quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Eleições 2012 - Primeiro Turno

Causo de 07/10:


Pessoal, hora do causo!

 Tema: eleições!

 Pela quarta vez, trabalhei como mesária, e sempre como voluntária. Poderia dizer que é somente pelo compromisso cívico, que é importante participar, blá blá blá blá Whiskas Sachê. Claro, tem essa parte também. Eu realmente gosto de trabalhar nas eleições! Mas o principal motivo é o seguinte: consigo compensar os dias trabalhados como mesária. Sabe aquelas emendas de feriado? Então, consigo dar uma espichadinha nas folgas!

 A mesa de recepção de justificativas não é a moleza das zonas eleitorais, o trabalho é sempre bem puxado. Explico: temos que preencher os comprovantes de justificativa à mão. Todos eles! Isso implica em escrever o nome do eleitor (2 vezes), o nome da mãe, o número do título (2 vezes), o ano da eleição e o turno (2 vezes), a unidade da federação do votante e da justificativa, a zona e a seção. Isso, centenas de vezes! Se não estou enganada, hoje fizemos cerca de 350 justificativas. Imagina escrever tanto com as canetas “deficitárias” que a justiça eleitoral fornece aos mesários? É por isso que o causo de hoje não vai ser tão longo, o pulso da mão direita está prejudicado!

 Chegamos cedo para trabalhar, às 7 da manhã. Urna montada, emitimos a zerésima (comprovante de que a urna está “zerada”, ou seja, sem registros), começamos a preencher a ata, assinamos os termos e por aí vai. Tivemos tempo, antes da abertura oficial dos trabalhos, de papear com os colegas da seção. Não há muita variação no elenco de uma eleição para outra, então é um encontro marcado para colocarmos os assuntos em dia. Eu, para variar, atualizei os colegas sobre as minhas viagens!

 Às 8h, os portões abriram e aconteceu o “estouro da boiada”. O pessoal que chegou cedo sai correndo para voltar primeiro. Não sei se é pelo prazer de ser o primeiro em alguma coisa ou se tem outra razão embutida. Não consigo imaginar o porquê de uma pessoa chegar para voltar antes das 7 da manhã, sendo que o portão só abre às 8. Acreditem, nessa hora já tinha gente formando fila na porta da escola!

E esse pessoal insone/lunático/desocupado não vai até à seção caminhando. Vai correndo! A primeira senhora que cruzou os portões, uma idosa de longos cabelos grisalhos, parecia estar competindo nos 100 metros rasos. Ainda bem que não tinha nenhum obstáculo no caminho, ou iria virar uma corrida com barreiras! E pela disposição da mulher, ela iria saltar o que quer que fosse sem problemas. Mesmo que fosse uma pessoa...

 Também logo cedo começam a chegar os eleitores para justificar a ausência. Ou, como alguns dizem, estão lá para “justificar o título”. Um colega de mesa perguntou: “ué, mas o que o seu título fez que precise de justificativa?”

 Alguns trazem os documentos em ordem, título e RG em bom estado. A maioria, contudo, armazena os documentos como se fossem aqueles famigerados “Lenços Presidente”, bem dobradinhos, e guardados sujos! Alguns eu tinha até nojo de por a mão. Já vi papel higiênico usado em melhor estado!

 Por exemplo: uma moça foi justificar com o título remendado com durex. Pelo que vi, o documento havia se partido ao meio e ela, se valendo das aulas de educação artística do pré primário, fez uma colagem, tentando unir os pedaços. Mas foi mal sucedida na empreitada, já que os números, especialmente o bem no meio do rasgo, estavam ilegíveis. A criatura só pensava em justificar o voto, e deu risada quando comentamos o estado do documento. Tive que dizer a ela em alto em bom som: “eu teria vergonha de apresentar um documento nesse estado”! A reação da mulher? Riu! Bom, qualquer reação diferente dessa eu estaria pedindo demais!

