! Literalmente, era só isso! Mas pra que pegar um taxi, então? Ah, a coitadinha estava morrendo de medo do escuro... Ah, vá! Se ainda estivesse de muletas...

 Chegamos à rodoviária bem rápido. Apesar dos inúmeros "pardais" espalhados pela cidade, os motoristas de Brasília dirigem feito doidos: pisam fundo, saem da pista expressa sem avisarem... Nosso taxi foi jogado para a via local por um doido que saiu da faixa da esquerda e simplesmente decidiu entrar á direita! Um motorista desses em SP já teria levado bala na cabeça!

 Chegando à rodoviária, reparei na arquitetura do lugar. Parece uma estrutura para erguer lona de circo. Mas sabem quando o trabalho fica incompleto? Só a estrutura, sem a lona? Disse isso ao motorista, que se acabou de rir! Mesmo pq o lugar realmente é uma piada. O motorista não consegue simplesmente sair da avenida e seguir para a rodoviária. É necessário fazer um caminho de rato, por dentro para se chegar lá. O projetista daquele lugar merece umas belas bordoadas!

Fim da epopeia: dois bagulhos embarcam no bumba com destino a SP. Termino o relato ainda no ônibus, quase chegando em Uberlândia. Priscila dorme ao meu lado, com a graça e a leveza de um bebum. Do meu lado, escrevo no ônibus sacolejante, tentando manter o café da manhã, ingerido em 5 minutos, dentro do estômago.

Volto para casa com amigos revistos, lugares visitados e uma certeza: é uma delícia sair da rotina!

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