Mesmo assim ela conseguiu justificar, e sabem como? A presidente da mesa, munida de uma paciência de Jó e um celular 3G, entrou no site do TSE e pesquisou o número do título, digitando os dados da mulher. Vocês podem me achar mesquinha, mas eu é que não iria ficar gastando meu pacote de dados de internet (que, por sinal é bem carinho) para que uma criatura dessas conseguisse justificar o voto. Por mim, ela que se virasse, ou na internet em algum lugar, ou no cartório eleitoral. É muito desleixo, pô!

 Mas isso é só o começo. E o pessoal que vota em SP, mas quer justificar o voto... em SP? Pois é... tem gente que está na zona oeste, vota na PQP e não quer ter o trabalho de ir até lá. Aí aparece na seção de justificação dizendo: “eu voto muito longe...”, no que eu respondo: “E o Kiko?” Ter o trabalho de ir ao cartório eleitoral para alterar a zona, ninguém quer. Se bobear, querem ser carregados no colo, numa liteira, até a urna de votação. Ah, vá! No máximo, eu digo: “Osasco é aqui pertinho, vai lá e justifica!”

 Tem muita gente educada que vai justificar o voto. É a maioria. Mas a minoria cavalgadura gosta de caprichar! Eis o caso da eleitora que, votante em Brasília, foi justificar a ausência na eleição de prefeito.

Bom, para quem não sabe, Brasília, vulgo Olimpo, não tem prefeito! O governador acumula as funções de prefeito e, os deputados, as dos vereadores. Isso ocorre porque, segundo a Constituição, o Distrito Federal é uma unidade da Federação, sendo ao mesmo tempo Estado e Município.

Então, pensem comigo: se a eleição é só para prefeito, e Brasília não tem prefeito, então não tem eleição em Brasília para esse cargo. Logo, não há motivo para justificar o voto, certo?

 Errado!

 A mulher, eleitora de Brasília, falou desse jeito: “eu sempre justifiquei, quero justificar, meu marido mandou e ponto final”. Ainda tentei argumentar que na cidade dela não tem prefeito. Adiantou? Necas! Então eu disse: “é mais fácil fazer a sua justificativa do que tenta fazer com que você entenda alguma coisa.” A mulher só sorriu. Acho que na cabeça dela, estava pensando: “ah, dobrei essa mulher chata e vou justificar, eu sou demais!”

 Há muito tempo aprendi uma valiosa lição: não devemos jogar pérolas aos porcos! Acho que vou mandar entalhar essa frase em mármore e vou deixar exposta lá no balcão do segundo turno...

 Mas Brasília não ficou só nisso. Teve outra cavalgadura que deu uma bronca em uma colega mesária. O “pecado mortal” da mulher: perguntar em qual Estado da federação ficava Brasília.

Bom, tudo bem que foi uma pergunta bem ignorante... mas precisa responder dando coice? O sujeito respondeu: “Brasília é Distrito Federal! Gente ignorante, aposto que sabe qual é a capital dos Estados Unidos, mas as coisas do Brasil não sabe!”

Ah, se ele tivesse falado isso pra mim, ou se eu tivesse visto... ia perder o rumo de casa em magnífico estilo! Porque o bocó também não sabe que na cidade dele não tem prefeito, né, “sumidade da geopolítica”?

 Teve outro eleitor que saiu aos berros da mesa de justificativa. E por que? Levou o documento com foto, mas não o título. Dá para votar só com esse documento, mas para justificar, precisamos do número do título. É digitando esse número na urna eletrônica que registramos a justificativa, e o pessoal confunde justificativa com o ato de votar. Quando soube que que não poderia justificar por não ter o número do título, o sujeito bradou: “não quero mais saber, não vou votar e não vou justificar blá blá blá...”

 Minha resposta: “E o Kiko?”

 Não sei se algum cientista social já fez algo nesse sentido, mas a mesa de justificativa é um tremendo laboratório antropológico e político. Um psiquiatra também iria se divertir observando os tipos que passam por lá. Como a acompanhante de um sujeito que acabara de votar. Votou no Russomanno e num vereador específico, porque “o pastor da igreja mandou”. Gente, não é brincadeira. Isso é voto de cabresto. Assim, na cara dura!

Por isso tenho tanto receio de partidos e candidatos que estejam intrinsicamente ligados a grupos religiosos. O fanatismo se transforma em “massa de manobra” nas mãos de gente inescrupulosa. Parece que os fiéis sofrem lobotomia, não sei... realmente terrível!

 Outro tipo de eleitor que se faz notável é o analfabeto funcional. Logo na entrada da escola, lia-se num cartaz gigantesco a seguinte palavra: “Informações”. Ao lado, mesas e servidores a postos para os esclarecimentos. E onde os bocós paravam para pedir informações? Na mesa ao fundo, ao lado da placa “Justificativa”!

 Pior ainda: o sujeito votava naquela escola e ia para a mesa de justificativa. Isso porque dá muito trabalho olhar para as paredes e seguir a sinalização, que apontava claramente a localização das seções eleitorais.

Ainda na seção “analfabetos funcionais”: na ficha de justificativa, tem um campo onde se lê “assinatura”. Não precisa de maiores explicações, certo? Ledo engano! Eu apontava para o campo e dizia: “por favor, assine aqui”, e o sujeito perguntava: “assinatura ou nome completo?”

 Dãaaaa!!!

Só faltava alguém dizer: “tô em dúvida, Silvio!”

Ah, e como posso me esquecer dos bêbados? Hoje teve apenas um notório, desses que dá pra sentir de longe (uns bons metros de distância), o bafo de pinga. Eram 9 horas da manhã e o sujeito já naquele estado. E acompanhado do filho, uma criança. Fico pensando no exemplo que esse garoto tem da figura paterna, e fico com pena... que futuro alguém pode ter com esse tipo de estímulo em casa?

 E não tive pena só do garotinho. Como sempre, tem os analfabetos (os reais) que, para justificar, precisam carimbar o polegar em um papel. Muito triste isso, não saber escrever, não conhecer seu idioma, não ter autonomia para ler, se comunicar de forma inteligível. Ou aqueles que, claramente, só sabem desenhar o nome. Eles assinavam bem na minha frente, e eu observava: escreviam devagar, como se tivessem decorado um traçado específico, tentando escrever o nome e, sem querer, “assinando” um garrancho ininteligível...

Tá aí, não vi os candidatos tocarem o assunto da alfabetização para adultos. Considero muito importante. Vou prestar atenção às promessas de campanha para o segundo turno. Alguém pensa em fazer algo a respeito?

 Felizmente, não tivemos maiores problemas. Eu, como “secretina” da seção, fiquei responsável pelo preenchimento da ata. Nada de ocorrências, mas foi por pouco. E agora digo o porquê.

 Todo mundo sabe, e eu sou prova viva disso, que muito servidor público trabalha visando ganhar as folgas da eleição para tirar no trabalho. Até aí, sem problemas, é o que a lei eleitoral permite. O duro é quando um mesário, que é servidor público, se oferece para trabalhar na eleição e ainda por cima faz corpo mole.

Teve um caso desses na nossa seção. A criatura só se movia à base do “impulso inercial” (é isso? Faz tempo que estudei física). Se ninguém empurra, não se mexe. E, ainda por cima, ficava desviando o serviço para os outros colegas! Ao invés de preencher a papelada do eleitor, indicava a minha mesa e a dos outros. Na maior cara de pau. Até que um colega se manifestou: “você é voluntária, eu estou aqui obrigado. Então trata de trabalhar como todos nós aqui!”

 Eu perdi essa, teria batido palmas!

 É gente assim, folgada, encostada, que denigre a imagem do servidor público. Parece que só faz algo para tirar vantagem, e acho isso simplesmente detestável. Infelizmente, tem muita gente por aí agindo dessa forma...

 Ah, e a pessoa fez quase 2 horas de almoço! Falei para a presidente: “bota na ata!” Ela ficou tentada a fazer isso mas, no fim, o transtorno não compensaria. A pessoa já vai se aposentar e, em breve, já vai “pedir pra sair, 02!”

 De resto, a eleição foi tranquila. Encerramos nossos trabalhos, devolvemos a urna à Justiça Eleitoral e fomos para casa, aguardando realização do segundo turno. Felizmente, sem a presença do cínico do Russomanno! Yess!!


 Boa noite, pessoal!

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